sexta-feira, 17 de abril de 2009

Yeda vai para a ilha de um banqueiro de Minas

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por Cristóvão Feil


Governadora descansa com líder dos cansados

Todos os anos – já está na oitava edição – acontece um evento promocional do grupo hoteleiro Transamérica, na ilha baiana de Comandatuba.

Os hotéis Transamérica pertencem ao grupo Alfa, do milionário mineiro Aloysio de Andrade Faria, hoje, com 89 anos de idade. Faria é um velho banqueiro brasileiro.

Anos atrás, em 1998, o banqueiro vendeu o seu tradicional Banco Real ao holandês ABN Amro Bank. Fundou, então, o Banco Alfa, voltado ao segmento “personal banking” para clientes de fino trato, quase todos rentistas e compradores de papéis da dívida pública brasileira, que paga os juros mais altos do mundo, já há muitos anos.

Todo o santo ano, essa faixa da população brasileira – cerca de 200 mil pessoas muito ricas – embolsam o equivalente a 150 bilhões de reais da riqueza brasileira – não gerando nenhum emprego sequer.

Ano passado, a revista Forbes informou que o banqueiro Aloysio de Andrade Faria foi classificado como o sétimo homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em 3,7 bilhões de dólares.

Assim, o Grupo Alfa contrata o jornalista e promotor de eventos João Doria Júnior para organizar um “meeting” anual variado, de empresários e autoridades estaduais e federais de múltiplos partidos. As pessoas assistem conferências – ano passado o tema foi Educação – e desfrutam das comodidades de um hotel de primeira linha, na paradisíaca ilha baiana de Comandatuba. Milton Friedman dizia que não existe almoço de graça, mas neste evento do ex-líder do “Movimento Cansei”, é tudo grátis, da passagem aérea ao vinho tinto italiano, safra 1978. Certamente, o “centro de custo” do investimento fica no Banco Alfa, já que Doria Júnior é apenas o animador fashion do faustoso acontecimento.

Esses eventos organizados para a fabulação do poder confirmam aquilo que Sérgio Buarque chamava de ordem cordial das elites brasileiras, uma aproximação calculada para fazer da subjetividade dos agentes públicos o alvo privilegiado de futuros negócios privados. O cenário edênico, a comida farta, a bebida espirituosa dissolvem resistências, aproximam distâncias, oportunidades e semeiam a imaginação de um porvir repleto de realizações pessoais para todos os convivas.

Em maio de 2005, a revista “Veja São Paulo” (a popular Vejinha) fez a seguinte pergunta ao jornalista João Doria Júnior:

"É verdade que no Rancho Doria, sua mansão em Campos do Jordão, ao voltar de um passeio a pé, os hóspedes antes de entrar na sala têm seus tênis limpos por um empregado?"

Júnior respondeu: ”Fazemos de tudo para ter a qualidade de um hotel cinco-estrelas. Tenho um bom time que poderia muito bem trabalhar em qualquer hotel dessa categoria. Eu e a Bia (sua mulher, a designer de jóias Bia Doria) gostamos muito de receber. As pessoas que convidamos para ficar lá são sempre muito bem tratadas e usufruem esse tipo de cuidado, sim”.

Como se pode deduzir, a governadora escolhe muito bem as suas companhias de feriados prolongados. Enquanto o Estado está submerso em epidemias de tempos medievais, a governadora regala-se com tratamento de rainha de Sabá.

Coisas da vida.

Fonte: Diário Gauche

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