sexta-feira, 24 de abril de 2009

Editorial do Correio da Cidadania

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Cúpula das Américas




Obama esbanjou simpatia e os "cucarachas" capricharam na tietagem. Tudo estava armado para um grande show de propaganda norte-americana, quando surgiram em cena os três "populistas" (como diz, pejorativamente, a imprensa burguesa) exigindo conversa política séria.

Chávez entregou ao presidente estadunidense o livro de Eduardo Galeano, "As veias abertas da América Latina", e Evo Morales cobrou a conduta do pessoal da embaixada, suspeito de planejar um atentado para matá-lo.

Desmontado o show, a conversa política tornou-se séria. O texto final do Encontro, que usualmente expressa os consensos obtidos na reunião, não continha referência alguma a um assunto que esteve presente todo o tempo: o fim do embargo norte-americano a Cuba. Apesar da declaração de Patrick Manning, primeiro-ministro de Trinidad Tobago, citado textualmente pela Folha de São Paulo (20/4), de que "houve claro consenso sobre a reintegração de Cuba ao sistema interamericano", a declaração omitia completamente o tema.

Chávez, Morales e Correa recusaram-se a assinar um texto que ignorava esse fato e que não dizia uma palavra sobre a crise que está afetando todos os países da região. Para esconder o constrangimento de finalizar uma cúpula sem acordo algum, a declaração foi assinada somente pelo anfitrião, o premiê de Trinidad Tobago.

O episódio deixou claro o caráter do encontro e revelou que Obama ainda não tem uma clara definição acerca da política que adotará para balizar as relações do seu governo com a América Latina. Ele foi para Port of Spain preparado para fazer discurso, mas não para tomar decisões substantivas. A conduta dos três presidentes valeu, porque, agora, ao voltar para Washington, Obama terá de dar instruções claras aos seus representantes sobre o voto que deverão pronunciar na próxima reunião da OEA, que é o fórum próprio para decidir sobre a matéria do embargo a Cuba.

Evidentemente, os Estados Unidos, depois do furacão Katrina, de Guantánamo, de Abu Ghraib, não têm moral alguma para insistir na cobrança hipócrita de respeito aos direitos humanos. Se deseja, efetivamente, alterar a política dos Estados Unidos para o continente, Obama só tem uma coisa a fazer: levantar o embargo e votar pela reinserção de Cuba no sistema interamericano.

A maneira altiva, mas cordial, de tratar o "grande vizinho do Norte" – um feito que se deve aos três mosqueteiros -, foi o avanço real dessa cúpula. Pena que ficou faltando o quarto mosqueteiro (como diz a piada, "os três mosqueteiros eram quatro"), o mais forte deles, o que tem melhores condições para pressionar os Estados Unidos: D´Artagnan Lula da Silva. Mas ele preferiu atuar apenas na fase do show.

Fonte: Correio da Cidadania

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