terça-feira, 28 de abril de 2009

ProUni, quatro anos de sucesso

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por Mauricio Dias

O Programa Universidade para Todos (ProUni), implantado pelo governo Lula em janeiro de 2005, nasceu sob muitas dúvidas. Duas delas. Ninguém sabia ao certo qual seria o resultado do desempenho dos alunos egressos do ensino médio da rede pública, favorecidos por bolsas integrais ou parciais, frequentando cursos de graduação em instituições privadas do ensino superior. Era imprevisível também o efeito de um possível “choque” sociocultural dos estudantes de bom suporte financeiro com esses alunos, cujas famílias têm renda per capita máxima de três salários mínimos. Trata-se da mescla de pobres com ricos.

Não foi preciso muito tempo para perceber os resultados. Em apenas quatro anos de funcionamento, o ProUni produz efeitos extremamente positivos, como ocorre, por exemplo, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul. Os frutos estão sendo colhidos pelos professores do Departamento de Ciências Sociais, conforme relata, com alegre emoção, a professora Márcia Ribeiro Dias.

“Esses alunos do ProUni ingressam na faculdade com muita energia e determinação. Eles têm gerado o que a gente poderia chamar de ciclo virtuoso. Eles contaminam os demais alunos, em geral, desmotivados. As turmas têm melhorado a cada ano. Esse é o sentimento do corpo de professores da área de Ciências Sociais.”

Márcia não tem dúvidas de que esse ciclo virtuoso é muito positivo para as universidades. Ela explica melhor: “Os cursos estão ganhando com a presença dos alunos do ProUni. A motivação deles estabeleceu uma competição acadêmica com os que chegaram às ciências sociais por não terem alcançado pontos suficientes para cursar o que estabeleceram como primeira ou segunda opção. Estavam desmotivados”.

Mas o efeito, como percebe a professora, não é apenas o proporcionado pela motivação. Segundo ela, os alunos (os melhores) vindos do ensino público são “bem informados”.

“Eu percebo isso claramente, desde o início do ProUni. Logo na primeira turma vimos que estávamos com alunos muito bem preparados. Parecerá banal o que vou dizer, mas são alunos que sabem ler e escrever. São capazes de ler e interpretar um texto, além de redigir bem”, pontua Márcia.

Isso não se explica pelo fato de serem alunos pobres. Segundo a professora Márcia Dias, “os alunos com vocação para a área de ciências sociais são aqueles que tiveram algum tipo de estímulo intelectual na família ou, no 2º grau, com um bom professor que orientou a busca dessa literatura”. Ela lembra que a identidade do aluno de Ciências Sociais – “curso de relativa erudição” – não é a daquele aluno “pragmático” que anda atrás de resultados e tem como objetivo imediato o mercado de trabalho.

A própria Márcia, socióloga e com doutorado em Ciência Política, confessa que tinha “certo temor sobre o que iria resultar desse oferecimento de bolsas em universidades privadas”.

O Rio Grande do Sul é um estado bem aquinhoado na distribuição de bolsas. No elenco do ProUni, para o primeiro semestre de 2009, aparece em quarto lugar (tabela das dez unidades da federação com mais ofertas) com quase 6 mil bolsas integrais e mais de 2,2 mil parciais. Mas os números do programa são grandiosos. Para o primeiro semestre de 2009, nos 26 estados e no Distrito Federal, foram oferecidas 156.416 bolsas. Sendo 95.694 integrais e 60.722 mil parciais. Desde a implantação do ProUni, foram distribuídas mais de 500 mil bolsas.

Em linhas gerais, o sistema do Programa Universidade para Todos funciona assim: há um sistema de seleção informatizado e impessoal que dá transparência e segurança ao processo seletivo. Os candidatos são escolhidos pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A filosofia do programa é o de tentar unir a inclusão ao mérito acadêmico.

São impostas cláusulas de desempenho. O estudante não pode repetir nem perder matéria, sob pena de ter a bolsa cancelada.

A mostra no Departamento de Ciências Sociais da PUC-RS é pequena. A visão da professora Márcia Dias é, como ela diz, “impressionista”. Mas este é um excelente ponto de partida para o governo estudar o impacto do ProUni na universidade privada.

Fonte: Carta Capital

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