:: O último encontro internacional sobre o tema expôs o desafio de gerir uma crise sob profundos rachas políticos. No debate, também faltou reforçar as pontes entre florestas e recursos hídricos Por Amália Safatle, de Istambul | |
"Su gibi aziz ol", ou "Seja glorioso como a água", é uma das preces frequentemente ouvidas na Turquia. Não só ela. Disse o ministro do Meio Ambiente do país que, ao se fechar os olhos em Istambul, o primeiro som que se ouve é o da própria água. No Estreito de Bósforo, ela separa - ou une - as civilizações oriental e ocidental. Evapora nas salas de banho turco, escorre em cada fonte espalhada na cidade histórica, lava e prepara os rituais religiosos nas mesquitas. Contornada por quatro mares, o Mediterrâneo, o Negro, o Egeu e o de Mármara, a Turquia lida com a amarga contradição da escassez de água doce. Lugar apropriado para se discutir uma das maiores crises da humanidade. Ao sediar a quinta rodada do Fórum Mundial da Água, na Turquia ouviu-se também que não vivemos exatamente uma crise de água, mas de gestão. Quem vem de longuíssima data, mas, como se sabe, é exponencialmente acelerada pelo modo de vida dos tempos modernos. A História conta que Mesopotâmia, Egito, Grécia, Roma - os maiores berços da Humanidade - desde os primórdios viram-se às voltas com a necessidade de administrar uso e disponibilidade, em um milenar exercício de adaptação às condições ambientais (leia quadros sobre adaptação climática às págs. 19 e 21). Na Turquia, ruínas de construções hidráulicas datam desde o segundo milênio antes de Cristo, a começar do chamado período hitita- são represas, aquedutos e cisternas buscando temperar a oferta de água de uma região seca com o florescimento populacional. De lá para cá, o índice demográfico só fez explodir, a afluência, aumentar, e a capacidade A reunião de mais de 20 mil pessoas de 182 países no fórum promovido pelo Conselho Mundial Nunca é demais registrar: mantidas as atuais condições, dois terços da população mundial São números que, somados a uma reflexão em maior profundidade, nos pegam de maneira tão O encontro, intitulado "Superando Divisores de Água", teve como mote a água em um mundo Provou que, se há um elemento transversal às grandes questões da sustentabilidade, este é a Mas, com presença em peso de prefeitos, parlamentares, ministros e chefes de Estado dos mais Esta era justamente a principal bandeira de movimentos sociais, organizados fora do complexo A decisão causou furor. Em comunicado ao Fórum, D'Escoto Brockmann afirmou que a água é Se no caso da França a existência de fortes grupos privados da água teria influenciado a posição A forte carga política que marcou a reunião pode encontrar explicação em uma afirmação de Como escreve a socióloga e jornalista Maristela Bernardo em Análise, à página 33, com 12% da Mas o problema é anterior, identifica Maristela: o de que a água ainda não virou elemento O Brasil das águas seria o Brasil das florestas, e portanto geri-las bem é gerir bem as águas - A impressão é a de que florestas são um assunto tão incômodo para o governo brasileiro - Um dos que se revelaram céticos sobre a relação entre clima e floresta foi justamente Braga, "Quantidade não é qualidade", disse a respeito dos cientistas que formam o Painel Na mesma linha, o diretor-presidente da ANA, José Machado, afirmou que mudança climática Outra visão particular de Benedito Braga é de que a tecnologia é a grande arma para adaptar-se Banheiro feminino De fato, os painéis sobre adaptação a situações de escassez de água repetiram à exaustão a Coincidentemente, enquanto os painéis sobre adaptação se realizavam nos auditórios, e O enfoque muito tecnológico dado à discussão sobre recursos hídricos foi alvo de críticas pela "Em tempo de crise econômica, a IUCN conclama os líderes empresariais e governamentais a Nas discussões temáticas sobre finanças, organizadas no Fórum pelo Banco Mundial, Hoje os investimentos relacionados a água somam de US$ 400 bilhões a US$ 500 bilhões Que parceiro melhor nesses momentos de crise do que aquele que presta serviços O programa é destinado a recompor as matas ciliares de propriedades rurais nas microbacias Desde 2007, foram aplicados R$ 1,5 milhão e a meta é plantar 3 milhões de mudas em cinco Beto Borges, diretor do programa de comunidades e mercados da Forest Trends, organização No Brasil, mais especificamente na Amazônia, Borges entende que os pagamentos por serviços Enquanto isso, brotam iniciativas internacionais, que buscam envolver os líderes empresariais Água certificada Outro programa inovador é o da Alliance for Water Stewardship, capitaneado Smith explica que não se trata de um programa de certificação em si, mas os critérios de ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Verdade cristalina - a água permeia toda a questão da adaptação climática Adaptação às mudanças climáticas significa adaptação à água. O recado é bem claro no estudo Considerando-se que o aquecimento global é um fenômeno dado – ainda que as emissões de carbono fossem reduzidas a zero, a temperatura global se