Por Diego Cevallos, da IPS
México, 30/04/2009 – As mulheres indígenas nunca ocuparam uma cadeira no Congresso mexicano. Duas delas, uma pelo oficialismo e outra pela oposição de esquerda, pretendem mudar a história nas eleições legislativas de julho. Porém, suas chances são proporcionais a nenhum ou mínimos apoios que recebem de seus partidos, bem como à pobreza e à discriminação da grande maioria dos seis milhões de mulheres indígenas mexicanas. Este grupo social não ter acesso a uma cadeira no Legislativo nacional é um fato vinculado à sua condição de marginalidade.
Cifras oficiais indicam que 34,5% das indígenas são analfabetas, contra 19,6% dos homens. Além disso, de cada 10 pessoas que falam apenas uma língua que não seja a oficial espanhola seis são mulheres, neste país que tem cerca de 104 milhões de habitantes, sendo mais de 51% mulheres e onde subsistem 62 povos originários com seus respectivos idiomas. Em algumas zonas rurais remotas persistem tradições como vender jovens indígenas em casamento ou esquecê-las em uma prisão comunitária apenas por pretenderem assistir uma assembléia regida pelos usos e costumes.
“Nossa vida é de sofrimento e obstáculos, há comunidades onde ainda se acredita que se uma mulher se envolver em política haverá um terremoto, e algumas famílias consideram que não devemos estudar, que isso é coisa de homem”, disse à IPS a zapoteca Rogelia González González. Ela vai disputar uma cadeira legislativa por Oaxada, Estado onde 47,9% da população pertence a alguma etnia. “Em várias comunidades indígenas domina o machismo, que é ancestral e deve ser denunciado sem medo”, disse González, que diz ter “muita sorte por ser candidata, embora tenha pouca chance de ganhar”.
Um estudo do Instituto Nacional das Mulheres, feito com base em uma pesquisa domiciliar em 2003, indica que 75% das indígenas pensam que uma boa esposa deve obedecer seu companheiro e 84% acreditam que o homem é responsável pelos gastos familiares. Um terço das mulheres indígenas ouvidas disseram que o marido tem direito de bater nelas se não fazem suas obrigações; 42,6% recordaram que apanhavam quando eram meninas e 46,6% consideraram que se os filhos se portam mal os pais têm todo direito de bater neles.
As cúpulas do governante Partido Ação Nacional (PAN) e do opositor Partido da Revolução Democrática )PRD), ao qual pertence González, deram em fevereiro a impressão de incentivar mudanças na tradicional marginalização das indígenas ao inscrever duas pré-candidatas para uma cadeira no Congresso nacional. As neste mês de abril a situação deu uma virada. No dia 5 de julho o México vai eleger 500 deputados federais, seis governadores, 565 prefeitos e 434 legisladores estaduais.
“Me tiraram da lista de candidatos, mas sei que ainda tenho oportunidade. Espero que o PAN reflita, do contrário tomarei medidas que não quero adiantar”, disse à IPS Cecília López, Tzeltal de Chiapas, Estado onde 28,5% da população são aborígines. Esta mulher de 34 anos passou da pobreza extrema a dona de um título universitário de psicóloga e agora é coordenadora de projetos sociais do governo em zonas rurais de Chiapas e pré-candidata a deputada nacional pelo PAN.
“A própria mulher do presidente (Margarida Zavala) disse que me apoiava, que era minha comadre. Além disso, meus irmãos dos Altos de Chiapas (zona de alta presença indígena) decidiram que eu participasse’, afirmou. Em meados deste mês a direção do PAN retirou seu nome da lista de candidatos e a substituiu por um empresário que não é indígena nem trabalha na zona que diz representar.
Para González a situação foi outra, mas com resultados parecidos. Essa indígena de 48 anos, professora bilíngue e militante do esquerdista PRD, pretende uma cadeira por seu Estado natal de Oaxaca, de 570 municípios, dos quais 418 são regidos pelos usos e costumes. Após incentivá-la a competir, a direção do partido a colocou em 11º lugar entre 15 candidatos em uma lista plurinominal. Nesta modalidade, a proporção de votos totais outorga cadeiras adicionais que saem das candidaturas nominais. Colocar um candidato nessa posição nesse tipo de lista é quase o mesmo que deixá-lo de fora da disputa. “Reconheço, nunca são eleitos mais de cinco da lista, e em casos extremos até sete, e isso quando o partido arrasa na eleição”, disse González à IPS.
“As mulheres indígenas não chegaram ao parlamento e em julho não parece que será exceção. Creio que isto é porque as decisões sobre as candidaturas sempre são tomadas pelos homens, porque pesa mais a opinião de um governador, e porque somos indígenas e discriminadas”, disse González. IPS/Envolverde
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