segunda-feira, 20 de abril de 2009

A maldição do Banco Central

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por Luis Nassif

Com a economia começando a se estabilizar, voltará a lógica absurda do Banco Central: acenar com inflação futura novamente, manter juros elevados, atrair capitais externos de novo, devido à queda acentuada dos juros internacionais e à perspectiva do duplo ganho no Brasil: com juros elevados e com apreciação cambial.

Voltará o mesmo jogo de sempre e provavelmente Lula nada fará para não prejudicar as eleições de 2010. É a maldição brasileira, que poderia ser rompida agora, com a ajuda da crise internacional, mas que voltará a se repetir.

E, repetindo-se, comprovará a máxima: partidos e governos não tem projeto de país, mas apenas projeto de poder.

Na Folha, Yoshiaki Nakano mostra o erro grosseiro do BC, gerando liquidez no overnight e no mercado aberto, e escassez de crédito para o setor produtivo.

A crise foi fruto exclusivo da escasse de crédito, lembra ele.

” Não foi uma crise típica iniciada pela queda no consumo, aumento nos estoques e consequente ajuste da produção à demanda. As vendas do comércio sofreram ligeira queda no último trimestre do ano nos setores afetados pela contração no crédito, mas em fevereiro já superam o nível de setembro último em 1,5%. A queda nas vendas do comércio está circunscrita a setores dependentes de crédito. Enquanto isso, a produção industrial teve queda de 13,5% no mesmo período. Esses dados são fundamentais para avaliar a estratégia de enfrentamento da crise adotada pelo governo.

Precisamos desfazer um equívoco cometido pela maioria dos analistas que consideram o comportamento da economia brasileira nos últimos cinco meses como um processo normal de ajuste de estoques. Para os estoques aumentarem e provocarem tal contração na produção, é preciso que a demanda final tenha sofrido uma queda, pelo menos similar e inesperada. Isso aconteceu no setor automobilístico, com alguns bens duráveis e com aço e mineração, que dependem de crédito e da demanda externa. Do lado da demanda doméstica, ela continuou elevada, pois a massa salarial ainda vem crescendo 8%. O que os dados mostram é a queda generalizada na indústria e também no setor de serviços, que não acumula estoques” .

O que causou a contração foi um erro grosseiro do Banco Central, que não cumpriu sua função básica de prover liquidez para o setor produtivo. Os dados do próprio BC mostram que entre setembro e novembro as concessões de crédito com recursos livres dos bancos sofreram queda de 12,2%; de setembro até fevereiro a queda foi de 23,9%. Por isso, a arrecadação do IOF caiu 26,2% em março deste ano em relação a 2008″.

No Estadão, Fábio Graner escreve matéria sobre a volta dos riscos de arbitragem:

A possibilidade de uma valorização do real ante o dólar, em decorrência de operações especulativas no mercado de juros, preocupa setores do governo. Essas operações são sustentadas por análises segundo as quais a combinação de um cenário internacional mais sereno com a possibilidade de uma diminuição no ritmo de corte dos juros básicos pode estimular a chamada arbitragem - nessas operações, o investidor percebe distorções entre o preço de um mesmo ativo (no caso os juros) e ganha com o diferencial das taxas praticadas no país e no exterior. Desse jeito, o real tende a se valorizar rapidamente, prejudicando a competitividade dos produtos nacionais.

“Essa é uma preocupação, sim. No mundo já há sinais de que o carry trade (operações que exploram o diferencial de taxas de juros e a oscilação das moedas dos países) está voltando e o Brasil não fica de fora desse processo”, disse uma fonte da equipe econômica.

Clique aqui para ler as matérias.

comentário por Ale AR:

A onipotência do BC é um tremendo engodo, mas Henrique Meirelles insiste em reforçar essa teoría. Vejam o arremate da entrevista por ele concedida a Folha de hoje: “No momento, a minha única preocupação é o Banco Central, a economia brasileira e tirar o país da crise.”

