sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Série do Fim de Semana: livros para conhecer o inimigo ou Como entender que raios está acontecendo no mundo e com a gente?

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Livro "A Doutrina do Choque" - autora: Naomi Klein

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Reproduzimos entrevista com Naomi Klein, que lançou um livro interessante. Pretende unir vários acontecimentos do século XX com mudanças econômicas, tais como as propagadas por figuras como Milton Friedman e Friedrich Hayek. Daí o título das mudanças econômicas associadas a outros acontecimentos: "A doutrina do choque" (com esse vídeo de divulgação). Lá vai (Fonte: Unisinus, dica do Desobediente):

O golpe de Pinochet no Chile. O massacre da Praça de Tiananmen. O Colapso da União Soviética. O 11 de setembro de 2001. A guerra contra o Iraque. O tsunami asiático e o furacão Katrina. O que todos esses acontecimentos têm em comum? É o que a ativista canadense antiglobalização Naomi Klein explica em seu novo livro The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism [A doutrina do choque: O auge do capitalismo do desastre] – ainda sem tradução para o português. Naomi Klein em uma longa entrevista para o sítio La Haine, 27-09-2007, afirma que a história do livre-mercado contemporâneo foi escrita em choques e que os eventos catastróficos são extremamente benéficos para as corporações. Ao mesmo tempo a autora revela que os grandes nomes da economia liberal, como Milton Friedman, defendem o ‘capitalismo do desastre’. A tradução é do Cepat.
O que é exatamente a doutrina do choque?

A doutrina do choque como todas as doutrinas é uma filosofia de poder. É uma filosofia sobre como conseguir seus próprios objetivos políticos e econômicos. É uma filosofia que sustenta que a melhor maneira, a melhor oportunidade para impor as idéias radicais do livre-mercado é no período subseqüente ao de um grande choque. Esse choque poder ser uma catástrofe econômica. Pode ser um desastre natural. Pode ser um ataque terrorista. Pode ser uma guerra. Mas, a idéia é que essas crises, esses desastres, esses choques abrandam a sociedades inteiras. Deslocam-nas. Desorientam as pessoas. E abre-se uma ‘janela’ e a partir dessa janela se pode introduzir o que os economistas chamam de ‘terapia do choque econômico’.

É uma espécie de extrema cirurgia de países inteiros. E tudo de uma vez. Não se trata de um reforma aqui, outra por ali, mas sim uma mudança de caráter radical como o que vimos acontecer na Rússia nos anos noventa, o que Paul Bremer procurou impor no Iraque depois da invasão. De modo que é isso a doutrina do choque. E não significa que apenas os direitistas em determinada época tenham sido os únicos que exploraram essa oportunidade com as crises, porque essa idéia de explorar uma crise não é exclusividade de uma ideologia em particular. Os fascistas também se aproveitaram disso, os comunistas também o fizeram.

Explique quem é Milton Friedman, a quem ataca energicamente nesse livro?

Bem, ataco Milton Friedman porque é o símbolo da história que estou abordando. Milton Friedman morreu no ano passado. Morreu em 2006. E quando morreu, vimos como o descreveram em tributos pomposos como se fosse provavelmente o intelectual mais importante do período pós-guerra. Não apenas o economista mais importante, mas o intelectual mais importante. E é verdade que se pode construir um argumento contundente nesse sentido. Foi conselheiro de Thatcher, de Nixon, de Reagan, do atual governo Bush. Deu aulas a Donald Rumsfeld no início de sua carreira. Assessorou Pinochet nos anos setenta. Também assessorou o Partido Comunista da China no período chave da reforma ao final dos anos oitenta.
Sendo assim, teve uma influência enorme. Falei outro dia com alguém que o descreveu como o Karl Marx do capitalismo. E acredito que não é uma comparação ruim, mesmo que esteja segura de que Marx não gostaria nem um pouco. Mas foi realmente um popularizador dessas idéias.

Tinha uma visão de sociedade na qual o único papel aceitável para o Estado era o de implementar contratos e proteger fronteiras. Tudo o demais deve ser entregue por completo ao mercado, seja a educação, os parques nacionais, os correios, tudo o que poderia produzir algum lucro. E realmente viu, suponho, que as compras – a compra e a venda – constituem a forma mais elevada de democracia, a forma mais elevada de liberdade. O seu livro mais conhecido é Capitalism and Freedom [Capitalismo e liberdade].

Quando da sua morte no ano passado, percebemos o como essas idéias radicais de livre mercado chegaram a dominar o mundo, de como varreram a antiga União Soviética, a América Latina, a África, de como essas idéias triunfaram durante os últimos trinta e cinco anos. E isso me impressionou muito, porque já estava escrevendo esse livro. Nessas idéias - que tanto se falou quando da morte de Friedman -, nunca ouvimos falar de violência, nunca ouvimos falar de crises e nunca ouvimos falar de choques. Ou seja, a história oficial é de que estas idéias triunfaram porque desejávamos que assim o fosse, que o Muro de Berlim caiu porque as pessoas exigiram ter seus Big Macs junto com a sua democracia. E a história oficial do auge dessa ideologia passa por Margaret Thatcher dizendo: “Não há alternativa”, à Francis Fukuyama afirmando que “a história terminou, o capitalismo e a liberdade caminham juntos”.

Portanto, o que procuro fazer nesse livro é contar a mesma história, a conjuntura crucial nos qual essa ideologia entrou com força, mas re-introduzo a violência, re-introduzo os choques e, digo que existe uma relação entre os massacres, entre as crises, entre os grandes choques e os duros golpes contra vários países e a capacidade de imposição de políticas que são rejeitadas pela grande maioria das pessoas desse planeta.