elevará –, é preciso lançar estratégias de adaptação aos novos cenários, sem, é claro, deixar de buscar a mitigação para evitar maiores danos. Ainda em consolidação, um estudo do Catalyst Project – iniciativa da Climate Works Foundation desenhada para dar suporte a governos e negociadores de tratados do clima – estima que o custo anual de adaptação para países em desenvolvimento será de 5 bilhões a 10 bilhões de euros em 2020 e deve subir para 12 bilhões a 29 bilhões de euros de 2030 em diante. Água no Brasil - por que a abundância é um mito Juntas, as bacias do rios Amazonas, São Francisco e Paraná contêm o maior volume de água doce do mundo. Mas, exceto em algumas regiões, como a Amazônica, a do Paraguai e a do Tocantins- Araguaia, os principais rios brasileiros apresentam índices críticos, muito críticos ou preocupantes, segundo a classificação da Agência Nacional de Águas no quesito demanda versus disponibilidade de água. Em 2007, foi decretada situação de emergência devido à estiagem e à seca em 788 municípios, e em consequência de enchentes, inundações e alagamentos em 176 outros. Os dados são do último relatório da agência. Enquanto isso, um estudo da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp) aponta que o maior centro urbano do País sofre risco iminente de colapso no abastecimento de água, se não for reduzido o consumo e elevada a oferta. Em maio de 2007, Página22 publicou a reportagem "Sampa tem sede de quê?", que já avisava sobre a crise de água na Região Metropolitana de São Paulo (confira em www.pagina22.com.br). E, ainda que o Brasil esteja mais confortável diante da situação de países como a China, a água “exportada” na forma de alimentos pode mudar esse quadro. É o que se chama de água virtual. Ela nasce localmente, mas é transferida para outros lugares pelo comércio globalizado. Em troca, nações exportadoras como Brasil "internalizam" os problemas de outros países, como a escassez de água e a sua contaminação por agrotóxicos nas práticas agrícolas não sustentáveis. A rede de organizações Water Footprint Network (www.waterfootprint. org) está de olho na água virtual e na pegada ecológica de água de países e empresas. O leitor pode calcular a sua clicando em WaterFootprintCalculator. Segundo o 3º Relatório das Nações Unidas, a pegada média global é de 1.240 metros cúbicos por ano per capita. A americana é de 2.480 e a chinesa, de 700. Determinam a pegada de um país o volume de consumo, o tipo de produto consumido (por exemplo, a produção de 1 quilo de carne bovina requer até 4 mil litros de água), o clima e as práticas agrícolas, como a eficiência no uso da irrigação. Cinema, turismo e cabras - experiências no Semi -Árido brasileiro Adaptar-se não necessariamente requer investimentos bilionários. Um caso clássico de adaptação no Semi-Árido brasileiro deu-se em Cabaceiras (PB). A cidade com o menor índice pluviométrico do País tenta moldar-se à seca, buscando outras vocações econômicas. Por exemplo, a do turismo – além de exibir atrações arqueológicas, a cidade garante tempo bom para o turista ávido por sol, como aquele que vem de países nórdicos – e a cinematográfica. Aproveitando o cenário natural do casario histórico, o ex-prefeito Arnaldo Júnior Farias Doso criou um pólo de produção de cinema, e uma série de filmes, como Cinema, Aspirinas e Urubus e O Auto da Compadecida, foi locada lá. Com a vantagem de praticamente não haver chuva para atrasar as filmagens. Tentativas como essa, de imprimir um outro tipo de desenvolvimento na região do Semi-Árido, adaptadas às condições climáticas, têm sido objeto de estudo de Oswaldo Gonçalves Junior, doutorando em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Em vez de grandes obras, como a da transposição do Rio São Francisco, com alto custo e resultado discutível, há uma miríade de alternativas inteligentes e mais acessíveis. Como a de incentivar a criação de cabras e ovelhas, que consomem ,enos e produzem mais do que as vacas, no contexto do Semi-Árido. Para isso, englobando mudanças culturais – a criação de gado é arraigada na cultura sertaneja – Gonçalves ressalta a necessidade de forjar a construção de um mercado, por meio de políticas públicas. O leite de cabra, por exemplo, tem sido usado no programa Fome Zero. “Os mercados são construções sociais que podem envolver inclusão e uma atuação mais presente do Estado”, acredita. E nessa construção, especialmente em se tratando do Semi-Árido, a variável climática ganha um peso cada vez maior. Atrás de rio voadores - Eles podem ter até 3.200 metros cúbicos de água, 27 vezes a vazão do Tietê Um avião-laboratório construído para ir atrás de nuvens, capturar gotas d’água e guardá-las em tubos de ensaio para pesquisa percorreu 1.160 pontos do mapa brasileiro em 12 vôos de 2007 até agora. O piloto e chefe da expedição, Gérard Moss, apoiado por uma equipe científica de peso, constatou que pelo menos metade da umidade que chega aos brasileiros vem da Amazônia, influenciando as chuvas do Sul e Sudeste do País. Atrás dos Rios Voadores – nome que batiza o fenômeno dos ventos