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por Fabio Feldmann*
De São Paulo
Esta semana os líderes mundiais de países do G20 irão reunir-se em Londres para discutir formas de combater as consequências da pior crise internacional das últimas gerações. O Grupo dos 20 Ministérios da Economia e Bancos Centrais foi criado em 1999 para unir de forma sistemática as principais economias do mundo e discutir aspectos-chave da economia mundial. O G20 foi criado em resposta à crise do final da década de 90 e também diante do crescente reconhecimento de que os mercados emergentes não estavam sendo adequadamente incluídos nas principais discussões acerca da economia e governança global. O Grupo é formado pelos ministérios e bancos centrais de 19 países, entre eles o Brasil, e a União Européia. Banco Mundial e FMI também participam das discussões.
As discussões dessa semana são marcadas por um quadro bastante alarmante: a confiança no sistema bancário internacional caiu, grandes instituições falharam, países ao redor do mundo entraram em recessão, com forte queda comercial e crescente aumento do desemprego. O London Summit se inicia num contexto excepcionalmente desafiador, mas também se configura como grande oportunidade de se estabelecer bases inovadoras para superação da crise internacional, baseadas em forte cooperação entre países e uma nova visão do lugar que a economia ocupa na busca pelo bem-estar do planeta.
O objetivo principal estabelecido para o London Summit será o de unir as maiores economias mundiais para restabelecer o crescimento econômico global. Para tanto, três compromissos foram assumidos pelos líderes mundiais: em primeiro lugar, adotar as medidas necessárias para estabilizar os mercados financeiros e possibilitar que famílias e negócios superem a recessão; em segundo lugar, reformar e fortalecer o sistema econômico e financeiro mundial, de maneira a restabelecer confiança; em terceiro lugar, posicionar a economia global na direção de um crescimento sustentável, com altos índices de emprego e redução da pobreza.
Há alguns artigos venho escrevendo sobre as oportunidades que a crise nos coloca em termos de revisão de paradigmas e mudança de rumo. Diante dos objetivos estabelecidos pelo encontro, sou obrigado no entanto a sair do meu tradicional otimismo e reconhecer que os sinais não apontam para a esperada mudança. Ao que tudo indica, tudo será como antes, e a ocorrência de uma nova crise, talvez não econômica mas climática, é inevitável. Os três pontos apresentados demonstram claramente o lugar que o desenvolvimento sustentável ocupa na agenda dos principais líderes mundiais. Se me permitem uma análise de linguagem, enumerar os compromissos em "primeiro lugar", "segundo lugar" e "terceiro lugar", e ainda estabelecer como primeiro compromisso "adotar as medidas necessárias" e apenas em terceiro lugar mencionar a necessidade de um crescimento sustentável, confirmam o meu receio de que ainda não há um entendimento acerca do significado da sustentabilidade.
Novamente vemos a preocupação com a sustentabilidade como um item adicional, e não como o paradigma dentro do qual quaisquer medidas deveriam ser desenhadas. Além disso, temo também pelo significado atribuído por grande parte dos governantes ao termo "crescimento". Pessoalmente, esperava que diante da crise houvesse uma discussão mais consistente sobre o que se entende por crescimento econômico, o preço a se pagar por ele, e se o que precisamos é realmente crescimento, qualidade de vida, desenvolvimento humano ou mesmo felicidade. Certamente muitos dirão que o primeiro conduz aos demais, mas a situação que o planeta se encontra hoje, e as previsões dos últimos relatórios do IPCC e a Avaliação Ecossistêmica do Milênio comprovam que a equação é incorreta. O crescimento econômico tão perseguido pelo nosso próprio país tem nos custado nossas florestas, nossa água, a fertilidade de nossos solos, a regulação do clima, entre outros.
Felizmente, uma diversidade de outros líderes ao redor do mundo está atenta às decisões a serem tomadas por este seleto grupo de 20. Ottmar Edenhofer do Postam Institute for Climate Impact Research e Nicholas Stern do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment submeteram ao encontro um relatório intitulado "Towards a Global Green Recovery" (Rumo a uma economia verde global) com recomendações de ações imediatas ao G20. Tais recomendações ressaltam a urgência e necessidade de se adotar medidas voltadas a recuperação da economia global e criação de empregos, mas de forma absolutamente compatível com o desenvolvimento de uma economia mundial de baixo carbono. O relatório estabelece sete áreas estratégicas para ação do G20, que se implementadas, ajudarão a promover o desenvolvimento sustentável, criando empregos e riqueza, reduzindo o impacto do aquecimento global e diminuindo as fontes de instabilidade global como insegurança energética e competição por recursos naturais.
As sete áreas estratégicas são: aumento de eficiência energética, investimento em infraestrutura adequada, investimento em mercados de tecnologias limpas, desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica, investimento internacional em pesquisa e desenvolvimento (P&D), incentivos a investimentos em carbono e coordenação dos esforços do G20.
Ainda que a discussão sobre crescimento econômico versus qualidade de vida não se faça presente, as recomendações do relatório certamente inserem um novo tom às negociações e, o mais importante, em direção à uma sociedade mais sustentável. Nos resta agora acompanhar de perto os desdobramentos dessa semana, e como os próprios autores concluem no relatório, dar um voto de confiança aos nossos líderes, esperando que desenhem finalmente a oportunidade diante da crise.
Fonte: Terra Magazine
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