por Idelber Avelar
O Brasil é um país em que
a independência ante Portugal foi proclamada por um português,
a República foi proclamada por um monarquista,
o mais radical movimento igualitário foi liderado por um pregador moralizante e religioso,
a Revolução Burguesa foi feita pelas oligarquias,
a eleição republicana-moderna (1930) teve sufrágio mais restrito que a eleição monárquica-imperial (1821),
o mais ilustre gesto de um presidente foi um suicídio,
o racismo é encoberto por um termo ('democracia racial') inaugurado em público pelo maior líder do movimento negro,
a subvenção pública e a estatização floresceram na ditadura de direita,
a redemocratização foi presidida por um homem da própria ditadura,
a discriminação racial é mais visivelmente proibida justo no lugar onde ela mais obviamente se manifesta,
só se removeu por corrupção o presidente cuja única plataforma eleitoral era varrê-la,
a maior privatização foi feita pelo príncipe da sociologia terceiromundista e esquerdizante,
a universalização do capitalismo e o auge dos lucros bancários se dão sob o líder sindical que fundou um partido socialista e ....
numa Praça Tiradentes não há estátua de Tiradentes, mas de D. Pedro I, neto da Dona Maria que ordenara a morte do alferes. Essa incongruência não diz algo sobre o que somos?
O Luiz Antonio Simas, em cujo texto este post se inspira, me lembrou de como começo os fatídicos cursos de "Introdução à cultura brasileira" que às vezes me cabe ditar. Peço que abram o dicionário no verbete "óximoro" e começamos a conversa a partir daí.
Mesmo que Tom Jobim não tivesse feito mais nada, só pela frase o Brasil não é para principiantes ele já mereceria nossa memória.
Fonte: O Biscoito Fino e a Massa
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