quarta-feira, 8 de abril de 2009

Fome e exclusão social

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por Claudionor Mendonça dos Santos*

A Constituição da República Federativa do Brasil diz que constituem seus objetivos, dentre outros, a erradicação da pobreza e a marginalização, com a redução das desigualdades sociais e regionais, com a promoção do bem de todos, sem quaisquer discriminações.

Diz, também, que é direito do trabalhador salário mínimo capaz de atender às suas necessidades básicas concernentes à alimentação, educação saúde etc.

Apesar disso, uma das grandes mazelas da sociedade brasileira reside exatamente na existência de um grande contingente de pessoas que não têm acesso à alimentação adequada, passando por sérias dificuldades, destruindo indelevelmente parte da população infantil que carregará para o resto da vida seqüelas deixadas pela fome, na primeira infância.

Cogita-se que cerca de trinta milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, correspondente à população da vizinha Argentina, verdadeira horda de marginalizados de quem se retirou a possibilidade de serem intitulados cidadãos.

A globalização estabeleceu parâmetros que nivelam tudo e todos. Assim, o alimento não pôde fugir a tal regra. Obviamente, o alimento é universal e geral. Diz respeito a todos e os americanos, como povo hegemônico, impuseram seu alimento básico: fast food, ou seja, alimento rápido e, por causa disso mesmo, pode-se comer em pé, misturando doce com salgado, sendo o ato de comer, entre eles, conduta que pode ser considerada profundamente individual.

Roberto da Matta ensina a diferença entre comida e alimento, ao dizer que alimento é tudo aquilo que pode ser ingerido para manter a pessoa viva, enquanto comida é tudo aquilo que se come com prazer, conforme as regras mais sagradas de comunhão.

Explica, ainda, que o alimento é como uma grande moldura, mas a comida é o quadro, aquilo que foi valorizado e escolhido entre os alimentos e que deve ser saboreado com os olhos e depois com a boca, o nariz, a boa companhia e, finalmente, o estômago.

No caso brasileiro, em face das agruras de grande parte da população, talvez seja necessário invocar-se o poema que deveria chegar aos ouvidos dos mandatários da nação, relembrando-os de que gente é para brilhar e não para morrer de fome.

Fome, principalmente de saúde, educação, transporte, segurança, emprego, enfim fome de cidadania.

*Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e membro do Ministério Público Democrático.

Fonte: Correio da Cidadania

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