por Thais Bilenky
Para o vice-governador cassado do Maranhão, Luís Carlos Porto, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de negar recursos contra a cassação do mandato de Jackson Lago (PDT) demonstra que o "Maranhão é um Estado amaldiçoado".
Em entrevista a Terra Magazine por telefone - já em sua residência -, Porto demonstrava conformação com a decisão do TSE, apesar de alegar que as acusasões são "injustas" e "forjadas".
- A decisão do TSE tem muito a ver com a capacidade que o poder no Estado tem de mostrar a versão deles, a verdade deles, e o poder que eles têm para mostrar a verdade deles para o Brasil.
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A reportagem ligou para o Palácio dos Leões na noite desta sexta-feira, perguntando por um funcionário do governo Lago. A resposta do outro lado da linha:
- Aqui é o seguinte: aqui é o Palácio dos Leões. Agora o governo é da Roseana Sarney. Eles todos já foram embora.
Porto relata que o governador cassado, que até agora se nega a deixar a sede do governo, tem um plano. Está articulando com movimentos sociais, prefeitos e deputados para passarem juntos a noite no Palácio dos Leões. Amanhã, às 9h, convidará o presidente do Tribunal de Justiça (desembargador Raimundo Freire Cutrim) e entregará a ele a chave do palácio, deixando-o para trás ao lado da população.
A segunda colocada nas eleições estaduais de 2008, Roseana Sarney (PMDB-AP) deixa o Senado para assumir o governo do Estado. Lago e Porto aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal de recurso extraordinário.
Leia a entrevista:
Terra Magazine - Qual o significado da cassação?
Luís Carlos Porto - O certo é o seguinte: nós tivemos aqui uma campanha linda. Eu sou um pastor evangélico, nunca fui político, nunca tive mandato nenhum. Fui chamado para compor uma chapa, sei muito bem dos meus princípios cristãos. Andei de cidade em cidade, convocando os padres e os pastores para ajudarmos junto, como igreja cristã, a reconstruir a honra, a dignidade e a esperança do povo. Foi uma campanha difícil. Em muitas cidades pobres do Maranhão em que eu chegava, eu ia para aquele hotelzinho mais barato porque não tinha dinheiro para dormir no hotel mais caro da cidade. Doutor Jackson Lago, este homem, quem conhece sua história, sabe que é essa raridade entre a classe política brasileira de honestidade e de honra.
Mas qual foi o problema então?
Veja bem, nós sabíamos que enfrentar essa oligarquia era muito difícil, foi um milagre. Mas consolidar o governo seria também uma tarefa mais difícil, de fato foi, apesar dos índices terem melhorado. Entretanto, houve uma opressão desde o início. Então a cassação, nós entendemos que é uma frustração do sonho do povo mais sofrido do Brasil, do povo mais oprimido do Brasil, o povo mais empobrecido do Brasil, que de repente começou a ter sua jurisdição de esperança enlarguecida e agora a esperança diminui muito por causa da cassação. Nós aceitamos a decisão da Justiça, mas entendemos que não foi justa no nosso caso. Porque quem avalia a nossa realidade não poderia fazer como foi feita. Agora qualquer palavra pode ser interpretada, mas é muito complicado lutar contra gigantes como Sarney com o apoio de outros gigantes maiores do que ele. Muito difícil, muito frustrante.
A decisão traz um precedente complicado para todos os estados?
Cada caso é diferente. Nós sabemos o nosso caso, temos provas à vontade de que testemunhas foram forjadas, gente que voltou atrás, foi na Polícia Federal e voltou atrás no seu testemunho, mas isso não valeu nada para o TSE. Então, cada caso é um caso. Nós sabemos que somos inocentes e cada estado tem a sua realidade, não sei se vão de fato cassar os outros (governadores). Nós temos que lamentar, chorar, e renovar nossa esperança para continuar a luta para ajudar a melhorar a vida do nosso povo.
Qual a diferença entre o Maranhão e os outros estados?
Não há nenhum outro estado da federação que tenha um poder tão grande como o Maranhão. Em todos os Estados do Brasil aconteceram alternâncias de poder. No Pará aconteceu, no Piauí - do nosso lado - aconteceu, no Ceará há vinte anos aconteceu, Tocantins aconteceu, Amazonas aconteceu, na Bahia... em todo lugar aconteceu alternância de poder. O Maranhão é o Estado amaldiçoado, o Estado que não tem direito de se desenvolver. Apesar de potencialmente ser a síntese de toda a riqueza do Brasil. A grande diferença é que, em todos os Estados, quem perde hoje ganha amanhã. Mas aqui só um ganha sempre. E no momento em que ganhou, que nós ganhamos, eles voltam de novo. A decisão do TSE tem muito a ver com a capacidade que o poder no Estado tem de mostrar a versão deles, a verdade deles, e o poder que eles têm para mostrar a verdade deles para o Brasil.
O senhor esperava uma resistência maior dos 78% de eleitores que votaram em seu governo?
A questão, querida, é que no nosso Estado nós não temos uma consciência política. A maioria das pessoas nas cidades nem sabe ainda o que aconteceu, muita gente nem acompanhou. A comunicação é só deles. Eles detêm 95% dos meios de comunicação. A verdade é a verdade que eles passam, a versão é a versão que eles passam. Nós não temos voz no Estado. Logo, foi muito difícil mobilizar. Mas na minha cidade, Imperatriz, a segunda cidade do Estado, onde tivemos a maior votação dois anos atrás, uma pesquisa a que tive acesso, que eles (governo Sarney) fecharam três dias atrás, ela (Roseana) tem 90% de rejeição lá e nós temos 90% de aprovação, segundo pesquisa nossa. Mas acho que não vale mais nada disso, já aconteceu, o jeito é a gente aceitar e avaliar onde acertamos e onde erramos. E dizer que o sonho não morreu, que a gente precisa continuar. É difícil mobilizar um povo onde durante oito anos, a governadora construiu 3 escolas, no estado com maior índice de analfabetismo do País! Em dois anos e três meses, o governador entregou 181 escolas! Mas o Brasil não sabe disso. Então esse povo que não tem informação, não tem conhecimento, é como uma ovelha muda que vai para o matadouro sem saber.
Dois anos atrás quando foram eleitos, o que aconteceu? A "ovelha muda" reagiu?
Reagiu pela proposta de mudança. Vamos romper com essa opressão, vamos quebrar os grilhões! Saímos de cidade em cidade, a igreja se mobilizou, a classe política... o governador tem relação enorme com tudo o que é movimento social. O povo se mobilizou para isso. De tal sorte que houve um levante do povo mais pobre neste sentido e aí é que nós ganhamos, por pouco, mas ganhamos. É claro que, na atual conjuntura, nós estamos aqui, os prefeitos têm medo porque há um mito aqui que ninguém pode contra eles (família e aliados de Sarney). Na iminência dela (Roseana) assumir, nós tivemos quase 70% dos prefeitos, mas boa parte deles hoje está em cima do muro e outra parte já está passando para o outro lado. Por quê? Com medo da chantagem, da perseguição, essas coisas todas. Nós vivemos num estado atípico. Só alguém vindo aqui para estudar o Maranhão, conversar com o povo, para vai saber de fato o que é o Maranhão, tão rico, mas para paradoxalmente tão empobrecido, apesar de tantas coisas boas que aconteceram nesse período (governo Lago), que tirou a gente do fim da fila, mas ainda assim estamos longe do que deveríamos ser.
Fonte: Terra Magazine
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