Crise ameaça frear o ritmo de expansão da UE
13/4/2009
no Jornal do Comércio
A crise financeira internacional e a recessão nos países do Leste Europeu ameaçam frear o ritmo de expansão da União Europeia (UE). Nos bastidores, França e Alemanha alertam que não está na hora de acelerar o processo de adesões, principalmente diante da constatação de que a quebra de um dos novos membros significa uma conta pesada para os governos do bloco.
Em 2004, dez novos países foram aceitos na União Europeia. Três anos depois, o processo foi completado com a adesão de Bulgária e Romênia. De 15, passou a ter 27 membros. Agora, sete novos países pedem que sua inclusão seja acelerada, incluindo Albânia, Bósnia, Croácia, Macedônia, Montenegro e Servia. Alguns dos países que rejeitam as novas adesões usam o argumento de que, primeiro, o Tratado de Lisboa precisará ser ratificado. Ele estabelece a necessidade de reformas do processo de tomada de decisões da UE, mas sua adoção foi interrompida diante do resultado negativo no referendo na Irlanda, em 2008.
"Não haverá nenhuma nova ampliação se não tivermos a ratificação do Tratado de Lisboa", afirmou o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner. Berlim deu o mesmo recado. A chanceler Angela Merkel insinuou que estaria na hora de a UE fazer "uma pausa" nos processos de adesões, principalmente diante das eleições europeias, em junho.
Para seu partido, a União Democrática Cristã, a "consolidação da identidade e das instituições da UE devem ter precedentes sobre novas adesões". Parte das declarações, porém, tem um aspecto local. Pesquisas de opinião apontam que há uma resistência dos cidadãos em aceitar que, em meio à crise, o bloco inclua novos membros, com novos custos e novas obrigações. Neste ano, Merkel enfrenta eleições gerais.
A crise mostrou que países como Hungria, República Checa e Lituânia podem ainda ser vulneráveis economicamente, criando a obrigação por parte da UE de ajudar um país membro do bloco a evitar um default. Para o ministro de Relações Exteriores da Lituânia, Vygaudas Usackas, os países candidatos terão de ter "muita paciência".
A Croácia pode ser a primeira vítima. O país esperava a conclusão das negociações de sua adesão ainda em 2009, na perspectiva de se tornar o 28º membro da União Europeia em 2011. Mas a Comissão Europeia deixa claro que é contra essa pausa. Olli Rehn, comissário da UE para a Ampliação, alertou que o Tratado de Lisboa ou a crise "não podem ser desculpa".
O ministro sérvio de Relações Exteriores, Vuk Jeremic, também fez um alerta: se a UE não aceitar dialogar com futuros membros, "as coisas vão ficar muito complicadas nos Bálcãs". Seu recado é de que nacionalismos podem ressurgir. Hoje, estima ele, conflitos estão sendo mantidos sob controle diante do temor da população e dos partidos de que uma crise política afaste ainda mais o país de uma eventual adesão à UE.
Mas, sem uma perspectiva de adesão, as tensões podem ressurgir na região que somou mais de 250 mil mortos nos anos 1990. Em Bruxelas, a percepção é de que a ampliação é também uma estratégia para garantir a paz na região. "O outro nome para ampliação é estabilização", afirmou Rehn. O ministro de Relações Exteriores da Suécia, Carl Bildt, também teme que fechar as portas da UE aos países do Bálcãs pode ter um efeito negativo.
Mas os obstáculos reais à adesão dos sete são profundos. No caso da Macedônia, não há ainda um acordo com a Grécia. Atenas rejeita o nome usado pelo país vizinho, alegando que Macedônia é uma região histórica dentro da própria Grécia. Albânia e Bósnia ainda têm um longo caminho em relação às reformas estruturais.
Já Montenegro teve sua adesão freada recentemente pela Alemanha. Até mesmo no caso da Croácia, a inclusão pode estar comprometida por um problema de fronteiras. A Eslovênia, que já faz parte da UE, veta a ampliação até que Zagreb reconheça suas fronteiras com a Eslovênia.
No caso da Sérvia, a União Europeia exige que, antes que qualquer adesão seja concretizada, Belgrado prenda e entregue criminosos de guerra que ainda estão soltos aos Tribunal de Haia. Isso sem contar com a negociação com a Turquia, rejeitada publicamente pela França
Três governos caem no Leste Europeu em poucas semanas
26/03/2009
Agência France Presse
O governo do primeiro-ministro liberal tcheco, Mirek Topolanek é o terceiro a cair em poucas semanas no Leste Europeu, depois dos da Hungria e da Letônia.
A crise econômica que levou Ferenc Gyurcsany a anunciar a sua renúncia em Budapeste na semana passada e que provocou a queda em Riga do governo de centro-direita de Ivars Godmanis, em meados de fevereiro, não é a causa direta da moção de censura apresentada na terça-feira em Praga pela coalizão de centro-direita. Mas a gestão da crise que interrompeu o boom econômico do país (previsão de retrocesso do PIB de 2% em 2009, após um crescimento de 3,1% em 2008) é um dos principais assuntos em jogo para a formação do próximo governo tcheco.
Na Hungria, Gyurcsany decidiu renunciar depois de não ter conseguido obter a aprovação de seu plano de reativação econômica.
Desde a eclosão da crise financeira em setembro, o dirigente socialista tentou sem êxito conseguir o apoio do Parlamento para esse programa que incluía medidas impopulares em matéria de saúde e de aposentadorias.
Seu governo obteve por parte das instituições financeiras internacionais uma quantia de 20 bilhões de euros quando o país se encontrava à beira da quebra.
Na Letônia, o governo de Godmanis caiu no dia 20 de fevereiro, em um contexto de crescente descontentamento da população.
O país báltico conheceu até 2007 taxas de crescimento de dois dígitos, mas sua economia desabou no ano passado, com uma contração do PIB de 10,5% no último trimestre de 2008. Riga obteve no ano passado 7,5 bilhões de euros por parte do FMI, da UE e de outros credores.
Desde a sua posse, em meados de março, o novo primeiro-ministro, Valdis Dombrovskis, anunciou futuros cortes orçamentários para evitar a "quebra" do país.
As economias de outros dois países bálticos, Lituânia e Estônia, atravessaram a mesma espiral negativa, mas seus governos ainda não parecem estar ameaçados.
A estabilidade política prevalece também em Polônia e Eslováquia, que aparentemente resistem à crise, já que preveem um crescimento positivo para 2009, embora os analistas sejam mais pessimistas.
A nova coalizão entre a esquerda e a direita na Romênia também parece estável.
Fonte: Vi o Mundo
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