Por Luciano Martins Costa
Representantes dos vinte países mais influentes do mundo se reúnem para discutir soluções para conter a maior crise econômica dos tempos modernos e redirecionar os negócios globais para um patamar mais sustentável.
Na véspera do encontro histórico, quem, entre nossos ouvintes e leitores de jornais, pode afirmar que a imprensa lhe preparou um quadro satisfatório de informações sobre o que vai ser discutido, que alternativas estão colocadas, qual o cenário geopolítico em que os debates vão se realizar, e, principalmente, quais serão as consequências possíveis para o cidadão comum, de cada uma das propostas que estarão em jogo?
Com certeza poucos, raros cidadãos, podem afirmar que estão satisfatoriamente informados sobre o mais importante evento das relações internacionais neste início de século.
Sabe-se, por exemplo, que os Estados Unidos e a Europa têm uma divergência essencial quanto à necessidade ou a conveniência de se fazer uma reforma ampla nas instituições multilaterais de apoio ao desenvolvimento.
Sabe-se também, vagamente, que os chamados países emergentes pressionam por mais protagonismo nas decisões globais.
Sabe-se, da mesma forma, que o fantasma do protecionismo ameaça jogar no lixo todas as decisões que vierem a ser tomadas na cúpula dos dirigentes mais poderosos do mundo.
Mas o que sabe o leitor de jornais, por exemplo, sobre a agenda brasileira no encontro?
Sabe que o presidente da República adotou um discurso agressivo contra os países ricos e produziu manchetes com suas declarações a respeito da culpa dos banqueiros brancos de olhos azuis.
Mas o noticiário internacional parece contaminado pela agenda empobrecida que define o que se publica por aqui sobre nossas próprias chances de passarmos mais ou menos incólumes pela crise.
Haverá sobre a mesa de negociações uma série de propostas que dizem respeito às chances de o Brasil sair fortalecido desse evento, como as negociações sobre biocombustíveis e financiamentos agrícolas, mas esse tipo de informação só se encontra em sites especializados na internet.
Os jornais parecem mais atentos aos discursos do que aos acontecimentos.
Fugindo do assunto
Os jornais passaram os últimos dias noticiando e discutindo as medidas de incentivo à economia anunciadas pelo governo brasileiro. Ao mesmo tempo, acompanharam com detalhes a queda de braço entre o governo de Barack Obama e as indústrias de automóveis, com os consequentes debates sobre os limites de intervenção do Estado nos negócios privados.
Da mesma forma, o leitor acompanhou o noticiário sobre novos indicadores, que apontam sinais de recuperação da economia brasileira e os primeiros resultados das medidas de emergência nos Estados Unidos.
Mas a imprensa brasileiras passou ao largo de questões essenciais, que foram apresentadas ao público logo nas primeiras semanas após a eclosão da crise, no final do ano passado, por analistas econômicos: a principal delas é a urgência de paradigmas que direcionem a economia mundial para as metas da sustentabilidade.
Apenas para exemplificar: aqui no Brasil, o governo anunciou um pacote de medidas de estímulo à construção civil, paralelo ao projeto de financiamento para a construção de um milhão de casas.
Com exceção de um ou outro raro comentário, em notas avulsas, não entrou no debate a questão do incentivo à venda de chuveiros elétricos, que são, segundo os especialistas, responsáveis por 20% do consumo de eletricidade numa residência.
O chuveiro é um detalhe do debate que nunca acontece: em qualquer projeto de desenvolvimento, a questão da eficiência energética deveria vir em destaque, como pressuposto de qualquer iniciativa de política pública.Mas, passados mais de dois anos da comprovação científica das causas do aquecimento global, a imprensa ainda não entendeu, ou finge não entender, o que realmente está em jogo nessa crise.
No começo das turbulências financeiras em Wall Street, alguns analistas chegaram a levantar a questão da necessidade de novos paradigmas na economia mundial.
Mas a questão da sustentabilidade passou pelos jornais como um cometa fugaz.
Fonte: Observatório da Imprensa
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