amazônicos passeando pelos céus e também esta expedição – Moss revelou a aventura de perseguir uma massa de ar de Belém até São Paulo no momento em que alertava para a urgência de manter a floresta Amazônia preservada. Enquanto cabe a ele coletar vapores durante os vôos, cientistas em terra – entre os quais Eneas Salati, José Marengo, Antonio Nobre, Pedro Leite da Silva Dias – estão analisando a importância do transporte de umidade de um rio voador, trabalho pioneiro no mundo, patrocinado pela Petrobras. Entre os dados preliminares dessas análises, observou-se que um rio voador pode ter até 3.200 metros cúbicos de água, 27 vezes a vazão do Rio Tietê, com a diferença que o voador dura um dia e vira chuva. Verificando o trajeto do vapor de água, os cientistas atestaram que, nos dias com maior potencial para chuva, grande parte da umidade veio da Amazônia e que um dos “serviços” cruciais da floresta é quando as árvores retiram umidade do solo e a levam para a atmosfera, regulando o abastecimento de vapor de água. A maior floresta tropical úmida do mundo também absorve 40% da energia solar na região, regulando seu microclima. “A floresta é uma bomba hidrológica e o desmatamento quebra todo esse equilíbrio”, diz Moss. Outras gotas d’água coletadas por ele ainda serão analisadas e a expectativa é que as informações mostrem até que pontoo desmatamento da Região Amazônica poderá afetar o clima no restante do País. – por Ana Cristina D’Angelo Fonte: Revista Página 22 :: |
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres
Em 2010, a Marcha Mundial das Mulheres vai organizar sua terceira ação internacional. Ela será concentrada em dois períodos, de 8 a 18 de março e de 7 a 17 de outubro, e contará com mobilizações de diferentes formatos em vários países do mundo. O primeiro período, que marcará o centenário do Dia Internacional das Mulheres, será de marchas. O segundo, de ações simultâneas, com um ponto de encontro em Sud Kivu, na República Democrática do Congo, expressará a solidariedade internacional entre as mulheres, enfatizando seu papel protagonista na solução de conflitos armados e na reconstrução das relações sociais em suas comunidades, em busca da paz.
O tema das mobilizações de 2010 é “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, e sua plataforma se baseia em quatro campos de atuação sobre os quais a Marcha Mundial das Mulheres tem se debruçado. Os pontos são: Bem comum e Serviços Públicos, Paz e desmilitarização, Autonomia econômica e Violência contra as mulheres. Cada um desses eixos se desdobra em reivindicações que apontam para a construção de outra realidade para as mulheres em nível mundial.
Estão previstas também atividades artísticas e culturais, caravanas, ações em frente a empresas fabricantes de armamentos e edifícios da ONU, manifestações de apoio às ações da MMM em outros países e campanhas de boicote a produtos de transnacionais associadas à exploração das mulheres e à guerra.
No Brasil
A ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil acontecerá entre os dias 8 e 18 de março e será estruturada no formato de uma marcha, que vai percorrer o trajeto entre as cidades de Campinas e São Paulo. Serão 3 mil mulheres, organizadas em delegações de todos os estados em que a MMM está presente, numa grande atividade de denúncia, reivindicação e formação, que pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.
Serão dez dias de caminhada, em que marcharemos pela manhã e realizaremos atividades de formação durante à tarde. A marcha será o resultado de um grande processo de mobilização dos comitês estaduais da Marcha Mundial das Mulheres, que contribuirá para sua organização e fortalecimento. Pretendemos também estabelecer um processo de diálogo com as mulheres das cidades pelas quais passaremos, promovendo atividades de sensibilização relacionadas à realidade de cada local.
Para participar
A mobilização e organização para a ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil já começou. Entre os dias 15 e 17 de maio, a Marcha realizou um seminário nacional, do qual participaram militantes de 19 estados (AM, AP, AL, BA, CE, DF, GO, MA, MS, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RO, RS e SP), além de mulheres representantes de movimentos parceiros como ANA, ASA, AACC, CONTAG, MOC, MST, CUT, UNE e Movimento das Donas de Casa). Este seminário debateu e definiu as diretrizes da ação de 2010.
Os comitês estaduais da MMM saíram deste encontro com tarefas como arrecadação financeira, seminários e atividades preparatórias de formação e mobilização, na perspectiva de fortalecimento dos próprios comitês e das alianças entre a Marcha Mundial das Mulheres e outros movimentos sociais. Neste momento, estão sendo realizadas plenárias estaduais para a formação das delegações e organização da atividade.
Para participar, entre em contato com a Marcha Mundial das Mulheres em seu estado (no item contatos) ou procure a Secretaria Nacional, no correio eletrônico marchamulheres@sof.org.br ou telefone (11) 3819-3876.
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