Você fala de Milton Friedman. Qual a relação com a ‘Escola de Chicago’?

A influência de Milton Friedman provém do seu papel como o popularizador real do que é conhecido como a ‘Escola de Chicago’. Ele foi professor na Universidade de Chicago. Estudou na Universidade de Chicago e na seqüência foi professor nessa instituição. O seu mentor foi um dos economistas mais radicais do livre mercado da nossa época, Friedrich Von Hayek que foi professor na Universidade de Chicago.

A Escola de economia de Chicago representa essa contra-revolução contra o Estado de bem estar social. Nos anos cinqüenta, Harvard e Yale e as oito escolas mais prestigiadas dos EUA estavam dominadas por economistas keynesianos, pessoas como John Kenneth Galbraith, que acreditava que depois da grande depressão, era crucial que a economia funcionasse com uma força moderadora do mercado. E foi a partir daí que nasceu um ‘novo contrato’, a do Estado de bem estar social e tudo isso que faz com que o mercado seja menos brutal e se tenha uma espécie de sistema público de saúde, seguro desemprego, assistência social, etc.

A importância do Departamento de Economia da Universidade de Chicago é que realmente ele foi um instrumento de Wall Street, que financiou muito, muito consideravelmente a Universidade de Chicago. Walter Wriston, o chefe do Citibank era muito amigo de Milton Friedman e a Universidade de Chicago se converteu em uma espécie de ponto de partida da contra-revolução contra o keynesianismo e o novo contrato social com o objetivo de desmanchá-lo.

Qual a relação da Escola de Chicago com o Chile?

Depois da eleição de Salvador Allende, a eleição de um socialista democrático, em 1970, houve um complô para derrubá-lo. Nixon disse genialmente: “Que a economia grite”. E o complô teve numerosos elementos, embargos, etc e finalmente o apoio para o golpe de Pinochet em setembro de 1973. Escutamos muito falar nos ‘Chicago Boys’ no Chile, mas não sabemos detalhes sobre o que foram na realidade.

O que faço no livro é contar esse capítulo da história. (...) Em 11 de setembro de 1973, enquanto os tanques rodavam pelas ruas de Santiago e o palácio presidencial ardia e Salvador Allende era morto, um grupo dos assim chamados ‘Chicagos Boys’, assumia o controle da economia. Economistas chilenos que haviam sido levados para a Universidade de Chicago para estudar com bolsas do governo dos EUA como parte de uma estratégia deliberada para orientar a direita latino-americana.

Tratou-se de um programa ideológico financiado pelo governo dos EUA, parte do que o ex-ministro do exterior chama de “um projeto de transferência ideológica deliberada”, ou seja, levar esses estudantes a uma escola distante, na Universidade de Chicago e doutriná-los num tipo de economia que era marginal nos EUA na época e enviá-los de volta para casa como guerreiros ideológicos.

Falemos do choque no sentido da tortura...

Começo o livro estudando dois laboratórios para a doutrina do choque. Como disse anteriormente, considero que há diferentes formas de choque. Um deles é o choque econômico e o outro o choque corporal, os choques nas pessoas. E nem sempre acontecem juntos, mas estiveram presentes em conjunturas cruciais. Assim que um dos laboratórios para essa doutrina foi a Universidade de Chicago nos anos cinqüenta, quando todos esses economistas latino-americanos foram treinados para se converter em terapeutas do choque econômico. Outro – e não se trata de uma espécie de grandiosa conspiração – foi a Universidade McGill nos anos cinqüenta.

A Universidade McGill foi o ponto de partida para os experimentos que a CIA financiou para aprender sobre tortura. Quero dizer, foi chamado ‘controle da mente’ na época ou ‘lavagem cerebral’. Agora compreendemos, graças ao trabalho de gente como Alfred McCoy, que consta em seu programa que o que realmente pesquisavam nos anos cinqüentas sob o programa MK-ULTRA, foram experimentos de eletrochoques extremos, LSD, PCP, extrema privação sensorial, sobrecarga sensorial, tudo isso que vemos hoje utilizados em Guantánamo e Abu Ghraib. Um manual para desfazer personalidades, para a regressão total de personalidades. (...) McGill realizou parte dos seus experimentos fora dos EUA, porque assim considerava melhor a CIA.

Em Montreal?

Sim. McGill em Montreal. Na época então, o chefe de psiquiatria era um individuo chamado Ewen Cameron. Na realidade se tratava de um cidadão estadunidense. Foi anteriormente chefe da Associação de Psiquiatria Estadunidense. Foi para McGill para ser chefe de psiquiatria e para dirigir um hospital chamado de Allan Memorial Hospital, que era um hospital psiquiátrico. Recebeu financiamento da CIA e transformou o Allan Memorial Hospital em um laboratório extraordinário para o que agora consideramos técnicas alternativas de interrogatório. Dopava os seus pacientes com estranhos coquetéis de drogas, como LSD e PCP. Os fazia dormir, uma espécie de estado de coma durante um mês. Colocou alguns dos seus pacientes em uma situação de privação sensorial extrema e a intenção era que perdessem a idéia de espaço e tempo. Ewen Cameron dizia acreditar que a doença mental poderia ser tratada tomando pacientes adultos e reduzindo-os ao estado infantil. (...) Foi esta a idéia que atraiu a atenção da CIA, a de induzir deliberadamente uma regressão extrema.

Você falou do Chile, falemos do Iraque da privatização da guerra no Iraque - O governo iraquiano anulou a licença da companhia de segurança estadunidense Blackwater.

