quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fracassam as negociações para acordo sobre o clima em Bonn

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Por Leticia Freire, do Mercado Ético

A resposta foi tão fria quanto o gelo do ártico. Detalhe: o frio de lá já não é mais o mesmo e o gelo também já não é mais tão sólido. Foi nesse clima que os 175 representantes reunidos em Bonn, na Alemanha, chegaram a um consenso decepcionante: resolveram adiar mais um pouco o debate sobre as metas de emissão de carbono, enquanto esperam que a luz se faça numa reunião paralela de 16 nações convocada pelos Estados Unidos, sem o aval da ONU.

Foram 11 dias de negociação preparatória para a Conferência do Clima, marcada para dezembro em Copenhague. A agenda era ousada, mas de fundamental importância para que as metas de emissão de carbono fossem estabelecidas pelos países ricos. Fora a questão das metas - tão necessárias para o sucesso de qualquer reunião climática - a definição de onde virão os US$ 100 bilhões anuais necessários para ajudar os países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas também permaneceu longe de qualquer entendimento.

“Desapontados”

Segundo a Agência Reuters, os representantes das nações desenvolvidas e emergentes saíram frustrados com o resultado dos das negociações sobre o clima.

“Nós viemos a Bonn com a esperança de, finalmente, focar nas demandas centrais desse grupo de trabalho. Estamos desapontados”, relatou a Reuters o embaixador do clima da China, Yu Qingtai.

Oficialmente os mesmos 175 embaixadores se reunirão em junho. Essa será a última chance “oficial” para um consenso antes da 15ª Conferências das Partes das Nações Unidas para o Clima, marcada para dezembro na Dinamarca.

Em entrevista para a Folha de S.Paulo, o embaixador brasileiro para mudança do clima, Sergio Serra, não vê perspectivas boas para um acordo antes de Copenhague. “Já se fala que possivelmente se delimite em Copenhague apenas os parâmetros gerais do acordo, e que a decisão sobre metas fique para 2010″, afirmou.

Negociação paralela

Um encontro das 16 maiores economias mundiais está marcado para 27 e 28 de abril, em Washington. A idéia de reunir as maiores economias para discutir questões relacionadas a energia e ambiente também tem o objetivo de acelerar as negociações e garantir o sucesso da Conferência do Clima em Copenhagen.

O encontro de Washington acontece paralelamente às reuniões oficiais da ONU. O governo brasileiro vai participar, mas tem receio de que o encontro crie mais problemas do que soluções. “Não temos interesse em incentivar uma negociação paralela”, disse Sérgio Serra. “Isso provavelmente causaria mal-estar com os países excluídos do fórum de Obama”, reforçou.

Irritação “verde”


Os impasses e o resultado negativo das negociações em Bonn, também desagradaram os ambientalistas. “O nível da ambição dos países é muito mais elevado que o perigoso aquecimento global” disse William Hare, do Potsdam Institute for Climate Impact Research.

“Enquanto diplomatas e negociadores não mostravam a menor vontade política de fechar um acordo sobre o clima em Bonn, no mundo real, a Antártida continuava derretendo”, afirma Guarany Osório, coordenador da campanha de Clima do Greenpeace, que acompanhou a reunião em Bonn.

“Os lideres do mundo têm que perceber que eles não podem mudar a ciência, então têm mudar as políticas públicas urgentemente. A ciência é clara, os números das metas e o valor do dinheiro para salvar o clima são obscuros”, disse.

O Greenpeace defende que todos os países se comprometam a investir US$ 140 bilhões em medidas contra o aquecimento global anualmente e cortar as emissões em 40%, em relação aos níveis de 1990.

* Com informações da Agência Reuters.

Fonte: Envolverde/Mercado Ético

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