terça-feira, 28 de abril de 2009

Por enquanto, o risco maior é de contágio midiático

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por José Maurício de Oliveira, do Mercado Ético*

Gabinete Permanente de Emergência monitora os casos suspeitos no Brasil.


Acima de tudo, muita calma nessa hora. No
artigo que publicou hoje (28/4) no jornal Folha de S.Paulo, o jornalista Vinícius Torres Freire dá uma dica preciosa sobre o maior risco que vivemos neste momento: o contágio midiático.

Empenhada em promover aquilo que Tutty Vasquez, outro jornalista brilhante, chama de “turnê mundial do fim do mundo”, a midia sensacionalista - TVs à frente - já ergueu a lona do circo dos horrores e se dedica desde o fim de semana ao esporte predileto de faturar com o pânico e a desinformação.

Se você realmente quer se proteger de uma possível pandemia de gripe suína, a primeira recomendação só pode ser uma: não acredite em qualquer coisa que vê na TV. A segunda: confie no seu bom senso. A terceira: busque abastecê-lo apenas com informação de boa procedência.

O que sabemos até agora? O vírus AH1N1, responsável por uma doença respiratória aguda que acomete porcos, sofreu mutação e passou a ser transmitido por seres humanos. Infectologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde animal da Organização das Nações Unidos para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) têm evidências de que isso aconteceu numa região onde se concentram as fazendas de criação intensiva, no interior do México.

A partir de lá, a doença se disseminou por contato interpessoal para outras regiões do país. O governo mexicano fala em 150 mortos, entre cerca de 2mil doentes. Entretanto, o número de óbitos por gripe suína atestados por testes de laboratório não passava de vinte até hoje cedo.

Turistas de outros países em visita ao México tiveram contato com portadores do vírus. Nos últimos dias, foram confirmados casos da doença nos Estados Unidos (40 casos em 5 estados), Canadá, Espanha, Inglaterra, Nova Zelândia e Israel. Ainda não há registro de alguma morte fora do território mexicano.

No Brasil, no início da tarde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) monitorava 20 pessoas com sintomas da doença - três no Amazonas, duas na Bahia, três em Minas Gerais, uma no Pará, quatro no Paraná, duas no Rio de Janeiro, duas no Rio Grande do Norte e três em Santa Catarina. Dois casos suspeitos em São Paulo foram descartados após exames de laboratório.

Risco

Esses são os fatos, por enquanto. Pode piorar? Claro que sim. “Decerto, vírus agora têm asas e viajam continentes em horas; as pestes do passado levavam meses para ir de Istambul para Veneza”, lembra Vinícius Torres Freire. E adverte: “cientistas dizem que, se brincarem em serviço, as pestes gripais podem se tornar assassinas rapidamente”.

Por enquanto (insisto na expressão), nada indica que alguém esteja brincando em serviço. Assim que foi notificada pelo governo mexicano, a OMS emitiu um alerta mundial. Isso significa que, imediatamente, autoridades nacionais e locais de saúde pública colocaram em andamento medidas de prevenção e monitoramento, principalmente de pessoas provenientes das regiões onde há focos identificados da doença.

Em tese, essas medidas seriam suficientes para reduzir significativamente o risco de uma pandemia descontrolada, como o tristemente célebre episódio da gripe espanhola, no início do século passado - a última pandemia de que se tem notícia, como lembra o médico italiano Umberto Veronesi, em artigo publicado pelo jornal La Reppublica que reproduzimos hoje aqui no Mercado Ético, no qual o especialista exorciza outros fantasmas semelhantes, que nos últimos tempos causaram frissom entre os propagadores do fim do mundo.

Podem falhar? Veronesi admite que sim e aponta alguns problemas, como o enfraquecimento do conceito de “cordão sanitário”, frente à velocidade das viagens e do grande número de viajantes pelo mundo. E, apesar de confiar na capacidade de enfrentamento de pandemias pelas autoridades, manifesta seu maior temor: o pânico, com alto potencial de fragilizar as estruturas sanitárias e induzi-las a adotar medidas desproporcionais, “com o objetivo de vencer mais o medo do que o vírus”.

É aí que entramos. Como escrevi acima, bom-senso e informação de qualidade são nossas armas para colocar a gripe suína em seu devido lugar. Fazer as perguntas corretas e avaliar as respostas que obtivermos com o máximo de tranquilidade, sem dar bola para o alarido das telinhas da vida. Quer um exemplo de como isso funciona?

“Há risco de comer porco?”, indaga Vinícius Torres Freire em seu artigo. Ele mesmo responde: “sim, claro, se o animal estiver vivo, falar e tossir no nosso rosto enquanto tentamos comê-lo em um eventual trem contaminado da Cidade do México”.

*colaborou Leticia Freire, do Mercado Ético

Fonte: Mercado Ético

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