Esta é uma notícia extraordinária. Quero dizer, é a primeira vez que uma dessas firmas mercenárias é realmente considerada responsável. Como escreveu Jeremy Scahill em seu incrível livro ‘Blackwater: The Rise of the [Word´s] Most Powerful Mercenary Army’, o verdadeiro problema é que nunca houve processos. Essas companhias trabalham em uma ‘zona cinzenta’, ou são boy scouts e nada lhes acontecia. (...) Isso significa que se o governo iraquiano realmente expulsar Blackwater do Iraque, poderia ser um fato e tanto para submeter essas companhias à lei e questionar toda premissa de porque até agora se permitiu que se tivesse lugar este nível de privatização e de ilegalidade.

(...) Algo em que eu penso pela pesquisa que eu fiz para o livro No Logo se entrecruza com esta etapa do capitalismo do desastre em que estamos metidos agora. Rumsfeld [ex-Secretário de Defesa de Bush] aproveitou a revolução de percepção das marcas dos anos noventa, na qual a projeção de marcas corporativas – no sentido do que descrevo em No Logo – em que essas companhias deixaram de produzir produtos e anunciaram que já não produziam produtos, mas produziam marcas, produziam imagens e deixam que outros, terceirizados, façam o trabalho sujo de fabricar as coisas. E essa foi a espécie de revolução na sub-contratação e esse foi o paradigma da corporação ‘vazia’.

Rumsfeld se encaixa nessa tradição. E quando se tornou Secretário de Defesa, agiu como age um novo executivo da nova economia que se viu na tarefa de reestruturações radicais. Mas, o que fez foi adotar essa filosofia da revolução no mundo corporativo e aplicá-la à forças-armadas. (...) essencialmente o papel do exército é criar a percepção de marca, é comercializar, é projetar a imagem de força e dominação no globo – porém sub-contratando cada função, da atenção à saúde – administrando a atenção de saúde aos soldados – à construção de bases militares, que já estava acontecendo durante o governo de Clinton, ao papel que Blackwater desempenha e companhias como DynCorp, que como se sabe, destacou Jeremy, participam realmente em combates.

Comente a destruição do Iraque, do ‘Choque e Pavor’, da terapia econômica do choque de Paul Bremer, o choque da tortura, assim como a junção de todas essas coisas no Iraque.

Como já disse, no Chile, vimos esta fórmula do triplo choque. E eu penso que vemos a mesma fórmula do triplo choque no Iraque. Primeiro foi a invasão, a invasão militar de ‘choque e pavor’ – muitas pessoas pensam no tema apenas como se tratasse de um montão de bombas, um montão de mísseis, mas é realmente uma doutrina psicológica que em si é um crime de guerra, porque se diz que na primeira Guerra do Golfo, o objetivo foi atacar a infraestrutura de Sadam, mas sob uma campanha de ‘choque e pavor’, o objetivo é a sociedade em escala maior. È um princípio da doutrina ‘choque e pavor’.

Agora, o ataque de sociedades em escala maior é castigo coletivo, o que constitui crime de guerra. Não é permitido que os exércitos ataquem às sociedades em escala maior, apenas é permitido que ataquem os exércitos. A doutrina é verdadeiramente surpreendente, porque fala de privação sensorial em escala massiva. Fala de cegar, de cortar os sentidos de toda uma população. E o que vimos durante a invasão, o apagão de luzes, o corte de toda a comunicação, o emudecimento dos telefones e logos os saques, que não acredito que façam parte da estratégia, mas imagino que não fazer nada faz parte da estratégia, porque sabemos que houve uma série de advertências que falava em proteger os museus, as bibliotecas e nada se fez. E depois temos a famosa declaração de Donald Rumsfeld quando foi confrontado com este fato: “Essas coisas passam”.

(...) O objetivo, usando a famosa frase do colunista do New York Times, Thomas Friedman, não é o de construir a nação, mas sim “criar a nação”, que é uma idéia extraordinariamente violenta.

Nova Órleans?

Nova Órleans é um exemplo clássico do que eu chamo de doutrina do choque do capitalismo do desastre porque houve um primeiro choque que foi o alagamento da cidade. E como se sabe, não foi um desastre natural. E a grande ironia do caso é que realmente foi um desastre dessa mesma ideologia de que estávamos falando, o abandono sistemático da esfera pública. Eu penso que cada vez mais vamos ver acontecimentos assim. Quando se têm vinte e cinco anos de contínuo abandono da infra-estrutura pública e do esqueleto do Estado – o sistema de transporte, as estradas, os diques. A sociedade de engenheiros civis estadunidense calculou que colocar em condições o esqueleto do Estado custaria 1,5 bilhões de dólares. Portanto, o que temos é uma espécie de tormenta perfeita, na qual o debilitado Estado frágil se entrecruza com um clima cada vez pior, que diria que também faz parte desse mesmo frenesi ideológico em busca de benefícios a curto prazo e crescimento a curto prazo. E quando estes dois entram em coalizão, vem um desastre. É o que ocorreu em Nova Órleans.

O que a mais horrorizou ao pesquisar a doutrina do choque?

Horrorizou-me o fato que se tem por aí muita literatura que eu não sabia que existia e que os economistas a admitem. Uma quantidade de citações de propugnadores da economia de livre-mercado, todos desde Milton Friedman a John Williamson, que é o homem que cunhou a frase ‘Consenso de Washington’, admitindo entre eles, não em público, mas sim entre eles, como em documentos tecnocráticos, que nunca conseguiram impor uma cirurgia radical do livre-mercado se não acontece uma crise em grande escala, ou seja, as mesmas pessoas que propugnam que o mito central da nossa época, que a democracia e o capitalismo caminho juntos, sabe que se trata de uma mentira e o admitem por escrito.

