terça-feira, 21 de abril de 2009

O morto-vivo da Miriam Leitão

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Crise revela morte do neoliberalismo

Gazeta Mercantil -
por Leda Rosa - Entrevista com Michael Hardt

A possibilidade da formação de um bloco político com feições mais à esquerda, composto por Brasil, Venezuela, Equador, Bolívia e Paraguai foi um dos mais importantes ganhos da nona edição do Fórum Social Mundial (FSM), que reuniu cerca de 100 mil ativistas em Belém para discutir a Amazônia e a crise da economia mundial. Esta é a opinião do professor Michael Hardt, da Duke University (EUA), e fiel participante das edições anteriores do evento. Para ele, o autor de "Império e Multidão - Guerra e democracia na Era do Império", o FSM cumpriu seu papel de reunir os movimentos sociais. Sobre a crise da economia, Hardt diz, em entrevista, que a turbulência marca a morte do neoliberalismo e do unilateralismo norte-americano.


GM - Há seis anos, no Fórum Social de Porto Alegre, o senhor já reclamava que o Fórum deveria propor mais idéias. Quais seriam as três principais propostas deste Fórum Social?

Infelizmente, seis anos atrás, o jornalista me entendeu mal. O que eu disse é que o Fórum não tem idéias e que o Fórum não deverá ter idéias ou tomar decisões. Em vez disso, é um espaço para os movimentos sociais se unirem e encontrarem-se. São os movimentos que devem propor idéias e tomar decisões. E os movimentos sociais têm muitas, muitas idéias - tantas, na verdade, que sou incapaz de elencar as três principais.

GM - A crise sepulta o neoliberalismo ou se trata apenas de queda importante mas passageira?


A crise atual marca a morte de gêmeos: o neoliberalismo e o unilateralismo dos Estados Unidos. Neoliberalismo e unilateralismo norte-americano, evidentemente, não são a mesma coisa, mas formaram um par indissociável, no mínimo, durante a década passada. Depois de uma série de falhas (militarmente no Iraque e no Afeganistão, economicamente com os fracasso das políticas econômicas baseadas no Consenso de Washington em todo o mundo, e a incapacidade de obter consenso político de outros países), a crise marca a morte destes gêmeos. Os mortos, infelizmente, ainda devem continuam por aí durante alguns anos e ainda podem causar danos, mas já estão mortos.

GM - E como o Império vai agir a partir de agora?

As mortes daqueles gêmeos determinam um período de reorganização interna das hierarquias do Império. Os Estados Unidos já não podem comandar os temas políticos e econômicos e o capital global. Devem procurar uma nova estratégia de gestão e controle.

GM - Neste contexto, que papel caberia à América Latina?


A reunião dos cinco presidentes [Luis Inácio Lula da Silva (Brasil), Evo Morales (Bolívia), Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai)] em Belém representa um forte desenvolvimento de uma possível integração. Um bloco regional de governos esquerdistas na América Latina poderia ter o poder para reorganizar profundamente o sistema global e fornecer contrapeso para os Estados Unidos, Europa e os outros países dominantes.

GM - Como vê o acirramento das medidas de caráter nacionalista, como a adoção de maior protecionismo no comércio mundial?


A atual crise econômica demonstra como todas as relações econômicas estão devidamente globalizadas e que os países, isolados, não fazem frente à turbulência. Os ministros da área econômica são obrigados a colaborar entre si em suas estratégias para enfrentar a crise. A crise demonstra, mais do que nunca, como os processos de globalização são irreversíveis.

GM - O senhor diz que os Estados Unidos não terão êxito em um projeto global unilateral. A diretriz de Obama, para que seus diplomatas primeiro ouçam os outros países já reflete esta nova postura?

A eleição de Obama é um reconhecimento de que o unilateralismo norte-americano está morto. No que diz respeito à América Latina, ficou claro, pelo menos, desde as reuniões de Mar de Plata [sede da 4ª Cúpula das Américas, realizada em novembro de 2005, na qual os 34 países da região rejeitaram a proposta americana para estabelecimento da Área de Livre Comércio das Américas (Alca)], que os Estados Unidos não podem ditar as linhas políticas e econômicas, como aconteceu no passado.

GM - E como o presidente americano deve pautar as relações com a América Latina?


Obama está procurando uma nova forma de os EUA colaborarem com os países dominantes no mundo, invocando muitas vezes os modelos antigos (de presidentes como Franklin Roosevelt e John Kennedy). Ainda não está claro que tipo de papel para os EUA o governo Obama implementará, mas está claro que os dias de unilateralismo chegaram ao fim.

Fonte: Vi o Mundo

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