sábado, 25 de abril de 2009

A decisão de afastar Protógenes

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por Laerte Braga

Tem um trem errado aí. Claro que tem. É comum que servidores públicos que respondem a inquéritos administrativos, ou disciplinares – como vem sendo chamado o que se instaurou contra o delegado Protógenes Queiroz – sejam afastados de suas funções até que a conclusão dos trabalhos. Não significa que seja necessariamente uma atitude correta.

No caso em espécie, como costumam dizer os juristas, está evidente que se trata de tentativa de intimidação do delegado. E por extensão quem se atreva a exercer a função policial sem medo de intocáveis. Protógenes enfrentou um dos maiores gangsters do País, o banqueiro Daniel Dantas. Amigo de FHC, figura proeminente no processo de privatização do Brasil, Dantas tem, como denunciou Protógenes, mais de mil concessões para explorar o subsolo brasileiro. Vale dizer, vender boa parte do que ainda pode ser vendido no País.

E Dantas tem muito mais. Nos oito anos de FHC construiu uma rede de poder no serviço público que se estende ao STF – STF DANTAS INCORPORATION LTD – sob a batuta de Gilmar Mendes. Doublé de presidente da “empresa” e representante do esquema FIESP/DASLU junto aos franqueados do grupo no dito mundo institucional.

A reviravolta dentro da Polícia Federal desde a intervenção branca consentida e executada por Lula diante das pressões de Gilmar pode fazer com que a instituição volte a ser vista com desconfiança pelos brasileiros.

A história da Polícia Federal tem altos e baixos e o momento sinaliza na direção dos baixos. Surgiu no governo do presidente João Goulart, mas foi construída nos anos da repressão dos ditadores militares. Custou a livrar-se da influência de figuras no mínimo misteriosas como o senador Romeu Tuma (era assistente de Sérgio Fleury, sabia de tudo, mas não fez nada, falo de tortura. Difícil de acreditar). Viveu momentos de jogo político nos governos que antecederam a FHC e transformou-se numa instituição opaca e contida durante o governo tucano.

Com Lula revelou-se capaz de ser um poderoso instrumento no combate ao crime em todas as suas modalidades. Em poucos anos de governo Lula já conseguira colocar políticos até então intocáveis em condições reais, ou seja, passíveis de serem punidos pela Justiça.

Isso não acontecera antes.

E assim foi até a Operação Satiagraha desfechada pelo delegado Protógenes Queiroz e sua equipe. A prisão de Daniel Dantas mostrou que ainda existem e continuam existindo os intocáveis.

Caíram Paulo Lacerda (ABIN – Agência Brasileira de Informações) o diretor superintendente da PF e agora o delegado Protógenes. A alegação que Protógenes participou de um comício em Poços de Caldas falando em nome da Polícia Federal é uma ofensa à inteligência do cidadão comum. O delegado jamais cometeria um erro primário desses. Foi apenas o pretexto para a arbitrariedade.

Fica a sensação que os corruptos do Brasil podem respirar aliviados. Gilmar Mendes com sua reação, seus habeas corpus, garantiu a impunidade de todos. O juiz De Sanctis, que se atreveu a condenar Dantas é outro que está na alça mira.

O que mais desvaloriza a instituição Polícia Federal nesse processo todo, ponto por ponto, é que entre esses pontos está um episódio de tentativa de compra de um delegado. Flagrado e comprovado. A Polícia Federal está dando um tiro no pé justo quando se transformava na única polícia respeitada e respeitável no Brasil.

Ganha sentido o raciocínio ou dedução que uma espécie de tampa foi posta sobre a panela das trapalhadas e corrupção de Daniel Dantas e toda a sua turma – deputados, senadores, prefeitos, vereadores, governadores, banqueiros, empresários, latifundiários e mais, muito mais – e deixa mal o presidente da República. Lula caiu de quatro diante das pressões de Gilmar, porta voz desses criminosos.

O inexplicável está aí. A porta aberta para mostrar todo o processo corrupto do governo FHC, envolver – porque é criminoso – o governador de São Paulo José Serra e o presidente vai e fecha por conta dos berros do “ministro” – cúmulo da esculhambação – Gilmar Mendes.

Volta a campo para um jogo de mentirinha democrática o time dos amigos e inimigos cordiais que dividem o poder no Brasil. E vendem o Brasil.

Não se trata de endeusar o delegado Protógenes Queiroz, mas de pura constatação que o trabalho sério, íntegro e preciso de um policial que seja sério, é punido exatamente porque o policial é sério, e por aí se descobre que o Brasil está em mãos de bandidos.

Mais de mil concessões para exploração do subsolo do território brasileiro. É um dado estarrecedor. E até que Dantas esteja na cadeia, Protógenes reintegrado e toda a quadrilha Dantas, inclusive Gilmar Mendes esteja presa, é lícito duvidar do chamado mundo institucional.

Fonte: Fazendo Media

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