sábado, 25 de abril de 2009

O neojornalismo do “não-sei-se-não-é”

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por Luis Nassif

Depois da bola fora da “ditabranda”, a Folha recuou no caso da ficha de Dilma Rousseff no DOPS (clique aqui).

Hoje, meia página de semi-mea culpa. Porque semi?

Primeiro, admite que a foto chegou por email. Depois, que a provável fonte é um site do Grupo Inconfidência, de militares e civis defensores do Regime Militar.

Pelo menos desde novembro a ficha está na internet, destacadamente em sites que se opõem à provável candidatura presidencial de Dilma.

Vai atrás do grupo e constata o seguinte:

Seu criador, o tenente-coronel reformado do Exército Carlos Claudio Miguez, afirma que a ficha “está circulando na internet há mais de ano”. Sobre a autenticidade, comentou: “Não posso garantir. Não fomos nós que a botamos na internet”.

Vai até o pesquisador dos arquivos do DOPS, que diz o seguinte:

“Essa ficha não existe no acervo”, diz o coordenador do arquivo, Carlos de Almeida Prado Bacellar. “Nem essa ficha nem nenhuma outra ficha de outra pessoa com esse modelo. Esse modelo de ficha a gente não conhece.”

Finalmente, o mea culpa? Em termos.

O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha era o “arquivo [do] Dops”. Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada -bem como não pode ser descartada.

Fantástico! Lembra a matéria da Veja sobre as tais contas de autoridades brasileiras no exterior. Dizia não poder garantir que eram verdadeiras, mas também não podiam garantir que eram falsas. E aproveitava para ressaltar que Daniel Dantas tinha mais munição na pistola. O mesmo fuzuê que, anos atrás, o Fernando Rodrigues fez com a massaroca de papéis que recebeu do Egberto Batista, batizado de “dossiê Cayman”.

O que está por trás disso? O receio de um superprocesso. A Folha avalizou uma fraude intencionalmente. Digo intencionalmente porque não houve punição, demissões e outras providências que se tomam contra falhas graves. Pelo contrário, ela trata uma fraude óbvia como se fosse um “erro técnico”:

Ao classificar a origem de cada documento, o jornal cometeu um erro técnico: incluiu a reprodução digital da ficha em papel amarelo em uma pasta de nome “Arquivo de SP”, quando era originária de e-mail enviado à repórter por uma fonte.

Na mesma edição em que promove essa semi-mea culpa, sem chamada de capa, ela insinua - com chamada de capa - doença grave de Dilma Roussef.

Fonte: Luis Nassif Online

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