quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um futuro sombrio

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por Nouriel Roubini

O site RGE Monitor acaba de rever suas projeções para a economia global em 2009. Estamos em meio a uma contração sincronizada, que resultará no primeiro encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) global em décadas. Será a pior crise financeira desde a Grande Depressão. As transações comerciais mundiais sofrerão a maior redução desde o Pós-Guerra. O comércio deverá recuar 12% em 2009, em razão da séria e prolongada aversão da demanda, do excesso de oferta e da capacidade instalada e da falta de liquidez nos mercados financeiros.

Muitos analistas enfatizam que a segunda derivada da atividade econômica está se tornando positiva. As economias ainda registram contração, mas a um passo menos acelerado, o que seria a antessala da recuperação. A análise do RGE sustenta que a recessão mundial profunda e prolongada, no formato de U, ainda está a todo vapor. Em 2008, evaporou o consenso de que haveria uma crise curta e não muito profunda em forma de V. Ainda que o ritmo da desaceleração econômica esteja menor, em comparação à queda livre do último trimestre do ano passado e primeiro de 2009, ainda estamos muito distantes do fundo do poço. Particularmente na Europa e no Japão, há pouquíssima evidência de que a segunda derivada esteja em curso.

Ao fim do primeiro trimestre de 2009, houve alguns sinais de que o ritmo da contração estava arrefecendo, principalmente nos Estados Unidos e na China, onde as respostas de política econômica foram mais agressivas e a produção industrial pode ter registrado o pior momento em um período anterior ao da Europa e do Japão. No entanto, isso não é verdadeiro para as maiores economias do G-7.

A reação global deve ser tímida em 2010, dada a ressaca dos prejuízos das instituições financeiras, a escassez de crédito e a retomada tímida da demanda. Os principais pontos das novas projeções do RGE são:

1. A atividade econômica global recuará 1,9% em 2009. As economias avançadas deverão registrar uma contração de 4%, sendo o Japão e a Eurozona os mais prejudicados. O PIB americano continuará a encolher, apesar de em menor ritmo, mas com crescimento negativo em todos os trimestres deste ano.

2. Os mercados emergentes vão desacelerar fortemente, em relação ao desempenho dos últimos anos. Os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) crescerão metade do que em 2008.

3. A deterioração das trocas comerciais, a redução dos ingressos de capital estrangeiro e as condições mais apertadas do crédito resultarão em uma recessão na América Latina, ante o crescimento de 4,1% em 2008. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela terão crescimento negativo em termos anualizados, enquanto países menores, como o Peru, vão experimentar uma significativa desaceleração.

4. As nações da Europa Oriental e da Commonwealth sofrerão as recessões mais fortes, dados a restrição ao crédito externo e o continuado risco da crise financeira. As reduções com as receitas do petróleo e o estresse financeiro contribuirão para a queda de 5% do PIB da Rússia, em termos anualizados. As retrações poderão atingir dois dígitos nos países bálticos.

5. Na região asiática, o crescimento cairá para menos de 3% em 2009. A China terá uma aterrissagem forçada, com o aumento do PIB de 5,5%, enquanto a Índia deverá registrar apenas 4,3%. Os quatro tigres asiáticos (Cingapura, Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong), assim como a Malásia e a Tailândia, viverão uma recessão.

6. O Oriente Médio e a África crescerão metade da performance de 2008, em razão da queda dos ingressos de capitais, da diminuição da demanda dos Estados Unidos e da União Europeia e do declínio dos preços das commodities. Israel e África do Sul terão desacelerações mais amenas.

7. Os pacotes sem precedentes de estímulos fiscal e monetário podem ajudar a aliviar a diminuição da demanda do setor privado e reduzir o risco de uma depressão mundial no formato de L. O financiamento das dívidas externas pode ser um desafio, especialmente para os mercados emergentes e as economias ocidentais europeias mais vulneráveis.

8. As perdas de emprego deverão superar a contração do mercado de trabalho da última recessão, contribuindo para o aumento da inadimplência, o que representa riscos adicionais para os bancos. A taxa de desemprego nos países desenvolvidos alcançará dois dígitos até 2010, aumentando a miséria. A despeito do caixa reforçado das instituições multilaterais, há o risco de tensões sociais e políticas.

9. Commodities são uma classe de ativos que poderá sofrer novas pressões em 2009, apesar dos cortes de produção. O RGE estima que o preço do barril do petróleo seja, em média, de 40 dólares em 2009, com a fragilidade da demanda mundial.

Fonte: Carta Capital

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