domingo, 12 de abril de 2009

As 250 caixas da Kroll

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por Luis Nassif

Passou despercebida da maioria da opinião pública a sinuca de bico em que o Delegado Protógenes deixou a CPI do Grampo.

A questão central foi a informação que Protógenes jogou no seu depoimento e da qual só haverá uma maneira de ignorar: encerrando melancolicamente a CPI.

Veja bem, a CPI se dispõe a investigar escuta clandestina. Um álibi capenga, já que até agora só centrou fogo em escuta legal, do Estado brasileiro.

Para demonstrar neutralidade, no entanto, tanto Itagiba quanto Raul Jungman - outro que se expôs bestamente como leão de chácara - anunciaram de público seu propósito de estender as investigações Daniel Dantas. Era o mínimo.

Acontece que no seu depoimento, Protógenes lembrou das 250 caixas do processo da Kroll.

A história dessas caixas começou quando a Brasil Telecom, logo que Dantas foi deposto, descobriu que ele pagara US$ 40 milhões a Kroll e não tinha um comprovante sequer na contabilidade. A BrT acionou a Kroll.

Na Justiça de Nova York, seus advogados pediram um “discovery” ao Juiz. Equivale a uma busca e apreensão com um agravante: se não entregar tudo o que foi solicitado, e se descobrir mais tarde, vai todo mundo em cana.

A Kroll acabou entregando 250 caixas, coalhadas de comprovações das atividades ilegais de Dantas, com grampos e outras jogadas. Grampos ilegais - justamente o mote da CPI dos Grampos. Há de tudo, troca de emails entre ele e a Kroll, entre executivos do Opportunity, com informações variadas sobre privatização, sobre inimigos, sobre políticos.

Esse material - no qual a Kroll confessa ter feito trabalho ilegal para Dantas - está com muita gente, inclusive com a ABIN (Agência Brasileira da Inteligência). A maior parte do trabalho dos agentes da ABIN tem sido o de filtrar as escutas ilegais de Dantas.

Quando Protógenes menciona as caixas na CPI, como é que se faz? Não dá para esconder debaixo do tapete. A Veja desta semana diz que os erros de Protógenes impedirão de desmascarar um “bandido” - olha só, chamando o próprio aliado de “bandido”. O próprio Itagiba, através de um telefonema de um conhecido comum, mandou me avisar que jamais permitiria qualquer coisa que pudesse ajudar Dantas.

Então é simples. Como essas caixas não estão cobertas por sigilo, basta a CPI solicitar. Em vez de rascunhos de trabalho, anotações não oficiais no computador do Protógenes, terá o mais rico material jamais juntado no país sobre espionagem e grampo ilegal: o próprio mapa da República do Grampo.

Fazendo isso, satisfará certamente Gilmar Mendes - o principal adversário da República do Grampo -, a Veja - que, na última edição, mostra-se preocupada com a possibilidade de Dantas se safar -, e todos os jornalistas que diziam que a ação de Protógenes poderia beneficiar Dantas.

Que tal, bravos escoteiros? Mãos à obra. É a hora de provar à opinião pública que o nobre objetivo de todos é combater o grampo clandestino. A bola está quicando na área com o gol vazio. É só chutar.

Fonte: Luis Nassif Online

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