:: TV DIGITAL Por Nelson Hoineff* | |
O usuário brasileiro ainda não entendeu – porque não lhe deram a oportunidade para isso – que neste momento, no Brasil, a TV digital terrestre não se limita à questão das transmissões em HDTV ou à ocupação do espectro com multiprogramação (três ou quatro programações diferentes vindas pelo mesmo espaço físico). Para o consumidor final, isso não faz a menor diferença – e nem vai fazer por um bom tempo. Há, porém, um aspecto de outro atributo da TV digital, a mobilidade, que a princípio estava negligenciado, mas que mostra agora que a questão é bem outra. Um sinal veemente disso pôde ser visto semana passada por meio de uma declaração do presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero, que passou despercebida pela grande imprensa. Slaviero afirmou, em defesa do que dissera em Los Angeles o presidente da NAB, David Rehr, que as transmissões móveis são as mais evidentes fontes de novas receitas para as emissoras de televisão. Essa é a única grande questão que se instala hoje no desenvolvimento das transmissões digitais terrestres no Brasil. O conteúdo para TV móvel não deve – e não pode – ser o mesmo para a TV fixa. Não se trata de mero exercício de retórica, mas da constatação de por onde está caminhando o modelo de negócios em televisão. Hora do almoço Até ontem, a televisão era fixa. Ficava presa a um canto da sala ou do quarto de dormir. Ainda hoje todos os narradores, especialmente os esportivos, referem-se aos telespectadores como "você que está aí em casa". Em dois anos, isso será tão politicamente incorreto quanto referir-se de forma debochada à etnia do participante de um show. O rádio também já foi fixo. Hoje não é fácil encontrar alguém que ouça rádio em circunstâncias que não sejam móveis: no automóvel ou preso ao próprio braço, por exemplo. O telefone, este era fixo até ontem. Uma linha móvel, na década passada, custava dez mil dólares – e mesmo depois disso as ligações originárias de aparelhos celulares eram muito mais caras que as originárias de telefone fixo. Isso mudou. O resultado é que as redes fixas estão perigosamente ociosas e ninguém mais utiliza um telefone fixo se tiver um receptor móvel por perto. Seu próximo celular (que cada brasileiro levará em média mais 8 meses para comprar) terá como item obrigatório a capacidade de receber sinais gratuitos de televisão móvel. Por enquanto há tão poucos aparelhos no mercado que os sinais são os mesmos que os entregues aos televisores fixos. Mas, quando, num piscar de olhos, o espectador brasileiro estiver assistindo televisão no ônibus ou durante o almoço, o seu horário nobre terá mudado. A dona de casa que hoje vê televisão aberta pela manhã pode gostar muito de Ana Maria Braga, mas o problema está no fato de que os trabalhadores que estão no ônibus no mesmo horário preferem ver os gols da rodada, por exemplo. A TV tem três alternativas: derrubar quem está em casa, derrubar quem está no ônibus, ou entregar a cada um o que ele está querendo ver. Até agora, o horário nobre é definido como o espaço de tempo compreendido entre o momento que o cidadão chega em casa e a hora em que ele vai dormir. Isso no Brasil acontece entre 19 e 23h. Por isso, 82% das receitas publicitária emanam daí. Daqui a alguns meses não será assim. Os horários nobres serão também os do ônibus, o do almoço, o de qualquer momento em que o espectador tenha com sua TV uma relação mais individual, porque ela não estará pendurada em lugar algum; estará na palma da sua mão. Artefato monolítico As plataformas digitais podem não conseguir implantar cenários de multiprogramação – pelo menos entre os canais privados brasileiros – e o cenário do HDTV será pouco mais do que uma continuidade do que acontece. O povo já está se acostumando à idéia de que a televisão que lhe é oferecida por 7 mil reais lhe dá o grande atrativo de ver com mais nitidez as rugas do Faustão – e isso não lhe parece muito excitante. Assistir televisão por aparelhos portáteis, no entanto – sejam receptores ou, caso mais provável, celulares com esse serviço –, vai estimular ao paroxismo a competitividade e obrigar as estratégias de programação que fujam do marasmo. Executivos de programação são hoje pagos para ver o que o outro está fazendo e fazer parecido. Isso é tudo o que existe de criação, no momento, na televisão brasileira. Não é um cenário estimulante para a inteligência e nem para a indústria. A novidade é que o advento incontornável da TV móvel pode fazer com que posições de audiência sofram alterações dramáticas da noite para o dia. O novo espectador de televisão não é o "você que está aí em casa". É o individuo que está em qualquer parte e que não compartilha o que está vendo. É principalmente o jovem, que abandonou a televisão porque aquilo que está pendurado na parede lhe trata como débil mental. A programação móvel vai buscar o