quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um contraponto - Crise na Usp - por Luis Nassif

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Crise da USP: um estado sem liderança

por Luis Nassif

Não aprovo a maneira como o Sindicato dos Funcionários da USP atua. Vídeos colocados no Youtube por alunos da Poli mostram uma agressividade incompatível com o ambiente acadêmico. Condeno também o uso de piquetes para impedir professores e alunos de frequentarem as aulas.

Vou além: acho que a democracia na Universidade consiste em prestar contas aos contribuintes e à comunidade em geral. Essa história de pensar a Universidade como um ser autônomo, alvo de disputa de poder entre Conselho Universitário, professores, funcionários e alunos não cola. A Universidade deveria ser um centro de excelência, com metas definidas de produção acadêmica e formação de alunos, critérios de acompanhamento da qualidade, e com gestão profissional que colocasse todas as forças a serviço do cumprimento de sua missão.

Mas voltemos ao mundo real.

Tem-se um problema concreto: um sindicato agressivo e métodos condenáveis de impedir as aulas. Na outra face da moeda, tem-se uma gestão amadora, com acadêmicos assumindo funções de gestor sem entenderem do riscado, grupos internos se digladiando e esse amadorismo todo alimentando o ressentimento de funcionários e alunos.

Deslindar esse nó é função política das mais relevantes e está acima das atribuições da reitoria - que é parte do problema, não da solução. O que remete a cobrança ao governador José Serra. Teoricamente, ele seria o representante dos cidadãos e contribuintes de São Paulo para resolver uma questão essencial para o estado e para o país, que são esses problemas que amarram a USP.

E o que faz o governador? De um lado, insufla a radicalização da reitoria; de outro, tira o corpo.

Compare essas duas notas da Folha de hoje.

Aqui, as declarações de Serra em um evento na Vila Mariana:

A questão é a seguinte: o governo está cumprindo ordem judicial. A reitora pediu segurança e o governo não tem outra alternativa senão cumprir a ordem judicial, dada por um juiz”, afirmou Serra.

E aqui outra nota, na própria Folha, mostrando a pressão que a reitora sofreu em 2007, ao demorar a pedir a intervenção da PM:

Em 2007, reitora foi criticada por “vetar” a polícia

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2007, durante a invasão de alunos à reitoria da USP, a reitora Suely Vilela foi criticada por membros do governo José Serra (PSDB) e por parte da comunidade acadêmica por não ter permitido que a polícia cumprisse a ordem de reintegração de posse. A reitoria ficou ocupada por 50 dias.
Vilela disse na época que o Executivo havia demorado para esclarecer decretos que, para os manifestantes, feriam a autonomia universitária. Os invasores concordaram em sair após a reitora aceitar, por escrito, quase todas as suas reivindicações.

Segundo a Folha apurou, naquele episódio a reitora impediu que a polícia entrasse no prédio por temer um forte desgaste. No caso de ontem, dizem pessoas próximas a Vilela, ela quis mostrar força. (FÁBIO TAKAHASHI)

Em todos os episódios críticos do governo, o comportamento de Serra tem sido o mesmo. Na greve da Polícia Civil, ficou imobilizado, deixando o barco correr até que houve o confronto. Uma semana depois do confronto, recuou em todas as frentes: permitiu que a aposentadoria da Polícia caísse de 35 para 30 anos de trabalho, indo contra seu discurso histórico, de não jogar a conta para as gerações posteriores.

Na crise anterior da USP, a mesma trapalhada. Solta um decreto que dá margem a interpretações dúbias, mas dentro de uma lógica necessária de começar a articular as ações das Universidades dentro da uma lógica do estado. Houve a reação. Serra deixou a corda esticar até arrebentar. Depois do balde entornado, simplesmente abandonou o projeto original.

Na crise atual, seu papel deveria ser montar uma estratégia que permitisse esvaziar o radicalismo, atender às demandas legítimas, recusar as ilegítimas, impedindo o confronto, dentro de um quadro de articulação política com forças internas e externas à Universidade.

Mas seguiu a regra que vem adotando sempre: inércia, inércia, inércia, insuflando o confronto numa ponta e tirando o corpo na outra.

Fonte: Luis Nassif Online

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