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Cultura do Medo - autor: Barry Glassner

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(Este livro inspirou o Michael Moore a fazer o Tiros em Columbine)

Embora concentrada nas mãos de poucas pessoas, algumas envolvidas diretamente com política, a mídia brasileira é muito semelhante à americana. Por isto, a publicação de CULTURA DO MEDO, de Barry Glassner , foi realmente importante.

O livro prefaciado por Paulo Sérgio Pinheiro é fartamente documentado. Ao fim de cada capítulo o autor indica aos leitores quais foram as fontes consultadas, de maneira que suas conclusões não podem ser consideradas arbitrárias.

Em cada um dos capítulos Barry Glassner se detêm sobre um tema diferente, de maneira a dar um painel bastante completo e variado de todos os principais instrumentos empregados pela mídia americana para amedrontar a população. Consciente ou inconscientemente os jornalistas americanos desviam constantemente a atenção dos leitores e espectadores para assuntos menos relevantes, desviando sua atenção dos problemas reais que podem e devem ser atacados para melhorar as condições de vida da população.

No primeiro capítulo o autor trata dos PERIGOS DUVIDOSOS NO TRÂNSITO E NAS UNIVERSIDADES. O diagnóstico do autor impressionante: “Relativamente a quase todos os temores americanos atuais, em vez de se enfrentar os problemas sociais perturbadores, a discussão publica concentra-se em indivíduos perturbados. Em vez de políticas públicas insanas, os motoristas dementes ocuparam o centro do palco na cobertura relativa ao trânsito. Quando se faia alguma referência aos problemas sérios enfrentados pelos motoristas, esses eram prontamente postos de lado, transformando-se em um falatório sobre motoristas violentos.”

No Brasil já nos acostumamos às narrativas matutinas dos acidentes de trânsito que ocorreram de madrugada ou no começo da manhã. Cada telejornal tem seu próprio helicóptero para mostrar o caos urbano criado pelos acidentes. Quando o acidente tem múltiplas vítimas, os jornais da tarde e da noite repassam as mesmas coberturas. Na grande maioria das vezes ficamos sabendo que os responsáveis foram motoristas que estavam embriagados, dormiram ao volante ou violaram leis de trânsito.

Me parece óbvio que se os motoristas estavam embriagados é porque puderam comprar bebidas livremente, inclusive na estrada. Entretanto, nunca vi um só jornalista brasileiro perguntar ao dono de uma grande cervejaria se ele apoiaria a proibição de venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina. E os donos de redes de distribuição de combustível e bebidas em postos, o que tem a dizer sobre o assunto? Nada enquanto não forem questionados pela mídia.

O silencio da mídia em relação a esta questão pode ser creditada à cumplicidade. A mídia não toca no assunto porque ele não interessa aos políticos, que por sua vez não o consideram importante porque recebem dinheiro dos empresários do setor para permitir que os negócios possam fluir. Ao fluir, os negócios rendem gordas propaganda que são abocanhadas pela própria mídia. E assim a tragédia social se perpetua em benefício de alguns.

Porque os motoristas brasileiros dormem ao volante? Porque gostam de dirigir com sono ou porque são obrigados a realizar jornadas de trabalho estafantes em razão de ganharem pouco? Os donos de transportadores devem ter alguma coisa a dizer sobre o assunto, mas nunca foram questionados ao vivo por qualquer rede de televisão ou jornal de circulação estadual ou nacional.

Seguindo o exemplo do jornalismo americano, o jornalismo brasileiro parece que prefere concentrar-se na tragédia e culpar o motorista. E todo dia um novo motorista culpado se torna peça chave nos jornais matutinos. É realmente lamentável.

Barry Glassner afirma que os “... pseudo-superegos representam novas oportunidades de evitar problemas que não queremos enfrentar, tais como ruas superlotadas e superabundância de armas, assim como aqueles que já cansamos de confrontar. Um exemplo do ultimo caso envolve o ato de dirigir embriagado, comportamento que causa cerca de 85 vezes mais mortes do que ocorrências associadas à fúria no trânsito (cerca de 17 mil contra 200).”

Há algum tempo a imprensa brasileira notabilizou um caso de fúria no trânsito ocorrida na cidade São Paulo envolvendo um motorista que, se não em engano, atropelou um motoqueiro e fugiu causando estragos até ser detido pela polícia. A cobertura desmedida dado a este evento isolado demonstra como nossos escribas estão sempre à procura de imitar seus colegas norte-americanos.

No segundo capítulo, o autor se concentra sobre a CRIMINALIDADE NO NOTICIÁRIO. Logo no princípio do capítulo ele adverte que “...temos que ter preocupações com a criminalidade, o consumo de drogas, o abuso de crianças e outras calamidades. A questão é: como nos atrapalhamos tanto sobre a verdadeira natureza e extensão desses problemas?”

Há pelo menos dez anos o jornalismo “pinga sangue” ou “risca faca” tomou conta do horário nobre de algumas emissoras de televisão. Alguns
apresentadores de televisão se notabilizaram explorando a tragédia e alimentando o medo da população. Cenas de perseguições em favelas, tiroteios em praça pública, cidadãos alvejados e algemados se tornaram tão comuns que a população é levada a crer que existe um bandido atrás de cada poste. O problema é que nem todos os bairros têm postes de luz e muitos dos que têm estão no escuro por causa de luminárias quebradas ou apagadas. Mas todos os dias a televisão repassa a mesma ladainha de desgraças e nenhum jornalista pergunta: o que pode ser feito para melhorar as condições de vida da população na periferia?

