quinta-feira, 2 de abril de 2009

Drogas: 90% das armas dos traficantes são “made in Usa” e funcionários dos EUA são corruptos, afirma o presidente mexicano Calderon.

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por Wálter Fanganiello Maierovitch

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Antes de embarcar para Londres para participar da Cúpula do G20, e ainda sob o impacto da fala da secretaria Hillary Clinton, –na visita que acabou de fazer ao México–, o presidente Felipe Calderon resolveu dividir com outros culpados o fracasso da “war on drugs” mexicana e a responsabilidade pela tragédia representada pelas inocentes vítimas fatais.

Em entrevista à BBC, o presidente mexicano soltou o verbo: - “Existe o tráfico no México porque existe corrupção no México. Mas e usado o mesmo critério, se existe tráfico nos EUA é porque existe corrupção por lá. É impossível colocar toneladas de cocaína nos EUA sem a cumplicidade de algumas autoridades norte-americanas”.

Pouco antes, Calderon confirmara dados vazados por autoridades mexicanas por ocasião da visita de Hillary. Ou seja, 90% das armas usadas pelos potentes cartéis mexicanos de drogas foram compradas nos EUA. Nas cidades norte-americanas que fazem fronteira com o México, frisou Calderon, funcionam 11.000 lojas de venda de armas de fogo.

O presidente do México, Felipe Calderon, deu início à guerra às drogas em dezembro de 2006, logo no primeiro dia do seu mandato. Contou com a parceria do então presidente Bush, que jogou dólares no ralo chamado “Plan Mérida”: uma adaptação do Plan Colômbia, este iniciado em 98, no governo Pastrana, com apoio e sustentação do então presidente democrata Clinton.

Para se ter idéia desse fracasso mexicano, no mês de fevereiro passado, em Paris, o ministro da economia do México, Gerardo Ruiz Mateos concluiu, diante do poder dos cartéis das drogas, que “o próximo presidente do México será um narcotraficante”.

Na Cúpula das Américas, marcada para este mês de abril em Trinidad-Tobago, o presidente Calderon vai ter de falar nas mortes de inocentes, na guerra às drogas mexicana.

Em 2008, foram 5.600 mortes. Pior, mais de 70% das vítimas fatais não tinham nenhuma ligação com o tráfico de drogas, com os cartéis ou com bandos mexicanos. Nos primeiros meses de 2009, já foram mortos 1.501 mexicanos e os cartéis vencem a guerra e difundem a violência e o medo pelo país.

Antes de chegar a Trinidad e Tobago, sede da Cúpula das Américas, o presidente Barack Obama passará pelo México a fim de visitar Calderon. E para ir direto ao assunto que interessa, Obama está mandando ao México, para preparar o seu encontro com Calderon várias, autoridades, como, por exemplo, a secretária de defesa nacional, Janet Napolitano, e o ministro da Justiça, Eric Holder.

Durante a visita de Hillary Cinton, o presidente mexicano manteve-se em silêncio. Hillary, secretária de estado no governo Brack Obama, cobrou a prisão de Blanca Margarita Cazares, lavadora do dinheiro sujo dos cartéis(confira “retrospectiva” abaixo deste post), e admitiu que o consumo por parte dos norte-americanos é crucial na explosão da violência no México.

Como se percebe, Calderon resolveu desabafar depois da partida de Hillary. Paralelamente, ele destacou mais militares para as cidades de fronteira mais problemáticas, como, por exemplo, Juarez (faz fronteira com a norte-americana El Paso) e Tijuana (fronteira com a californiana San Diego).

Dos quase 6 mil mortos em 2008, cerca de 1.600 consumaram-se em Juarez, onde atua o cartel que leva o nome da cidade. Segundo Calderon, estão em Juarez 10.800 agentes de ordem do estado mexicano. O aumento gradativo do número de soldados e policiais representou, nos últimos trinta dias, uma queda na violência estimada em 73%.

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Hillary Clinton

foto:Hillary Clinton


PANO RÁPIDO. O governador do Rio de Janeiro ensaiou uma “guerra às drogas” no estilo Calderon. Quando percebeu que a população-pobre ficara no centro do fogo trocado entre policiais e traficantes, resolveu, felizmente, suspender o espetáculo, que lhe rendia apoio dos moradores da zona-sul, distantes do campo de batalha.

Agora, o secretário de segurança do Rio reedita o truísmo de Bush e do ex-governador Garotinho ao sustentar que os usuários são os responsáveis pela violência.

Toda a vez que faltam (1) as políticas adequadas para contrastar o fenômeno das drogas, (2) a capacidade dos agentes para desfalcarem a economia movimentada pela criminalidade organizada e a (3) repressão policial eficaz, elege-se o usuário, elo mais fraco da cadeia, como o culpado.

Ainda não se acredita que não existe sociedade sem drogas, como se infere da leitura do historiador Heródoto (século V aC).

Para os que se empolgam com o truísmo do “sem consumo não há oferta”, pode-se sacar tantos outros: “sem oferta não há demanda” e “sem os US$ 400 bilhões sujos que circulam pelo sistema bancário internacional anualmente, a indústria das drogas não seria tão potente.

Com efeito. Guerra às drogas e criminalização do usuário não solucionam o problema.

(Para ler matérias relacionadas ao tema clique nesta retrospectiva.)

Fonte: Sem Fronteiras - Blog do Wálter Fanganiello Maierovitch

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