segunda-feira, 16 de junho de 2008

Para que a Colômbia deixe de sangrar

por Emir Sader

Em um emocionante artigo publicado no dia 8 de junho, Orlando Fals Borda, o decano do pensamento social colombiano, fez um apelo para que a Colômbia não se resigne a conviver com a violência. Pergunta-se ele até quando seus compatriotas se manterão como que acostumados com o terrível quadro de violência, de guerra, de massacres, de mortes.

No mesmo dia, o presidente venezuelano Hugo Chávez, no seu programa “Alô Presidente”, fez um apelo e lançou uma iniciativa política que pode convergir com a preocupação humanitária de Fals Borda. Chávez se dirigiu às Farc, argumentando que a via armada não tem viabilidade neste momento na América Latina, fazendo com que termine sendo um pretexto para os que desejam a perpetuação da violência – Uribe e o governo dos EUA, entre outros – possam seguir com suas políticas de guerra e de provocações com outros países da área.

Baseado nesses argumentos, o presidente venezuelano, em uma demonstração clara de ser um adepto incondicional das soluções políticas e pacíficas para o conflito colombiano, apela às Farc para que libertem de forma incondicional a todos os reféns que ainda seguem em suas mãos. Seria um gesto humanitário, de afirmação da vontade de uma solução política para o conflito colombiano. Para o que Hugo Chávez se compromete a organizar as condições internacionais para concretizar, finalmentem, a paz na Colômbia. Uma semana depois, o presidente equatoriano, Rafael Correa, tomou posição na mesma direção.

Ter na Colômbia um dos epicentros da “guerra infinita” de Bush representa a maior ferida que tem o continente, que sangra há mais de seis décadas. O povo colombiano já demonstrou que quer a paz e a única maneira de obtê-la é por meio da negociação política entre as partes do conflito. Qualquer pretexto, qualquer argumento parcial, por mais forte que seja, contribui à perpetuação da guerra e dos infinitos sofrimentos do povo colombiano.

A proposta de Hugo Chavez deve receber o apoio de todos – governos, forças políticas, movimentos sociais, personalidades – que sofrem na e pela Colômbia, de todos os que estão firmemente comprometidos com a superação pacífica da guerra. Este é o momento definitivo para que todos saibam quem efetivamente a quer e os que, ao contrário, se valem da guerra para perpetuar seus interesses e seus postos de poder. Se verá se o presidente Uribe, da Colômbia – como se fala tanto - deseja sabotar qualquer negociação política, como meio para tentar obter uma nova reforma constitucional, que lhe possa propiciar um terceiro mandato presidencial.

Ignácio Ramonet chamava a atenção recentemente no Brasil como a América Latina vive um período extraordinário de desenvolvimento, de justiça e de paz, que é preciso valorizar e consolidar. O único caso de guerra é a Colômbia. O continente necessita paz para que avancem os processos de integração, de contribuição à construção de um mundo multipolar, de colaboração entre os governos e os povos, de complementaridade, de solidariedade.

A louvável iniciativa do presidente Hugo Chavez é uma excelente possibilidade para que demonstremos que somos capazes de fazer triunfar a paz sobre a guerra, da mesma forma que estamos demonstrando que somos capazes de fazer triunfar o desenvolvimento sobre a estagnação, a justiça sobre a exclusão social, a solidariedade sobre os enfrentamentos. Para que a Colômbia possa também se somar a um continente que vive um momento especial de sua história.

Fonte: Blog do Emir Sader
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