Barry Glassner explica esta falta de curiosidade jornalística. Segundo ele “...os jornalistas se vangloriam de ser desconfiados em relação às informações que recebem. O jornalista adirão “usa seu ceticismo como um cavaleiro medieval usava sua armadura”, disse Shelby Coffey, diretora da ABC News e ex-editora do Los Angeles Times. No entanto, quando se trata de uma grande história de crime, um jornalista se comporta como o garoto mais certinho do colegial para quem a garota mais popular da escola pediu ajuda em seu projeto de ciências. Grato pela oportunidade, ele não se preocupa em fazer muitas perguntas.”

Curiosamente, muitos jornalistas brasileiros também não tem o hábito de perguntar. E quando perguntam, quase sempre desviam o foco do problema real concentrando-se no efeito.

Como os americanos, nós brasileiros também tivemos nossos padres pedófilos. A cobertura dada pela mídia brasileira a questão foi muito similar à americana, cujos desdobramentos podíamos até ver concomitantemente em nossos jornais noturnos. “O ensaísta político Walter Russel Mead mostrou que o enfoque da mídia causou um desserviço mais sutil. Ao fazer reportagens sobre padres pervertidos, os jornalistas acreditam que estão suscitando uma questão mais ampla sobre o colapso moral de uma das instituições espirituais mais antigas e influentes da humanidade. No entanto, como Mead assinala, a atenção obsessiva dedicada aos padres pedófilos obscurece problemas mais graves existentes na Igreja. Em particular, ele cita a corrupção em partidos políticos europeus apoiados pela Igreja...”

Durante toda a cobertura feita sobre a crise do “valerioduto” nenhum telejornal brasileiro fez a menor menção sobre as ligações do PT com a
Igreja Católica. Entretanto, as ligações entre do partido de Lula e a Igreja são históricas. O ex-Presidente da Câmara petista envolvido no “valerioduto” saiu de uma Comunidade Eclesial de Base. Após ser eleito, o próprio Lula agradeceu pessoalmente aos votos conseguidos no púlpito aos bispos reunidos no interior de São Paulo. Até que ponto a corrupção do PT tem alguma relação com a corrupção na Igreja Católica no Brasil? Esta pergunta jamais foi feita, certamente porque no Brasil questionar a Igreja é tabu. Mas porque diabos é tabu? Então não vivemos num Estado laico em que os cidadãos têm liberdade de consciência e a imprensa é livre?

O livro de Barry Glassner tem nove capítulos, que tratam desde juventude em risco e mãos monstruosas até doenças metafóricas e acidentes aéreos. Negros e tráfico de drogas também foram abordados.

Ao tratar do problema das drogas, por exemplo, o cientista social alerta para o fato de que o uso de drogas legais é socialmente mais relevante que o tráfico de entorpecentes. Segundo ele mais “...americanos usam drogas
lícitas por razões não-médicas do que usam cocaína ou heroína; centenas de milhões de indiciamentos são usados de modo ilícito todos os anos. Mais da metade das pessoas que morrem por problemas médicos associados a drogas ou buscam tratamento para esses problemas estão consumindo medicamentos vendidos com receita. A própria American Medical Association estima que um entre 20 médicos seja completamente negligente na prescrição de medicamentos, e, de acordo com a Drug Enforcement Agency (DEA), no mínimo 15 mil médicos vendem receitas ilegais. No entanto, menos de 1% do orçamento relativo ao combate às drogas destina-se ao controle do uso abusivo de medicamentos vendidos com receita.”

No Brasil o problema também existe, mas pouco ou nenhum interesse desperta na mídia. O uso de “rebites” por motoristas de caminhão é notório. Mesmo assim, nenhum laboratório que fabrica os medicamentos vulgarmente denominados “rebites” é encurralado pelos jornalistas. Em geral os noticiários lamentam a destruição da carga, os transtornos na auto-estrada e a morte do cidadão que dormiu ao volante.

Conheci um caminhoneiro que sofreu danos neurológicos sérios e incuráveis em razão de ter abusado de “rebites” para poder sustentar sua família. Nenhum jornalista se interessou por sua estranha doença que o obrigava a andar com um bilhete no bolso contendo nome, endereço e telefone. Ele apagava em qualquer lugar e às vezes permanecia desacordado por dois ou três dias. Acabou afastado do trabalho porque estava incapacitado para dirigir. Encontrei-o num Shopping de Osasco no final de 2004, estava bastante chateado porque não o benefício previdenciário não lhe permitia pagar os estudos dos filhos. Hoje seus filhos são órfãos porque ele morreu aos cinqüenta e poucos anos de idade

A venda de medicação vencida, o desperdício de estoques de medicamentos públicos e a comercialização de remédio pirata tem espaço garantido nos telejornais. O abuso de prescrição ou a venda de receitas por médicos parecem não estimular indagação jornalística. Vez por outra um caso de automedicação chama a atenção. A venda indiscriminada de medicamentos parece não interessar a ninguém. O silêncio da mídia certamente pode ser creditado à cota de propaganda que as redes de farmácia e os laboratórios farmacêuticos atribuem aos canais de televisão. Quanto dinheiro está envolvido nisto? Nenhum jornalista sabe e se sabe não está disposto a relevar a informação.

A questão da venda indiscriminada de remédios e receitas parece não interessar aos jornalistas. Então deveriam interessar os políticos, certo?
Errado! Barry Glassner é enfático ao frisar que “...a dependência dos políticos em relação à indústria farmacêutica para o levantamento de fundos para campanhas eleitorais e a dependência da imprensa em relação à mesma indústria para receitas publicitárias têm algo a ver com aquelas formas de consumo abusivo que eles deploram.” E no Brasil, quanto dinheiro os laboratórios e redes de farmácias dão aos políticos? Quem sabe um dia se faça uma CPI do “remedioduto”, antes disto o assunto continuará um mistério tremendo.

