segunda-feira, 13 de abril de 2009

Kamel, Nelson de Sá e Novelini

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por Luiz Carlos Azenha

Antes de reproduzir o que escreveu o Evaldo Novelini, em seu blog Alfarrábios, fique claro: foi a partir de uma coluna de Diogo Mainardi, na Veja, que Ali Kamel trabalhou pela demissão de Franklin Martins, que era comentarista da Globo.

No caso mencionado abaixo, a coluna de Mainardi circulou em um fim-de-semana mas a repercussão no Jornal Nacional só se deu numa terça-feira. A Globo, em geral, repercute as notícias de Veja no sábado ou, no máximo, na segunda-feira. Ou o Ali Kamel não teve tempo de ler o Mainardi no fim-de-semana ou levou algum tempo para conseguir aprovar com os chefes a repercussão seletiva de Veja.

Em 2005 e 2006, Veja e Globo trabalharam juntinhas. Uma dava as denúncias na capa e o Jornal Nacional se encarregava de dar pernas à informação, ou seja, sustentar as informações da revista sem checar se de fato eram verdadeiras, com o objetivo de repercutir o assunto junto a outros jornalistas e à opinião pública. "Jornalismo de compadres", em que o compromisso não é com a informação, mas com interesses políticos e econômicos específicos.

Quanto as críticas de Ali Kamel a Nelson de Sá na carta que mandou à Folha, ele faz de conta que entende de televisão. Não entende nada. Os colegas viviam fazendo piada com ele pelo fato de ser um homem de jornal. Quando ele diz que era necessário "cobrir" a reportagem com imagens da coluna de Diogo Mainardi que cita Franklin Martins, poderia tê-lo feito sem reproduzir o título. Se de fato ele pretendia poupar o ministro do governo Lula, existem milhões de recursos gráficos que poderiam ter sido usados para mencionar a coluna de Mainardi sem mostrar o nome de Franklin na TV, mesmo que por alguns segundos.

Se Kamel não tomou esse cuidado é porque ele pretendia, ainda que indiretamente, ligar Franklin à denúncia que envolve o irmão do ministro. Falta ao diretor da Globo coragem para assumir o que faz. Ele se esconde atrás dos amigos e dos subordinados, aos quais depois "paga" com entrevistas e promoções.

Nosso Dom Quixote

por Evaldo Novelini, no blog Alfarrábios

Houve um tempo em que a Rede Globo de Televisão perpetrava as mais inomináveis barbaridades, especialmente contra os princípios democráticos e as liberdades individuais, sem nenhum trauma de consciência.

Apoiava a prática de crimes e delitos, nomeava e derrubava ministros e presidentes, ocultava fatos importantes e inventava outros.

Mesmo quando as ações, executadas na maior parte das vezes com a sutileza de um mastodonte, expunham aos olhos do grande público os interesses que tentavam ocultar, e a grita era geral, a Rede Globo mantinha-se impávida.

Não se dignava a responder. Até porque, na esmagadora maioria das vezes, simplesmente não havia explicação possível.

Como justificar, por exemplo, a redução simplória da maior manifestação pró-eleições diretas a um evento em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo?

Ou a absurda manipulação de um debate entre presidenciáveis para favorecer o candidato preferido pelos patrões?

Mais prudente mesmo era manter o silêncio. Posicionar-se publicamente contra as críticas seria dar mais munição aos adversários, que nunca foram poucos.

Mas eis que o tempo passa e ascende à direção do grupo, responsável pelo departamento que a Vênus Platinada ousa chamar de jornalismo, um cidadão de nome Ali Kamel.

Indivíduo tão cônscio das mazelas e dos problemas nacionais que é capaz de dedicar páginas e mais páginas à defesa de teses de si tão simples que, como diz o poeta, escusam quaisquer explicações. Uma delas, a de que no Brasil não existe racismo.

Homem ideal para o posto, enfim.

Empossado no cargo, eis que Ali Kamel decide romper a silente diretriz que vigorava desde tempos imemoriais no império global e não deixar ataque sem resposta.