O presidente do BC é incapaz de tirar o país da crise. Se assim fosse, teria que ter sido capaz de evitar que a crise chegasse ao país, coisa que não fez. Ao contrário. Qualquer leigo que olhe para o gráfico do dólar dos últimos dois anos, perceberá (sem necessidade de equações complexas) que uma catástrofe monetária aconteceu nas barbas do BC, cuja função é garantir a estabilidade da moeda. Nada disso foi feito, nem a respeito da paridade cambial, nem a respeito da inflação, que acumula no que vai do século XXI nada menos que 87% de aumento. A missão do BC (assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente) está sendo olímpicamente ignorada. O próprio sistema de metas para a inflação acena para o caminho oposto: cómo pode uma inflação de 4,5% a.a. BALIZADA pelo BC ser compatível com a missão de estabilizar o poder de compra da moeda, se esse alvo implica uma perda do poder de compra de 50% em 10 anos?

A inflação, entendida como um fenômeno monetário, e não como a alta dos preços fruto das forças da oferta e da demanda, é alimentada pelo BC, que em 9 anos aumentou a massa monetária em 400%, enquanto que o PIB aumentou somente 47%. As metas de inflação não incluem os ativos financeiros, que viram aumentar seus preços em mais de 900% desde 2002, sem que os lucros das empresas aumentassem na mesma proporção. A mola propulsora desse incremento no valor nominal das ações não pode ser outra que o aumento da massa monetária, tanto interna como externa. Os agregados monetários, incrementados substancialmente desde 2000 pelas políticas expansionistas do Fed e dos outros BCs, obviamente escoaram para os ativos financeiros no mundo inteiro. Como é possível uma meta de inflação num pais onde a entrada e saída de capitais é livre?

O que melhor poderia ter sido feito em todos esses anos, era limitar a expansão monetária, evitando dessa forma a constante alteração dos preços relativos. No caso brasileiro, o efeito destrutor da capacidade de compra da moeda foi mitigado entre as classes mais abastadas, que recebem em primeira mão do governo esse dinheiro fresquinho através de créditos do BNDES, de subsídios, de compras do governo, de juros ativos pagos pelo Tesouro, e entre as classes mais baixas, com a recomposição do salário mínimo e do Bolsa família. Mas os pequenos e médios empresários, e a classe media em geral, viu seu poder de compra diminuir significativamente nesses últimos 8 anos. A ilusão da melhora econômica chegou através do aumento do crédito, e da diminuição dos preços de eletrodomésticos e eletrônicos importados, graças a dupla combinação de manufaturas baratas da China e a sistemática queda do dólar, promovida pela abertura total do fluxo de capitais perpetrada por Palocci e pela política de juros reais mais altos do planeta executada por Meirelles. O resultado dessas políticas está a vista: mais de 2.000 empresas atoladas em dívidas de 30 bilhões de dólares em operações com derivativos cambiais, uma taxa de crescimento baixíssima no período comparada com a de outros países emergentes, um aumento considerável do endividamento das famílias, instabilidade cambial durante todo o período analisado (primeiro com a queda sistemática, depois com a alta explosiva), uma bolha na bolsa e a posterior queda abrupta dos preços dos ativos financeiros, que acumula mais de 60% em dólares desde o pico registrado em 2008, e agora, recessão econômica e aumento do desemprego. Esse BC, e todos os BCs do mundo que estão empenhados atualmente em reinflar uma bolha sinistra, injetando dinheiro inexistente para esse fim, não estão mais do que agravando a situação futura do planeta inteiro, numa política que, mais do que irresponsável ou equivocada, parece perversa, atendendo a interesses que não são precissamente os da população em geral.

Não é de se extranhar que até Paul Volcker comente a possibilidade de revogar do Fed as atribuições dadas na Ata da Reserva Federal na Depressão de 1930, ou a falácia da relação entre metas de inflação e crescimento sustentável.

Links:
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http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601087&sid=ainh3qdHJuoM
http://online.wsj.com/article/BT-CO-20090418-701246.html

Fonte: Luis Nassif Online

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