quarta-feira, 10 de junho de 2009

Denúncia: como a Amazônia vira casa e móvel no exterior

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por Leonardo Sakamoto

O que um programa de TV famoso nos Estados Unidos, como o Extreme Makeover, e o desmatamento na Amazônia têm em comum? Toneladas de metros cúbicos madeira.

Foi divulgado hoje uma reportagem, realizada pela Papel Social e nós da Repórter Brasil, mostrando como madeireiras flagradas cometendo crime ambiental têm parceiros comerciais de grande porte nos Estados Unidos, Europa, Asia e Oceania. Ou seja, madeira vendida por essas empresas se tornam pisos e móveis lá fora. A investigação, publicada na revista do Instituto Observatório Social, contou também com o apoio do Movimento Nossa São Paulo e do Fórum Amazônia Sustentável.

A rede de comercialização envolve corrupção em órgãos públicos ambientais, ineficácia de fiscalização e compradores desatentos.

Empresas como Madeball (R$ 1,5 milhões em multas ao longo dos últimos anos), Comabil (crimes ambientais, trabalho escravo, retirada de madeira de terra indígena, invasão de terra pública) e Rio Pardo Madeiras (opera com madeira oriunda de desmatamento) estão na base da cadeia. Enquanto isso, Vitória Régia Exportações, Pampa Exportações e Interwood Brasil atuam como elo de ligação comercial.

Por fim, empresas como Lumber Liquidators (possui 140 lojas nos Estados Unidos e fornece para o famoso programa Extreme Makeover, que também passa na TV paga brasileira), Brico Dépôrt (US$ 13,5 bilhões de faturamento e um dos líderes do mercado de construção “faça você mesmo” no Reino Unido, Itália, Polônia, Turquia e China), Robinson Lumber Company (vende produtos de madeira para mais de 70 países), Moxon Timber) atua nos EUA, Ásia, América Latina e Nova Zêlândia) estão no final da cadeia.

Segundo a investigação, 70% de toda a madeira comercializada no Estado do Pará, maior vendedor de madeira amazônica no Brasil, tem origem ilegal. Essa madeira passa por um processo de “esquentamento” que funciona dentro de órgãos do governo. Autoridades do Ministério Público Federal e do Ibama confirmam o esquema e apontam o envolvimento da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Segundo eles, o mercado de madeira amazônica é movido por um mercado paralelo – o de créditos de madeira. A descoberta do esquema leva à constatação de que o Pará é o segundo estado brasileiro que mais compra madeira, atrás apenas de São Paulo. O comércio, entretanto, não chega a ser consumado. O único produto que viaja é o papel que registra o crédito e que permite o esquentamento de milhares de metros cúbicos provenientes de terras indígenas, áreas de preservação permanente e demais regiões onde a exploração comercial é proibida.

Depois posto aqui o link para download da reportagem.

Em outubro do ano passado, a Repórter Brasil e a Papel Social já haviam lançado o estudo Conexões Sustentáveis - Quem se beneficia com a destruição da floresta, mostrando como mercadorias produzidas através de desmatamento ilegal, crimes ambientais, trabalho escravo e ataques a comunidades tradicionais chegavam à cidade de São Paulo e eram exportadas. O estudo mostra como grandes empresas, como frigoríficos, tradings, siderúrgicas, montadoras de carros, supermercados, madeireiras, construtoras lucram direta ou indiretamente com esse processo.

A reportagem publicada hoje traz novas explicações de empresas presentes na denúncia de 2008 devido a problemas em suas cadeias produtivas, como Tramontina, ADM, Marfrig, Quatro Marcos e Metalsider.

O ato da compra é um ato político poderoso. Através dele damos um voto de confiança para a forma pela qual determinada mercadoria é produzida. Um exercício democrático que não é exercido apenas a cada quatro anos, mas no nosso dia-a-dia. E que pode ditar o destino da maior floresta tropical do mundo e de sua gente. Ou seja, também cabe a cada um de nós, dentro e fora do país.

Fonte: Blog do Leonardo Sakamoto

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