sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vestibular: a ideia era boa, quando era minha

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por Luis Nassif

Paulo Renato de Souza foi indicado Secretário da Educação de São Paulo para vocalizar críticas contra qualquer decisão que venha do Ministério da Educação. Faz parte da estratégia de Serra que Paulo Renato torpedeie todas as decisões do MEC e minimize os problemas da educação paulista.

Essa estratégia é bem explicada pela Maria Cristina Fernandes, em seu artigo de hoje no Valor, “Uma locomotiva na cola de Dilma”.

No dia da posse, Paulo Renato começou a cumprir a missão, atacando a idéia do Enen substituir o vestibular pelo ENEM. Como ele é o criador do ENEM, teve essa ideia mas não teve coragem de colocar em prática (recuava em qualquer medida que pudesse provocar reações da Universidade), ficou essa miscelânea, segundo matéria do Estadão:

“O ministro, com boa intenção, está errando”, completou, referindo-se a Fernando Haddad. Segundo Paulo Renato, o Enem foi pensado para orientar uma reforma no antigo colegial. A prova tem 63 questões que avaliam competências e habilidades desenvolvidas ao longo da vida escolar, e não o conteúdo das disciplinas. “Podemos perder esse instrumento importante, é uma pena.”

Então o novo modelo é ruim? Não, pelo que se depreende da continuação da matéria: apenas não foi implementado por ele:

Apesar de preferir que tudo continue como está, ou seja, as universidades fazendo suas próprias provas e apenas usando o Enem como um complemento, Paulo Renato gosta do modelo americano de seleção, no qual o ministério se inspirou. E provoca: “Se eu copiasse os Estados Unidos, seria linchado na rua. Mas eles podem.”

Agora, confira a análise de Maercio Menezes Filho, no Valor, analisando a mudança do vestibular e essa questão mal colocada de se “perder o instrumento ENEM”:

O Ministério de Educação apresentou recentemente uma proposta para alterar o exame nacional de avaliação do ensino médio (Enem). Este exame foi instituído há cerca de dez anos para avaliar a qualidade e balizar reformas educacionais neste ciclo. Segundo a proposta, o novo Enem terá mais conteúdos específicos do que as versões realizadas até agora, que eram mais “generalistas”. Por outro lado, o novo exame não exigirá tanta memorização de informações, como ocorre com os atuais exames vestibulares. O objetivo do MEC é que o novo Enem sirva como principal critério de seleção para ingresso nos cursos de ensino superior no Brasil, mas isto dependerá da adesão das instituições públicas e privadas. Se isto realmente acontecer, quais seriam as consequências para o sistema educacional como um todo?

(…) A figura ao lado, por exemplo, mostra a relação entre as notas no exame vestibular para o Ibmec São Paulo em 2007 e as notas dos mesmos alunos na prova objetiva do Enem daquele ano, para os candidatos que decidiram utilizar a nota do Enem como um dos critérios para ingresso na instituição. Podemos observar que existe uma correlação positiva entre as duas notas (de 0,67), ou seja, que os alunos que tem um bom desempenho no Enem também tendem a ter um bom desempenho no vestibular. Porém, esta associação não é perfeita. Entre os 50 candidatos de melhor desempenho no vestibular na área de economia (que decidiram utilizar a nota do Enem), 16 (32%) não estariam entre os 50 melhores se o processo de seleção fosse baseado unicamente no Enem. No caso do curso de administração, entre os 100 primeiros colocados colocados, 37 não estariam entre os melhores.

Obviamente, estes números dependem do perfil dos alunos de cada instituição, mas a mensagem é clara: a mudança no critério de admissão altera os alunos selecionados. Isto não implica dizer que uma prova é melhor ou pior do que a outra, elas são apenas diferentes. (…)

Mas quais seriam as outras consequências desta mudança? Em primeiro lugar, se várias instituições importantes decidirem realmente substituir seu vestibular pela nota do Enem, os candidatos não precisariam mais fazer várias provas na mesma época, podendo concentrar-se em um único exame, o que seria um avanço. Além disto, o candidato poderá fazer o Enem várias vezes durante o ano e até em diferentes anos, pois as provas serão comparáveis ao longo do tempo, o que tiraria um pouco da pressão que o candidato sofre em um período específico de sua vida e que pode afetar o seu desempenho. Entretanto, algumas instituições poderão usar o Enem apenas como uma primeira fase do vestibular, fazendo um exame específico na segunda fase. Se isto ocorrer, o candidato ainda terá que fazer várias provas em único mês, por exemplo.

Outra vantagem de um exame nacional único é que ele geraria maior mobilidade, pois os candidatos poderão fazer a prova em qualquer lugar do Brasil e aplicar para qualquer instituição pública ou privada.

Com isto, melhorará o processo de “casamento” entre candidatos e instituições, pois os melhores candidatos acabariam nas melhores instituições, o que tende a aumentar a eficiência do sistema. Além disto, as instituições poderão economizar os custos incorridos com a organização e aplicação dos seus exames vestibulares. Quem perderá com isto são os candidatos intermediários dos estados mais pobres, que atualmente podem cursar uma boa universidade no seu estado devido à pouca mobilidade existente, mas que, com a mudança nas regras, perderão esta possibilidade.

Outro fator positivo seria a melhora do currículo do ensino médio, que é claramente direcionado para o ingresso do aluno no ensino superior. Com a mudança no Enem e sua utilização como critério de acesso, os professores poderiam gastar menos tempo ensinando conteúdos específicos e memorização de fórmulas e mais tempo com aplicações dos conteúdos básicos no dia a dia. Isto seria um avanço e está em linha com as avaliações internacionais, mas não implica que a qualidade da educação pública no ensino médio vai melhorar substancialmente. As escolas privadas continuaram à frente das públicas (em média), apenas mudarão seus métodos de ensino. A qualidade da escola pública de ensino médio só melhorará quando a formação dos seus professores melhorar, quando houver incentivos para os melhores professores, quando as famílias dos alunos mais pobres começarem a valorizar a educação e quando estes alunos tiverem acesso a uma pré-escola de qualidade.

Fonte: Luis Nassif Online

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