quinta-feira, 30 de abril de 2009

A quem interessa ranquear o Enem?

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por Luis Araujo


O INEP divulgou esta semana um ranque com as notas das escolas no último ENEM. A grande mídia usou e abusou, fez comparações, listou as melhores, as piores, tentou encontrar explicações para o sucesso de umas e para o fracasso de outras.

Em entrevista publicada pela Revista do ENEM de 2007 o atual presidente do INEP, Reynaldo Fernandes, afirmava que a “prova do ENEM, mesmo que se deseje manter o mesmo grau de dificuldade, muda um pouco de ano para ano. Se cai a nota dos alunos num ano, fica difícil dizer se eles aprenderam menos ou se, simplesmente, a nota foi menor porque a prova foi mais difícil”.

O professor Ruben Klein, que em artigo publicado em 2003 alertava para o fato de que o Saeb possui uma escala única e o Enem não, pelo fato de seus candidatos não serem nem uma população e nem uma amostra, não permitindo a comparação de desempenho ao longo do tempo.

Não tenho conhecimento de mudanças metodológicas operadas no formato do ENEM. É verdade que a proposta de transformar a prova do ENEM em prova unificada do vestibular levará a sua reformulação, mas isso ainda não aconteceu.

Fica então a pergunta: para quem serve a divulgação de ranque com notas do ENEM se as mesmas não podem ser comparáveis com os anos anteriores? Ou seja, o fato de uma escola pública ou privada aparecer em melhor colocação este ano não quer dizer obrigatoriamente que sua educação está melhor, nem que seus alunos melhoraram.
Na mesma entrevista de 2007 o presidente do INEP afirmou que “o ENEM é usado também para avaliar o desempenho dos sistemas de ensino”.

Seria interessante que o INEP esclarecesse de que forma esta prova está sendo utilizado com instrumento de avaliação dos sistemas de ensino e, obviamente, em que unidades da federação isso vem acontecendo.

Pelo visto a única forma encontrada de influenciar o ensino médio é permitir que a imprensa construa conclusões afobadas e sem base científica sobre a qualidade de nossas escolas.

O Globo chegou a seguinte conclusão: “A falência das redes públicas estaduais de ensino é o resultado que emerge dos últimos números do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2008). Entre as mil escolas do país com piores notas no último exame, realizado ano passado, 965 são das redes estaduais”.

Esta postura conseguirá somente aumentar o preconceito contra as instituições públicas, mas não me parece que esta seja uma tarefa institucional nem do INEP nem do MEC.

Fonte: Blog do Luis Araujo

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