quarta-feira, 8 de abril de 2009

O IPEA, o Banco do Brasil e a Bovespa

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por Luiz Carlos Azenha

Márcio Pochmann foi chamado, de surpresa, para acompanhar o presidente Lula na cúpula progressista que se realizou em Santiago, no Chile.

Dias antes, no intervalo de um seminário em São Paulo, ele havia feito elogios ao sistema bancário brasileiro. Notou, porém, que se ele não tinha se exposto tanto aos riscos foi por não cumprir seu papel social. O presidente do IPEA foi especialmente crítico do papel desempenhado pelas instituições públicas brasileiras, que passaram a operar como bancos privados, priorizando acima de tudo os lucros dos acionistas, dentro da lógica neoliberal.

Não é por acaso que a troca do presidente do Banco do Brasil provocou uma queda de 8% no valor das ações na Bovespa. Ela aconteceu um dia depois de o IPEA, presidido por Pochmann, divulgar um estudo sobre o sistema bancário do país:

Ipea: Queda do número de bancos e agências gerou sistema incompleto

JB Online


BRASÍLIA - A redução, nos últimos 10 anos, do número de bancos no Brasil – de 230 para 156 – bem como da quantidade de agências bancárias – de uma para cada 8.530 pessoas para uma para cada 10.145 – gerou um sistema bancário "incompleto" no país.

A avaliação foi feita hoje (7) pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann.

Segundo ele, a forma como o sistema bancário brasileiro atua acaba contribuindo para que não se reduza a exclusão social no país.

- Temos uma parcela da população que não tem acesso aos serviços bancários, que constituem uma referência em termos de bem-estar social - disse Pochmann, depois de divulgar o estudo Transformações na Indústria Bancária Brasileira e o Cenário de Crise.

Pochmann destacou que, além da redução na quantidade de bancos e agências, o Brasil registrou, ao mesmo tempo, uma elevação do custo dos serviços bancários.

- Isso fez com que o tomador brasileiro de crédito pague várias vezes mais do que o que seria o custo para o tomador do mesmo crédito em outro país.

Dados do estudo mostram que o custo dos serviços bancários está relacionado ao grau de competição entre as instituições financeiras. Porchmann explicou que, no cenário brasileiro, como há menos bancos dispostos a competir, os custos e a margem de lucro tendem a ser maiores.

Para ele, é preciso avançar rapidamente na popularização dos bancos. Pochmann atribuiu o fenômeno da "concentração bancária" à redução do papel do Estado no sistema bancário e ao aumento da internacionalização de bancos.

- No Brasil, os bancos públicos compensavam essa competição, porque operavam em regiões de menor renda. Seu desaparecimento fez com que essas regiões perdessem o acesso ao banco, uma vez que o sistema privado não tem interesse.

De acordo com a pesquisa, outro destaque negativo foi a transferência de recursos que serviam de crédito nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste para o Sudeste. A região, atualmente, concentra 70% do crédito brasileiro.

- Houve um esvaziamento das regiões que anteriormente eram melhor atendidas pelo sistema de bancos públicos e isso é um indicador de exclusão bancária.

Na opinião de Pochmann, uma das saídas seria replicar a experiência alemã dos chamados bancos comunitários ou regionais, que ajudariam não apenas a difundir melhor o crédito, como também torná-lo mais acessível para a população que atualmente se encontra fora do sistema bancário.

- Tivemos avanço no combate à pobreza e na redução do desemprego, e esses são ganhos importantes, mas insuficientes, porque não vêm acompanhados dos serviços bancários. Na sociedade contemporânea, a população que não tem acesso ao crédito e ao banco está praticamente excluída de um padrão de vida moderno.

Fonte: Vi o Mundo

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