| foto: José Cruz/Agência Brasil  O presidente da CPI dos Grampos, Marcelo Itagiba, e o delegado da PF Protógenes Queiroz. Itagiba viveu constrangimento, ao ser acusado por Chico Alencar de vinculação com Daniel Dantas. |
por Claudio Leal
No depoimento à CPI dos Grampos, ontem, o delegado Protógenes Queiroz manteve a linha de centrar fogo na cúpula da Polícia Federal e nos dois inquéritos instaurados contra os investigadores da Operação Satiagraha.
Resguardando-se das perguntas dos deputados sobre dados sigilosos, Queiroz não dosou críticas ao vazamento de seu processo na PF: "Quem produz prova para bandido, bandido é", atacou o responsável pela investigação que levou à cadeia o banqueiro do Opportunity, Daniel Dantas.
O delegado depôs sob a proteção de um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Alberto Direito, que lhe garantiu o direito de ficar calado.
Em resposta ao deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), o delegado declarou que a "perseguição é visível" e os vazamentos têm o "cunho seletivo de favorecer o banqueiro condenado". Para ele, isso prova a "insegurança jurídica" do inquérito comandado pelo delegado Amaro Vieira.
- O banqueiro condenado Daniel Dantas mantém em seus arquivos dados pormenorizados de indivíduos, de pessoas jurídicas, de comportamentos e talvez até de hábitos de algumas pessoas nessa República - disse Protógenes.
O presidente da CPI, o ex-delegado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), viveu o ápice de constrangimento na condução dos trabalhos. Foi interpelado pelo colega Chico Alencar (PSOL-RJ) sobre a parcialidade de mostrar um slide com as contradições de Protógenes. A arte foi encomendada por Itagiba ao seu gabinete, sem consulta prévia aos membros da comissão.
- Eu não fui financiado por alguém que foi sócio do banqueiro Daniel Dantas na campanha! O senhor está sendo parcial na função de presidente! - gritou Alencar.
O deputado do PSOL se referia à doação de R$ 10 mil feita por Dório Ferman, ex-sócio de Daniel Dantas, à campanha do presidente da CPI que, entre outras inúmeras atribuições, investiga grampos ilegais cometidos pelo banqueiro do Opportunity. Depois de reportagem da Folha de S. Paulo, em 2008, Itagiba admitiu a doação e a atribuiu à comunidade judaica representada por Ferman.
Na comissão, naturalmente transtornado, reagiu à reprimenda de Alencar:
- Eu também não coloquei minha verba de gabinete para colocar na campanha de pessoas de outros Estados!
Durante a exemplar lavagem de roupa, Protógenes deu apenas uma olhadela para conferir o brado de Itagiba.
O delegado da PF esclareceu ainda detalhes do "Projeto Guarda-Chuva", elaborado por Daniel Dantas em 1992; segundo Queiroz, com a participação e a assinatura do ministro da Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger.
O acordo previa o uso do dinheiro de fundos de pensão para participar do programa do governo brasileiro de privatizações e de negócios relacionados a recursos minerais. A Transposição do Rio São Francisco estaria citada nesse documento. Queiroz realçou o interesse de Dantas pelas riquezas do subsolo nacional:
- Existe dados de riquezas, de minérios estratégicos negociados para fora do País, sem conhecimento de autoridades.
No correr do depoimento, em tom irônico, o deputado Raul Jungmann pediu ao delegado que desse "nome aos bois", como prometera em entrevistas.
Numa estratégia de retórica, para realçar os desvios de finalidade da "CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas", Protógenes iniciava todas as respostas com uma frase padrão:
- Excelentíssimo Senhor presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito cujo objetivo jurídico é investigar interceptações telefônicas clandestinas, deputado federal Marcelo Itagiba...
Terra Magazine interrompeu a contagem na 74ª repetição. A frase, em sua versão completa, valia em especial para Itagiba e o relator, Nelson Pellegrino (PT-BA).
- Excelentíssimo Senhor relator da Comissão Parlamentar de Inquérito cujo objetivo jurídico é investigar interceptações telefônicas clandestinas, deputado federal Nelson Pelegrino...
Perto do final, o presidente da CPI já não escondia a irritação. Punha a mão na cabeça, meio de lado, e ao fazer a menor pergunta fora do foco, ouvia outra vez o quase mantra:
- Excelentíssimo Senhor presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito cujo objetivo jurídico é...
E a mão de Itagiba voltava à orelha.
A urgência do encerramento ficou evidenciada pelo deputado Paulo Lima (PMDB-SP), que minutos antes misturara os votos de Feliz Páscoa com um panegírico às operações da PF. Num tom de gravidade, Lima comunicou à mesa que recebeu telefonemas anônimos, de Brasília, com xingamentos e ameaças. Pediu providências rigorosas. Para o pasmo nacional, farejou:
- A pessoa provavelmente está nos assistindo...
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Fonte: Terra Magazine
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