Adquiri uma edição de 2003 da obra resenhada num sebo, por isto não sei dizer quanto custa o livro novo. Entretanto, qualquer que seja o preço do mesmo seu valor é inestimável. A obra merece ser lida por jornalistas e, principalmente, por leitores. Afinal, mais do que os jornalistas os leitores são vítimas desta cultura do medo que também está sendo imposta aos brasileiros pela mídia em cumplicidade com os políticos.

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"A melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar" - autor: Greg Palast

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Resenha: Argemiro Ferreira, na Tribuna da Imprensa

Finalmente uma editora brasileira, a excelente W11, lança a tradução do livro "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar", do americano Greg Palast. Se dependesse desse jornalista vulcânico, dono de biografia fascinante, o desfecho da eleição de 2000 seria outro. Além de provar o roubo de votos na Flórida que elegeu Bush, ele descobriu ainda que a equipe de Al Gore fez tudo errado.

Houve referências antes, nesta coluna, a Palast e seu livro, que se tornou "best-seller" nos EUA por uma razão simples: conta a verdade que a "mainstream press", aí chamada de grande imprensa, dos jornalões e impérios de mídia, escondia ou tinha o cuidado de disfarçar. Palast tem também seu website, que recomendo, onde estão textos e reportagens de TV só veiculados em Londres: www.gregpalast.com

Esse é o fato insólito, que depõe contra a mídia dos EUA: muita gente pensa que Palast é um inglês maluco obstinado em difamar Bush e os EUA. Nada disso. É bem americano. Só que a grande mídia daqui, parte de impérios envolvidos até em produção de armas, odeia o estilo insolente dele, a denunciar crimes da globalização econômica, fraudes das corporações e mentiras usadas para fabricar a guerra do Iraque.

Da escola de Chicago para o jornal

A história pessoal de Palast ajuda a explicar o estilo. Ele nasceu no lado nordeste do San Fernando Valley, parte deteriorada de Los Angeles. O pai vendia móveis, a mãe trabalhava na cafeteria da escola. Cresceu entre uma usina de energia e um depósito de lixo. Como a maioria daqueles de origem semelhante, não teve como fugir da luta no Vietnã. Tinha outras prioridades, mas não sobrenomes como Bush e Cheney.

Para ele, a guerra teve uma vantagem. Como sobreviveu, faturou benefícios dados a veteranos. Pôde fazer curso universitário. Seu MBA (administração de empresas) foi na Universidade de Chicago, do oráculo do conservadorismo, Milton Friedman, inspirador dos excessos neoliberais de Thatcher e seu discípulo Reagan. A escola de Chicago permitiu que ele visse melhor o outro lado daquilo que se ensina ali.

Ainda na universidade, traiu as teorias de Friedman: ligou-se a sindicatos, aos quais servia em missões secretas, de investigação. Descobriu verdades que as corporações (e seus executivos ladrões) escondem e os líderes sindicais tentam a todo custo provar. Com isso desenvolveu a vocação para a reportagem investigativa. Fazia artigos de opinião em jornais e dava pistas e idéias a jornalistas para reportagens.

Frustrado com o mau aproveitamento, devido à inépcia ou pouco apetite da mídia pela controvérsia, Palast resolveu tornar-se jornalista - e em tempo integral. Para ele, o jornalismo da grande mídia burocratizou-se. Acomodados e sem a inquietação e o ceticismo que aguçam a curiosidade e geram o questionamento, os repórteres acostumaram-se a repetir "releases" ou reproduzir o que ouvem em coletivas.

O expurgo étnico que elegeu Bush

Nesse quadro pouco inspirado, jornalistas deixaram de perceber as questões críticas da eleição da Flórida - que tão pouco interessaram os editores, nas redações. A mídia se autolimitava, cobrindo superficialmente, sem imaginação ou ousadia, o dia-a-dia da crise pós-eleitoral. Palast ousou fazer as perguntas inconvenientes, mas pertinentes. E devassou a realidade chocante, escondida dos americanos. Como fazia reportagens para a BBC e jornais de Londres ("Observer", "Guardian"), pôde desmascarar a fraude.

A obsessão de Al Gore e dos jornais americanos era recontar votos de condados específicos, garimpar algumas centenas e tirar a diferença de 537 dada ao mano pelo governador Jeb Bush. Mas Palast foi ao veio maior: descobriu que Gore fora garfado não em centenas, mas em milhares de votos (uns 60 mil).

O conluio de Jeb Bush com a secretária de Estado Katherine Harris (co-presidente da campanha presidencial de Bush) e a empresa ChoicePoint-DBT, com a ajudazinha do estado do Texas, montara gigantesca operação eletrônica de expurgo étnico antes da eleição. 90% dos eleitores negros e de áreas pobres votavam em Gore. A operação diabólica expurgou em massa esses eleitores das listas de votantes. Eletronicamente.

Os crimes e fraudes da globalização

Por que a gente de Al Gore nada fez? Em primeiro lugar, sua campanha arrogante ignorou as denúncias por virem de negros tidos como suspeitos de terem cumprido pena. Palast foi atrás dos dados reais e achou provas da safadeza. Provas que foram vistas pelos ingleses no "Observer" e na BBC. Os americanos só ficaram sabendo muito depois, quando "The Nation" e "Harper's" publicaram reportagens dele.

