Magda e o "neonazismo" dos muros

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por Magda Maria de Magalhães

Hoje resolvi escrever para dizer que estou chocada. Estou chocada com o muro com que o governo do Rio de Janeiro, dizem que estado e município, resolveram cercar as favelas cariocas. E mais estarrecida fiquei com o editorial da IstoÉ de 22/04/2009, ano 32, nº 2058, a dar guarida e fundamentação a este procedimento nazista, preconceituoso, separatista, elitista, racista. Enfim, o editorial 'O Rio e o Muro' da lavra de Carlos José Marques merece ser criticado e desmascarado.

"Décadas de descaso urbanístico e de um conceito de política populista que estimulou a expansão de favelas nos anos 80 e 90 levaram à ocupação ilegal, desordenada e a um caos social na decantada Cidade Maravilhosa.

O Instituto Pereira Passos (IPP), que se dedica ao estudo da evolução metropolitana do Rio de Janeiro, acaba de cravar uma marca assombrosa: no seu cadastro estão contabilizadas 968 "comunidades", eufemismo para as favelas que tomaram os morros cariocas. Pela topografia especial e privilegiada do Rio, esses morros estão por, praticamente, todos os lados.

Cada bairro tem o seu e com ele a "comunidade". As quase mil favelas já mudaram por completo o cenário da cidade e ampliaram o espectro de violência local. Em 2008, pelo menos 50 novas manchas em imagens de satélite foram identificadas como novas ocupações.

Agora, pela primeira vez em anos, o problema passa a ser enfrentado com uma iniciativa que, se não resolve por completo a situação, ao menos representa um passo na direção correta. O muro, o projeto de autoridades estaduais de cercar numa primeira leva 11 favelas, começa a virar realidade. O muro estanca, de saída, o impacto ambiental que vinha ocorrendo por conta do avanço descontrolado de barracos sobre matas e florestas nativas. O muro pavimenta o terreno para que uma política habitacional séria - com planejamento de moradias dignas e infraestrutura adequada - ganhe fôlego. O muro organiza a comunidade e abre espaço para que o princípio da civilidade prevaleça.

Não é novidade para ninguém que as quadrilhas de tráfico dominaram estes morros. Combates rotineiros de facções rivais ganharam as ruas e toda sorte de desordem urbana veio na esteira do processo de favelização: carros estacionados irregularmente, flanelinhas praticando livre estorsão, camelôs obstruindo calçadas. Por conta e culpa de gestões negligentes do passado, instalou-se um verdadeiro mafuá da marginalidade no Rio. E essa tomada de espaço às margens da lei vicejou em crescente desrespeito aos cidadãos que pagam impostos e cumprem seus deveres.

Críticas demagógicas e sempre com o intuito oportunista de lucrar com a bagunça foram lançadas por opositores da ideia. Não há nada de apartheid ou de movimento sectário, de separação de classes sociais, no plano dos muros. O direito de ir-e-vir de moradores está declaradamente garantido pelos projetistas e, daqui por diante, com chances de maior segurança. O passo seguinte, da remoção dessas favelas, também deve ser discutido sem tabus. De uma maneira ou de outra, o Rio está iniciando uma revolução que pode no futuro virar modelo para todo o País e, quem sabe assim, fará por merecer ainda mais a sua eterna marca de cidade maravilhosa."

Quis sublinhar algumas frases, aquelas mais nazistas. Vi que seria impossível. A criminalização dos favelados e pobres, a desqualificação dos críticos à ideia de murar as favelas, a sugestão de que só a classe média e rica é decente e paga impostos, o passo seguinte que é "a remoção dessas favelas" e o bolo da cereja: esta revolução que pode no futuro virar modelo para todo o País, estas palavras, por si só, já dizem tudo.

Pode virar modelo o escambau. Aqui em Belo Horizonte regulamentou-se o transporte de vans servindo às favelas, retirou-se o camelô das ruas criando-se os shoppings populares, existe uma política de urbanização para as favelas, onde não se remove e sim constrói-se prédios, coloca-se água, luz, esgoto, transporte, escola, praça, centro de saúde. Isto sim é que é revolução. E não esta política nazista perpetrada para separar, conter o pobre, em nome de escusos interesses econômicos.

Espero que você denuncie esse neonazismo presente em todo o editorial e nos muros.

Um abraço.

Magda Maria de Magalhães

Fonte: Vi o Mundo

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Magda e o "neonazismo" dos muros