segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Che - parte 2 - Um bom recomeço

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Benicio Del Toro, como Che.


por Rosane Pavan


Uma novidade corre solta no cinema americano.

Ela está contida em Che 2, que estreia na sexta 18, e em Che, a primeira parte da obra, exibida no Brasil em março. Ambos os filmes de Steven Soderbergh, produzidos e protagonizados por um corajoso e dedicado Benicio del Toro, buscam o cinema que se fazia antes e se orgulham dele, enquanto o atualizam.

Os dois filmes fogem dos efeitos computadorizados, das granulações, da fotografia amarelada e do balouçar da câmera-bebê, itens marcantes dos filmes de arte destes tempos, na verdade subdramas da televisão, sem seu ocasional humor. Filmes como esses dois, sobre a trajetória do revolucionário cubano Che Guevara, arquirrival nas terras norte-americanas, não transformam a precariedade em um padrão a ser subliminarmente seguido pela indústria cinematográfica. O diretor sabe o que quer dizer e diz.

Neste Che 2, tudo almeja ao verdadeiro, quase saído de uma batalha em campo de um filme sem tempo, como acontece no cinema de Amos Gitai. Claro está que Soderbergh se adapta a um ritmo hollywoodiano heroico e biográfico, maquia o protagonista e lhe põe perucas, citando cada vez mais longinquamente, deste modo, o cineasta israelense, mas assim caminha sua natureza de entertainer ao compor uma narrativa. O importante é que o diretor não recusa a integridade ao filmar. Quando um trem tomba em Che, ele o faz sem a companhia de efeitos especiais, grafismos, cortes rápidos de uma metralhadora disparada a esmo, ecos sonoros e todas as grandiloquências. Simplesmente cai.

E é curioso como Soderbergh cita Clint Eastwood, atualizando Dirty Harry e fazendo de Che um sujeito durão mas altruísta, politicamente correto, justo, impossível na vida, forte na tela grande. Sem qualquer tentação macunaímica, o herói segue curando as feridas do campesinato, dá-lhe dinheiro, avalia-o enganosamente, pragueja sem julgá-lo. Por fim, Che, como se espera de um Harry, cospe no traidor.

Neste segundo filme, Ernesto Che Guevara está na Bolívia, por escolha própria como Ramón, sem contestar o papel de Fidel Castro em seu isolamento, lutando sinceramente pela revolução internacional, pregando aos combatentes que, em todo caso, devem se imaginar mortos. O filme baseia-se nos diários de Che. E, mesmo quando o fim do herói se aproxima, a tensão mal nos prepara para um final seco, em meio à floresta que não é feita só dos verdes sem nuance das guerrilhas cinematográficas, mas de cores vivas e inesperadas que podem ter enchido os olhos dos últimos combatentes.

Fonte: Carta Capital

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