Sai para o campo de batalha investido somente das armas que já são de todos conhecidas, sendo as principais delas a sua estupenda inteligência e a reconhecida capacidade intelectual.

Um avião cai, mata 154 pessoas e o principal telejornal da emissora esconde o fato dos telespectadores, preferindo ocupar praticamente toda a edição com imagens de uma montanha de dinheiro apreendido com petistas aliados do presidente que, dali a 48 horas, disputaria a reeleição contra um dos amigos da casa.

Kamel brande a lança:

- Não podíamos ser irresponsáveis e veicularmos a informação sem antes confirmá-la, preocupando 154 famílias.

Pouco tempo depois, uma loja de colchões próxima ao aeroporto pega fogo e, esquecendo-se da aula anterior sobre a prudência, o departamento que ele chama de jornalismo espalha o pânico ao noticiar que um novo acidente aéreo ocorrera em São Paulo.

Necessário dizer “novo acidente” porque, um pouco antes, a trágica queda de um avião na capital paulista deixara 199 mortes.

Na época, aliás, o Nacional, principal telejornal do império, apressa-se a apontar o culpado: o governo do presidente Lula, reeleito a despeito da campanha global contra a sua candidatura, que teria liberado a pista para pousos sem os necessários itens de segurança.

Investigações, concluídas semanas depois, mostram que o acidente foi, na realidade, ocasionado por uma falha da aeronave. As críticas desabam sobre a Globo.

Kamel ergue o escudo:

- Estávamos testando hipóteses. Não foi o governo o responsável pelas mortes? Vamos, então, noticiar o responsável. É assim que se faz.

Por quê lembro de tudo isso?

Porque trombo nesta sexta-feira com uma carta que o professor enviou ao Painel do Leitor da Folha de S. Paulo.

Descubro que Kamel está em nova batalha, agora contra o colunista do jornal Nelson de Sá, que ousou dizer que a Globo, vejam vocês o absurdo!, atacara no seu Nacional um dos homens do governo Lula.

- Como assim? Não citamos o fulano. O que fizemos foi reproduzir a imagem de uma coluna de revista que citava o tal.

Melhor ir direto à íntegra da saborosa missiva publicada na Folha:

- Em carta à Folha, ontem, desmenti nota de véspera, de Nelson de Sá, segundo a qual o Jornal Nacional "atacou" o ministro Franklin Martins ao noticiar investigações da PF que envolvem o nome do irmão dele, Victor Martins, diretor da ANP. Eu disse que em nenhum momento o nome do ministro foi mencionado na nossa reportagem, ao contrário do que a própria Folha fez na dela. Isso é fato. Em resposta, Nelson de Sá deu a entender que eu menti, porque um texto na tela da Globo "mostrava em letras grandes: "Victor Martins está sendo investigado pela PF. Ele é diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP). É também irmão do ministro da Propaganda de Lula, Franklin Martins". Sá omitiu dos leitores que o que aparece na tela da Globo, em movimento panorâmico, é a coluna do jornalista Diogo Mainardi, da revista Veja, usada na reportagem para ilustrar (no jargão televisivo, "cobrir") a citação ao jornalista, um recurso obrigatório, e básico, em reportagens de TV. Omitiu mais: a frase que ele menciona aparece por apenas quatro segundos, e durante metade desse tempo a câmara está em movimento. A leitura da frase requer 11 segundos, de acordo com o programa de computador que mede o tempo de leitura de todos os textos que vão ao ar. Em síntese, ninguém, sem saber previamente o que lerá, consegue ter uma noção mínima do texto que está sendo rolado na tela. Para construir a sua resposta, Sá teve de frisar a imagem gravada em seu vídeo. Esse episódio demonstra o tipo de julgamento que Nelson de Sá se permite fazer.

Chega a ser constrangedor ver o homem manuseando tantos termos técnicos na vã tentativa de encobrir o óbvio.

Não sei se Kamel supõe realmente que seus telespectadores sejam todos imbecis, embora o apresentador do Nacional, William Bonner, já os tenha comparado ao bobalhão Homer Simpson, aqui, mas tenho absoluta certeza de que televisão sem imagem é rádio.

Clique aqui para ir ao blog do Evaldo
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