por Jayshree Bajoria, Council of Foreign Affairs
De trabalhadores da construção civil a banqueiros formados em Harvard, muitos estrangeiros estão sendo forçados a deixar Europa e EUA e voltar para casa, ao ritmo em que economias que cresciam há alguns meses, entram em violenta e rápida contração em todo o mundo.
Em termos globais, são 24 milhões das 52 milhões de pessoas que perderam seus empregos em 2009, segundo estimativas recentes da Organização Internacional do Trabalho, OIT. Sentimentos populares e ações protecionistas em países que dependeram do trabalho de migrantes estrangeiros nos anos do boom têm hoje, como centro de seus problemas em todo o mundo, cerca de 200 milhões de migrantes.
Há muitos exemplos de novo protecionismo: em 2009, os EUA aprovaram lei que impõe restrições severas a que as empresas beneficiadas com dinheiro no Tesouro nas operações de 'resgate', empreguem trabalhadores qualificados não norte-americanos.
A Malásia e a Arábia Saudita orientam suas empresas para que, nas operações de redução de custo ou reestruturação dos negócios, demitam primeiro os trabalhadores estrangeiros. Na Inglaterra, houve protestos em grande escala (Telegraph), contra os trabalhadores não-ingleses, numa refinaria. Há notícias das Filipinas, de que mais de 5 mil filipinos já perderam seus empregos no exterior, de outubro/2008 a janeiro/2007.
Até a Irlanda já está rediscutindo suas leis de imigrações, sempre tidas como liberais, e que possibilitaram que levas massivas de imigração sustentassem o crescimento do país desde o final dos anos 90s. Em pesquisa de setembro de 2008, quando a economia do país já estava abalada, 66% dos irlandeses declararam-se a favor de leis mais restritivas para trabalhadores estrangeiros (IrishTimes).
Muitos especialistas estão estudando essa 'desglobalização'. Alguns também já temem uma drenagem reversa (dos EUA para fora) de cérebros.
Examinando a contribuição de trabalhadores qualificados estrangeiros, para a economia dos EUA, o professor Vivek Wadhwa, da Duke University, observa que trabalhadores imigrados para os EUA fundaram 25% de todas as empresas de tecnologia e engenharia criadas entre 1995 e 2005, e metade de todas que se instalaram no Vale do Silício.
Matthew Slaughter, do Conselho de Foreign Affairs diz que imigrantes qualificados podem ajudar a ressuscitar a economia, criando mais empregos nos EUA. "Se os impedirmos de ficar, estaremos nos prejudicando", escreveu como co-autor de artigo recentemente publicado no Wall Street Journal. A pesquisa de Wadhwa demonstra que as empresas de alta tecnologia fundadas por imigrantes geraram 52 bilhões de lucros e empregaram 450 mil trabalhadores em 2005.
No curto prazo, os especialistas temem os efeitos, para a economia norte-americana, de medidas protecionistas contra imigrantes e a perda dos empregos – que mandem de volta esses migrantes para seus países de origem e contenham as ondas migratórias para os EUA. Esses movimentos reduziriam o dinheiro enviado para seus países de origem, o quê, associado ao desemprego, faria aumentar os riscos de instabilidade social e política.
O Banco Mundial estima que haverá queda de 0,9% nessas remessas em 2009, mas que a queda pode chegar a 6%, se a situação econômica agravar-se nos EUA. A Organização Internacional para a Migração também alerta contra o risco de crescerem as manifestações de xenofobia "baseadas na falsa ideia" de que os migrantes 'roubariam' empregos de trabalhadores locais.
No longo prazo, escreve Stephen Castles, co-autor do livro The Age of Migration, the motivation to migrate, em tempos de recessão, talvez mais do que antes, as remessas de dinheiro podem converter-se em forma consistente e resistente de transferência internacional de fundos.
Argumenta também que a desigualdade econômica global e os desequilíbrios demográficos entre populações mais idosas do norte e a massiva população mais jovem e em idade produtiva do sul ainda são fatores importantes para gerarem futuras ondas migratórias.
A recente queda no número de prisões de imigrantes na fronteira EUA-México levanta pelo menos uma questão: o encolhimento do mercado de trabalho nas economias desenvolvidas deterá a imigração ilegal? Os especialistas parecem divididos. Alguns, de fato, pensam que leis de imigração mais rígidas nos mercados de destino podem apenas fortalecer o mercado de trabalho ilegal.
Para responder efetivamente à crise financeira, os economistas em geral argumentam contra os países ricos imporem barreiras aos migrantes. Em outubro de 2008, o secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon destacou que a migração pode arrancar o mundo de sua crise econômica. "Agora, mais do que nunca, políticos e governantes estão obrigados a cooperar através de todas as fronteiras", disse ele.
Também há quem pense em reformar as leis de migração de modo a não impedir o trânsito de trabalhadores qualificados, sem, com isso, afrouxar o controle nas fronteiras. Em recente entrevista a CFR.org, o ex-secretário de Segurança Interna dos EUA, Michael Chertoff, disse que os legisladores, nos EUA, deveriam já estar trabalhando para alterar as políticas de imigração, antes até de que o país entre em processo de recuperação econômica. "Há muito o que dizer agora, antes de que a economia se recupere, e a demanda por mão-de-obra volte a crescer", disse ele.
Fonte: Vi o Mundo
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