segunda-feira, 13 de abril de 2009

Palácio do Planalto busca aproximar pré-candidata ao movimento social

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por Cristóvão Feil

Interlocutores apresentam deficit de confiança


O Palácio do Planalto decidiu se mexer para tentar amenizar a resistência dos movimentos sociais com a ministra Dilma Rousseff , principal nome petista para a sucessão presidencial de 2010. É o que informa a Folha, do último sábado.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, foi escalado para organizar uma reunião informal e secreta da ministra com líderes desses movimentos, em especial dos sem-terra. Os primeiros contatos já foram feitos, mas ainda não há data acertada.

Outra determinação palaciana partiu para Rolf Hackbart, presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A estratégia é que ele monte uma agenda "com a cara da ministra" nos assentamentos de reforma agrária pelo país afora.

Um dos principais entraves à ministra está no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por isso essa agenda nos assentamentos será planejada de forma que ela consiga fugir do discurso de metas, acampamentos, violência no campo e desapropriações e possa ficar mais à vontade para falar sobre projetos de irrigação e inaugurações do programa Luz para Todos.

A resistência dos movimentos à ministra não é nova, ainda segundo a Folha. Ela é vista por eles como defensora de um modelo de desenvolvimento próximo ao que pensa o agronegócio, supostamente sem preocupação ambiental e com simpatia à entrada de empresas estrangeiras no país.

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A minha modesta opinião: sim, há restrições à ministra, no âmbito dos movimentos sociais. Por dois motivos: um, por desconhecimento, dois, por ações fortes da ministra em favor de obras públicas sem a necessária sustentabilidade ambiental.

Essa suposta resistência não significa dizer que os militantes dos movimentos sociais façam ou tenham outra opção para 2010. O fato é que a agenda eleitoral ainda não sensibilizou os movimentos, que têm dezenas de outras prioridades na pauta política de 2009 e 2010.

De resto, os agentes escalados pelo Palácio do Planalto – Cassel e Hackbart – para contactarem líderes dos movimentos apresentam deficit de confiança junto aos mesmos.

Um singular exemplo: semanas atrás esteve em Santa Cruz do Sul (RS) uma técnica do MDA com o objetivo de verificar o andamento de projetos de diversificação de culturas na região do Vale do Rio Pardo, que luta para sair da monocultura do fumo (foto). A agente do MDA encontrou-se com entidades tradicionais como Fetraf e Fetag, consideradas como entidades “amigas” das transnacionais do fumo, em detrimento do forte núcleo que a Via Campesina/MPA tem na região da fumicultura.

Mas o elemento decisivo para a desconfiança no MDA é a derrota continuada que esse ministério sofre nas disputas com o ministério da Agricultura. O volume de recursos e os projetos que beneficiam o agronegócio são infinitamente maiores que aqueles destinados à agricultura familiar e camponesa, mesmo sabendo-se que é o pequeno e médio produtor que abastece o mercado interno. Para não mencionar os inúmeros projetos nos quais o MDA se exonera de disputar, tendo em vista acertos prévios – e por dentro – com a bancada ruralista no Congresso ou compromissos “estratégicos” do lulismo de resultados com o agrobusiness brasuca.

Se depender desses interlocutores para o diálogo com o movimento social, a campanha pré-eleitoral da ministra Rousseff está condenada ao insucesso.

Coisas da vida.

Fonte: Diário Gauche

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