quinta-feira, 2 de abril de 2009

Lula colhe os trunfos da afirmação internacional do país

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Como se não bastassem a foto ao lado da rainha Elizabeth II, a menção que recebeu do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ou a recepção calorosa que lhe foi devotada pelo francês Nicolas Sarkozy, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda foi contemplado hoje com uma demonstração rara de apreço do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.



Obama e Lula diante do primeiro-ministro da Austrália

A cena em que o americano o introduz na roda de conversa com o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Tudd, registrada em detalhes pelas câmeras de televisão, vai entrar para a antologia da diplomacia brasileira. ''Ele é o cara'', disse, referindo-se a Lula, que se aproximava dos interlocutores. ''Adoro esse cara'', acrescentou Obama, que completou a saudação com uma frase ainda mais emblemática: ''É o político mais popular da terra''.

O episódio confirma a expectativa de que o presidente Lula contasse com uma recepção calorosa nos salões dos países mais poderosos do mundo e realçasse o crescente protagonismo brasileiro no cenário internacional. Mas a eloquência dos gestos e das imagens foi muito além do que poderia sonhar a assessoria do Palácio do Planalto, que contava com a reunião do G-20, o grupo das principais economias mundiais, para sustentar os índices internos de popularidade do presidente e de seu governo.

No dia anterior, Lula já havia registrado também diante das câmeras a frase que vale pela construção de todo um discurso de governo e de campanha eleitoral: ''O Brasil não vai agir como se fosse um país pequeno, sem importância''. O presidente se referia à possibilidade de que o governo brasileiro contribua com recursos para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) possa ampliar sua atuação em socorro aos países mais afetados pela crise financeira internacional.

Para as gerações de brasileiros que se acostumaram a testemunhar os recorrentes movimentos do País em busca de amparo do Fundo Monetário para superar os dramáticos episódios de estrangulamento de seu balanço de pagamentos trata-se de um registro histórico. Ao invés de negociar os duros programas de ajuste econômico a que se submeteu ao longo de duas décadas para ter acesso aos recursos do FMI, o governo brasileiro cuida agora de acertar as condições em que utilizará parcela de suas reservas internacionais para compor os recursos adicionais necessários à instituição.

A simbologia dessa mudança não pode ser subestimada em termos políticos. Não é apenas o operário de origem nordestina que abre as portas dos salões do mundo. Boa parte da sociedade brasileira, inclusive dos segmentos de classe média, também se sente incluída, junto com o presidente, nessa coreografia em que o Brasil habitualmente fica do lado de fora. É esse cenário longínquo, e que normalmente frequenta apenas as salas de televisão em que as famílias assistem os telejornais, que passa a ser habitado também por Lula.

É possível argumentar, como concordam os partidos de oposição, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também foi distinguido com honrarias nos gabinetes e auditórios mais prestigiados do mundo. Mas um presidente poliglota, de origem acadêmica, que se insere nas mais importantes linhagens intelectuais do mundo, distingue-se da maioria da sociedade brasileira. Lula, ao contrário, é um igual, aquele que ao ascender socialmente simboliza a ascensão de toda uma sociedade.

Com Lula não vale a pecha que os partidos então na oposição, como o PT, conseguiram colar em Fernando Henrique - o presidente viajante, mais interessado em frequentar os salões elegantes da diplomacia do que percorrer o país empobrecido e marginalizado que o cercava. Na política, os símbolos podem ser mais relevantes do que os fatos concretos. Mesmo que o ex-presidente tenha se valido de seu prestígio pessoal para inserir o Brasil de maneira positiva no contexto internacional, restou-lhe uma imagem distorcida pelos opositores.

O manejo das cenas geradas pela incursão de Lula no mundo do poder em escala global vai garantir ao governo pontos preciosos de impacto junto à opinião pública interna. A construção do discurso de soberania é igualmente relevante e deve marcar, como já tem sido feito com insistência, a pregação governista nas próximas eleições de 2010. Se for mesmo escolhida como candidata a herdeira do presidente Lula, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, começa a sua caminhada com o trunfo da afirmação do País no palco internacional.

Fonte: Agência Estado/Vermelho

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