Também Michael Moore falou do assunto em "Estúpido homem branco". Chocado com a descoberta de Palast, publicou os dados no seu livro. Os dois autores acabariam juntos na lista de "best-sellers" do "New York Times", mostrando que o leitor americano quer conhecer aquilo que sua mídia esconde. Espero que estejam de novo juntos também na lista dos livros mais vendidos no Brasil.

Até porque a fraude eleitoral da Flórida é apenas um dos capítulos de "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar". Até os escândalos de FHC estão lá. O subtítulo do livro na edição popular dos EUA, da Plume-Penguin, é "Um repórter investigativo expõe a verdade sobre a globalização, os ladrões corporativos e os fraudadores da alta finança". Faltou citar a quadrilha do FMI, Banco Mundial e BID, a serviço do Tesouro americano.

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"Quem Pagou a Conta: A CIA na Guerra Fria da Cultura" - autora: Frances Stonor Saunders


Blog Pedro Ayres


Nunca engoli essa história de Fernando Henrique exilado. Não me passava pela cabeça que um filho de um graduado militar do exército (General) viesse a ser exilado. Exilado para o Chile, onde outra ditadura militar governava? Porque não teve o destino dos outros exilados, tal como: Cuba, União Soviética etc? Isto sempre me cheirou mal. Hoje tenho absoluta convicção que ele sempre esteve a serviço de interesses outros que não os do Brasil. Vou providenciar a compra imediata desse livro, com certeza.

É SEMPRE BOM LEMBRAR O QUE FEZ O FHC NA PRESIDÊNCIA!!!

FHC enterrou o sonho de todo brasileiro da minha geração. O "maior estadista do mundo" foi apenas, e tão somente, leiloeiro do Brasil no pós guerra fria, o cara que entregou o controle de nossa economia ao Império Anglo-saxão.

DEVEMOS LER ESTE LIVRO!!!

OBRA DE UMA PESQUISADORA INGLESA

Abaixo, informe do jornal Correio do Brasil sobre um livro recém editado por uma pesquisadora inglesa que abre algumas caixas pretas das ligações entre o alto tucanato e a CIA.

LIVRO BOMBA ACUSA FHC DE RECEBER MILHÕES DE DÓLARES DA CIA !

Mal chegou às livrarias e "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura" já se transformou na gazua que os adversários dos tucanos e neoliberais de todos os matizes mais desejavam. Em mensagens distribuída, neste domingo, pela internet, já é possível perceber o ambiente de enfrentamento que precede as eleições deste ano. A obra da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editada no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro), ao mesmo tempo em que pergunta, responde: Quem "pagava a conta" era a CIA, a mesma fonte que financiou os US$ 145 mil iniciais para a tentativa de dominação cultural e ideológica do Brasil, assim como os milhões de dólares que os procederam, todos entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do país no período de 1994 a 2002.
O comentário sobre o livro consta na coluna do jornalista Sebastião Nery, na edição deste sábado do diário carioca Tribuna da Imprensa.
"Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas: "Consistente e fascinante" (The Washington Post). "Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA" (Spectator). "Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente" (The Times).

DINHEIRO DA CIA PARA FHC

"Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap". Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O "inverno do ano de 1969" era fevereiro de 69.

FUNDAÇÃO FORD

Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos. E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.

AGENTE DA CIA

Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro "Dependência e desenvolvimento na América Latina", em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos. Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma "personalidade internacional" e passou a dar "aulas" e fazer "conferências" em universidades norte-americanas e européias. Era "um homem da Fundação Ford". E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.

MILHÕES DE DÓLARES

1 - "A Fundação Farfield era uma fundação da CIA... As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos... permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas" (pág. 153).

2 - "O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça..." (pág. 152). "A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria" (pág. 443).

3 - "A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares... Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos... com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos" (pág. 147).

FHC FACINHO

4 - "Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante" (pág. 123).

5 - "Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil" (pág. 119).

6 - "A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana" (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.

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"Estados fracassados - O abuso do poder e o ataque à democracia" - autor: Noam Chomsky




Reiteradamente, os Estados Unidos têm afirmado o seu direito de intervir militarmente contra os “Estados fracassados” de todo o mundo. Nesta tão esperada continuação de seu bestseller internacional O Império Americano, Noam Chomsky vira o jogo, mostrando como os Estados Unidos possuem, eles próprios, as mesmas características de outros Estados fracassados — tornando-se uma ameaça crescente para seu povo e o mundo inteiro.

Estados fracassados, diz Chomsky, são aqueles que não têm capacidade de “proteger seus cidadãos da violência, e até da destruição” e que “se consideram fora do alcance das leis nacionais e internacionais”. Ainda que formalmente democráticos, observa Chomsky, os Estados fracassados padecem de graves “déficits de democracia” que esvaziam suas instituições democráticas de real conteúdo. Examinando os mais recentes desenvolvimentos da política externa e interna dos Estados Unidos, Chomsky revela os planos de Washington para militarizar o planeta inteiro, aumentando enormemente os riscos de uma guerra nuclear; avalia as perigosas conseqüências da ocupação do Iraque, que provocou a indignação mundial com os Estados Unidos; documenta a auto-isenção de Washington em face das normas internacionais, dentre elas a Carta das Nações Unidas e a Convenção de Genebra, bases do direito internacional contemporâneo, e o Protocolo de Kioto; e examina como o sistema eleitoral norte-americano está concebido para eliminar alternativas políticas autênticas, impedindo por completo a democracia substantiva.