espectador onde ele estiver. Pode continuar tratando-o como um idiota, mas se alguém quiser um conselho de graça, é bom que não o faça. A garotada caiu fora da TV porque sabe que não é oligofrênica. Seu próximo celular vai receber sinais de TV aberta. Os burocratas que estão procurando o que há de novo para copiar acreditam, por exemplo, que programação para teenagers é a que tenha surfistas ou gatinhas tatuadas. Desconhecem que antes de pensar no conteúdo que irá para a tela o que importa é descobrir a maneira de voltar a falar com uma galera que durante muito tempo a televisão emburreceu, entorpeceu, humilhou. A TV está se tornando mais individual e isso não tem volta. Essa é a melhor chance que as TVs comerciais já tiveram para alterar os cenários vigentes há cinqüenta anos. É também a primeira chance que a televisão pública terá para mostrar que não está tomando dinheiro do povo para exibir baboseiras de última qualidade. A TV móvel é uma instância bastante adequada para se buscar um novo diálogo com um espectador que caiu fora da TV porque foi sistematicamente insultado por ela. Um jovem que aprendeu a lidar com a possibilidade de escolha e decidiu não ficar parado diante de um artefato monolítico pendurado em casa. Fonte: Observatório da Imprensa :: |
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres
Em 2010, a Marcha Mundial das Mulheres vai organizar sua terceira ação internacional. Ela será concentrada em dois períodos, de 8 a 18 de março e de 7 a 17 de outubro, e contará com mobilizações de diferentes formatos em vários países do mundo. O primeiro período, que marcará o centenário do Dia Internacional das Mulheres, será de marchas. O segundo, de ações simultâneas, com um ponto de encontro em Sud Kivu, na República Democrática do Congo, expressará a solidariedade internacional entre as mulheres, enfatizando seu papel protagonista na solução de conflitos armados e na reconstrução das relações sociais em suas comunidades, em busca da paz.
O tema das mobilizações de 2010 é “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, e sua plataforma se baseia em quatro campos de atuação sobre os quais a Marcha Mundial das Mulheres tem se debruçado. Os pontos são: Bem comum e Serviços Públicos, Paz e desmilitarização, Autonomia econômica e Violência contra as mulheres. Cada um desses eixos se desdobra em reivindicações que apontam para a construção de outra realidade para as mulheres em nível mundial.
Estão previstas também atividades artísticas e culturais, caravanas, ações em frente a empresas fabricantes de armamentos e edifícios da ONU, manifestações de apoio às ações da MMM em outros países e campanhas de boicote a produtos de transnacionais associadas à exploração das mulheres e à guerra.
No Brasil
A ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil acontecerá entre os dias 8 e 18 de março e será estruturada no formato de uma marcha, que vai percorrer o trajeto entre as cidades de Campinas e São Paulo. Serão 3 mil mulheres, organizadas em delegações de todos os estados em que a MMM está presente, numa grande atividade de denúncia, reivindicação e formação, que pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.
Serão dez dias de caminhada, em que marcharemos pela manhã e realizaremos atividades de formação durante à tarde. A marcha será o resultado de um grande processo de mobilização dos comitês estaduais da Marcha Mundial das Mulheres, que contribuirá para sua organização e fortalecimento. Pretendemos também estabelecer um processo de diálogo com as mulheres das cidades pelas quais passaremos, promovendo atividades de sensibilização relacionadas à realidade de cada local.
Para participar
A mobilização e organização para a ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil já começou. Entre os dias 15 e 17 de maio, a Marcha realizou um seminário nacional, do qual participaram militantes de 19 estados (AM, AP, AL, BA, CE, DF, GO, MA, MS, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RO, RS e SP), além de mulheres representantes de movimentos parceiros como ANA, ASA, AACC, CONTAG, MOC, MST, CUT, UNE e Movimento das Donas de Casa). Este seminário debateu e definiu as diretrizes da ação de 2010.
Os comitês estaduais da MMM saíram deste encontro com tarefas como arrecadação financeira, seminários e atividades preparatórias de formação e mobilização, na perspectiva de fortalecimento dos próprios comitês e das alianças entre a Marcha Mundial das Mulheres e outros movimentos sociais. Neste momento, estão sendo realizadas plenárias estaduais para a formação das delegações e organização da atividade.
Para participar, entre em contato com a Marcha Mundial das Mulheres em seu estado (no item contatos) ou procure a Secretaria Nacional, no correio eletrônico marchamulheres@sof.org.br ou telefone (11) 3819-3876.
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