quarta-feira, 8 de abril de 2009

Governo Lula chega atrasado na bola

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por Luiz Carlos Azenha

Diante da crise econômica internacional, o governo Lula parece aquele beque que chega atrasado na bola e acerta a canela do colega de time.

O governo brasileiro demorou para se dar conta da gravidade da situação. Tomou medidas paliativas e tardias, acreditando tratar-se apenas de mais uma das crises do capitalismo, daquelas que se enfrenta com os remédios tradicionais e que "é só esperar que passa".

Poderia ter acordado muito antes para a realidade e tomado decisões à altura dos desafios, dentre as quais a demissão do presidente do Banco Central, o estudo de medidas protecionistas e o engavetamento definitivo da lógica neoliberal.

Em vez disso, o presidente Lula trocou hoje o presidente do Banco do Brasil.

Enquanto isso, a Venezuela toma medidas para dificultar a entrada de celulares fabricados no Brasil naquele país. E, embora nenhum de nós goste do protecionismo comercial, é óbvio que todos os países do mundo tomarão medidas protecionistas, ainda que de maneira disfarçada. É, como escrevi lá atrás, o cada um por si.

O dinheiro foge da periferia em direção ao centro, deixando países em petição de miséria. A Islândia, a Ucrânia e a Moldávia são apenas três exemplos de instabilidade política que vai se generalizar.

Lula é "o cara" por um motivo óbvio: ele assinou embaixo do plano do governo Obama para resgatar o mundo da crise. Dinheiro público à vontade para os bancos e o ressurgimento do Fundo Monetário Internacional. Espero que o FMI tenha uma tropa de choque suficientemente armada para "proteger" os governos aos quais resgatar.

Diz-se, nos Estados Unidos, que o governo Obama fez o que tinha condições políticas de fazer: um resgate do sistema financeiro com dinheiro público.

Mas como estamos falando em uma crise de confiança, em que o capitalista de um lado da rua teme que o capitalista do outro lado esteja escondendo a falência, há gente séria desconfiando que o plano Obama vai fracassar. Entre eles, dois ganhadores do Nobel de Economia: Joseph Stiglitz e Paul Krugman.

O temor de ambos é que o "capitalismo de compadres", que nós brasileiros conhecemos melhor que qualquer povo no mundo -- é só testemunhar as relações apodrecidas entre o banqueiro Daniel Dantas, a mídia e políticos para constatar -- vá penalizar de tal forma os contribuintes em forma de desemprego e impostos que, além de não ter dinheiro para gastar, eles se revoltarão contra o governo Obama, com implicações políticas que desconhecemos.

Trata-se, acima de tudo, de decidir quem é que vai pagar pelo descompasso entre a riqueza escrita no papelório e a riqueza real existente na economia. O governo Obama decidiu que vai colocar a carga acima de tudo nas costas do contribuinte, promovendo uma gigantesca transferência de renda dos americanos para as instituições financeiras e penalizando muito menos os acionistas e os credores dos bancos.

Esta é uma crise da qual alguns países sairão vencedores e outros, perdedores. A diferença entre eles será determinada pela resposta política dos governos nacionais à nova conjuntura global. O governo Lula, no entanto, continua operando como se Fujimori, Goni, Menem e Salinas de Gortari estivessem no poder.

Alguns estão presos. Outros, foragidos.

No Brasil, FHC é levado a sério e Lula, que já deveria ter um "gabinete da crise", ainda escala o Meirelles para chutar a canela da própria defesa.

PS: Acabou de dar na Folha Online:

08/04/2009 - 12h50
Brasil fecha o 1º trimestre com saída de quase US$ 3 bi de dólares do país

por EDUARDO CUCOLO
da Folha Online, em Brasília

O fluxo cambial, que mede a entrada e saída de dólares no país, ficou negativo em US$ 2,974 bilhões no primeiro trimestre de 2009, segundo dados do Banco Central. Nesse período, houve mais dólares saindo do que entrando no Brasil.

Fonte: Vi o Mundo

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