terça-feira, 9 de junho de 2009

Libertado da escravidão é encontrado morto na Bahia

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por Leonardo Sakamoto

Um trabalhador foi encontrado morto na noite desta segunda (08) em Jaborandi, no Oeste baiano. Segundo informações dos presentes, ele teria sido assassinado durante uma briga com mais duas pessoas, que estão foragidas. O caso seria mais uma (como sempre, desnecessária) história de morte se o pano de fundo não fosse uma das mais complicadas libertações de escravos dos últimos tempos.

Os três envolvidos faziam parte de um grupo de 174 libertados de uma carvoaria no município, que estão há duas semanas esperando o pagamento de seus salários e dos direitos trabalhistas, que vem sendo postergado pela empresa responsabilizada pela situação - a Rotavi Industrial - e seus advogados. Até a alimentação foi cortada para tentar dispersar os trabalhadores. O Ministério do Trabalho e Emprego comprou mantimentos aos libertados enquanto, junto com o Ministério Público do Trabalho, lutam por uma solução.

É obvio que não se pode fazer uma relação direta entre a morte e o comportamento da empresa. Mas a situação criada pela recusa em tomar providências contribuiu para a elevação das tensões no local.

Segundo informações do grupo móvel de fiscalização do governo federal, o carvão vegetal é utilizado na fabricação de liga-leve, produto da cadeia produtiva da indústria automobilística. De acordo com o auditor fiscal do trabalho e coordenador da ação Klinger Moreira, os trabalhadores não tinham carteira assinada e não recebiam regularmente. Parte da alimentação era oferecida pelos empregadores, mas itens complementares eram vendidos - e depois descontados do “virtual pagamento” - a preços abusivos aos empregados. Dois “gatos” (aliciadores de mão-de-obra e intermediários da empreitada) atuavam na fazenda, localizada na proximidades da divisa com o Estado de Goiás. Parte dos trabalhadores relataram que estavam há três meses no local sem receber absolutamente nada.

A operação, que começou no dia 27 de maio, ainda não terminou porque a empresa responsabilizada pelo ocorrido - a Rotavi é dona da propriedade, montou a estrutura das carvoarias e aproveita integralmente a produção - se recusou a dar uma solução que contemplasse o pagamento dos direitos dos trabalhadores. De acordo com a Rotavi Industrial, os trabalhadores da carvoaria não são seus, mas de empresas terceirizadas que lhes prestavam serviço. Os fiscais, porém, não encontraram contratos regulares entre a Rotavi e as terceirizadas, e mesmo que houvesse esse acerto formal, de acordo com a lei, a empresa também responde pelas condições trabalhistas encontradas.

O Grupo Rotavi, que atua ainda nas áreas de transporte e mineração, tem como clientes empresas de grande porte como White Martins, Mannesmann, Grupo Votorantim, Gerdau e Metalsider.

Fonte: Blog do Sakamoto

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