quinta-feira, 30 de abril de 2009

“Árido movie”

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por Guilherme Scalzilli

O futuro do cinema brasileiro brotou no Nordeste. Os bambas do eixo Rio-São Paulo-Porto Alegre tanto já perceberam o fenômeno que tentam, há alguns anos, abortar a política descentralizadora do ministério da Cultura para os subsídios federais. Houve briga feia, mas uma das provas do valor da idéia é “Árido movie”, lançado em 2005.
Não importam as imperfeições, localizadas e menores: eis um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos. Sua grandiosidade reside justamente na honestidade despretensiosa com que retrata natureza e cidadãos sem incorrer no regionalismo idiota das caricaturas globais.
As águas turvas de Recife, o interior pernambucano e seus azuis intangíveis, a beleza incompreensível do sertão pedregoso, desolação e loucura, delírio e violência, poesia e atraso. Revive o espírito do cinema marginal, udigrudi (Jairo Ferreira: “de invenção”), que, através de Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e outros, impregnou de lisergia e liberdade os rigores do Cinema Novo.
Mas a simplicidade de “Árido movie” é apenas aparente. O diretor Lírio Ferreira (“Baile perfumado”) não é nenhum neófito. O veterano cineasta Murilo Salles empunha a câmera. No elenco, Paulo César Pereio, Selton Mello, Giulia Gam, o sensacional José Dumont, Luís Carlos Vasconcelos, Matheus Nachtergaele e José Celso Martinez Correia. A trilha sonora explode achados e raridades.
Cinema popular sem os populismos dos caça-níqueis de Luís Carlos Barreto, Globo Filmes, O2 e congêneres. Cinema também jovem, transgressor, livre dos jargões das provincianas classes médias carioca e paulistana, que buscam espelhos distorcidos nas telas dos shoppings. Vida longa a Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Marcelo Gomes e todos os novos diretores nordestinos, grandes cineastas brasileiros.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

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