Vigoroso, lúcido e meticulosamente documentado, Estados Fracassados contém uma ampla análise da superpotência global que há muito reivindica o direito de reformar outras nações — derrubando governos que considera ilegítimos, invadindo países que julga ameaçarem seus interesses, impondo sanções contra regimes aos quais se opõe — enquanto as suas próprias instituições democráticas vivem uma grave crise e suas políticas e práticas colocam o mundo perigosamente à beira da catástrofe nuclear e ambiental. Desmantelando sistematicamente a pretensão norte-americana de ser o árbitro da democracia no mundo, Chomsky consegue realizar, em Estados Fracassados, a mais bem focada — e urgente — de suas críticas.

Tradução Pedro Jorgensen Jr.

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"Colapso" - Jared Diamond


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COLAPSO
Jared Diamond
Editora Record, 2005


Neste livro, Jared Diamond usa lições dos desastres ambientais do passado como alerta para os perigos que ameaçam a sobrevivência dos seres humanos

O geógrafo Jared Diamond é uma rara combinação de cientista e bom contador de histórias.

Graças a essas duas virtudes, é capaz de transformar assuntos sérios e complicados, porém relevantes, em textos atraentes, de fácil compreensão mesmo para leitores não familiarizados com o tema.

“Colapse: how societies choose to fail ou succeed ” é o segundo bestseller de Diamond (*). O primeiro, “Guns, Germs and Steel”, ganhou o prestigiado Prêmio Pulitzer, nos Estados Unidos. A receita é semelhante. Ambos misturam ciência, pesquisa histórica e experiências pessoais do autor para explicar alguns dos aspectos mais fascinantes da história da civilização.

Em “Guns, Germs and Steel”, Diamond fazia uma radiografia das raízes dos seres humanos para demonstrar como a combinação de clima e recursos naturais havia contribuído decisivamente para o surgimento e a prosperidade das grandes civilizações.

Por essa teoria, a geografia somada à disponibilidade de determinados recursos, como animais facilmente domesticáveis, tinham sido fundamentais para que alguns povos se desenvolvessem e triunfassem sobre outros menos favorecidos.

Em “Colapso”, ele dá um passo adiante ao tirar lições do passado como alerta para os riscos de um colapso ambiental no futuro do planeta.

Neste livro, com o uso de descobertas científicas em disciplinas tão diferentes quanto a zoologia, sismologia, botânica, história das religiões e física nuclear, Diamond investiga o lado dos derrotados: por que algumas grandes civilizações, que tinham tudo para dar certo, fracassaram ou desapareceram enquanto outras prosperaram? Um exemplo é o destino misterioso da sociedade primitiva que colonizou a Ilha de Páscoa.

Além dos gigantescos menires de pedra que até hoje assombram os turistas, nada mais restou dessa antiga civilização polinésia.

Destino semelhante tiveram os maias, na América Central, e os vikings, no norte da Europa. Por que, depois de florescer de forma tão exuberante num determinado período, todas essas civilizações sumiram do mapa deixando para trás apenas ruínas de suas construções?

Uma primeira conclusão é que o futuro de todos os grupamentos humanos primitivos sempre dependeu da forma como encararam ou enfrentaram os desastres ambientais que os aguardavam.

O planeta Terra, observa Diamond, é um ambiente altamente mutável, no qual o sucesso e a continuidade da vida estão intimamente associados à sua capacidade de se adaptar às mudanças.

Sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram mais bem sucedidas ao se antecipar às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguir sobreviver à elas.

Povos que, ao contrário, exploraram em excesso esses recursos, movidos pela necessidade ou pela imprevidência, traçaram o caminho do próprio fracasso.

É o que Diamond chama de “eco-suicídio”, ou seja, a incapacidade de entender a fragilidade do meio ambiente combinada com a ganância que leva a exploração dos recursos naturais muito além do limite sustentável.

Rano Raraku

Um caso exemplar é o dos polinésios da Ilha de Páscoa. Plantada no meio do Oceano Pacífico, essa ilha vulcânica, descoberta em 1722 pelo explorador holandês Jacob Roggeveen, é uma dos pontos mais remotos do planeta.

A terra mais próxima pelo leste é a costa do Chile, situada a 4.100 quilômetros de distância. A oeste, são as Ilhas de Pitcairn, separadas por mais 2.400 quilômetros de mar.

A ilha é conhecida pelas centenas de estátuas gigantescas de pedra com feições humanas, que há séculos miram o oceano de forma enigmática.

Algumas pesam mais de 270 toneladas. A existência desses monumentos rochosos indicam que nessa ilha um dia floresceu uma civilização criativa e ambiciosa, mas quando os europeus lá chegaram tudo que viram pela frente foi um povo empobrecido sobrevivendo a duras penas da agricultura rudimentar num solo pedregoso em acelerado processo de desertificação.

Ao passar por ali em 1774, o explorador britânico James Cook descreveu os habitantes como “pequenos, esquálidos, tímidos e miseráveis”.

O que aconteceu? A explicação de Diamond: os moradores da Ilha de Páscoa exageraram na exploração dos seus recursos ambientais. Quando os primeiros seres humanos ali chegaram, por volta do século nono da Era Cristã, a ilha era coberta por um densa floresta tropical, repleta de aves e animais, mas o desmatamento sem controle para uso agrícola e exploração da madeira rapidamente transformaram a região num deserto.

A extinção das espécies nativas inviabilizou a caça e a coleta de frutos. Para complicar a situação, o oceano em volta era pobre em peixes e frutos do mar, devido à ausência de corais.

O resultado óbvio foi que, em pouco tempo já não havia recursos para alimentar a população, estimada em cerca de 30 000 habitantes no seu auge. A chegada dos europeus, portadores de doenças como varíola e sarampo, foi uma contribuição adicional e decisiva para o desastre.

“Não existe exemplo mais clamoroso de sociedade que destruiu a si própria explorando além da conta seus recursos naturais”, escreve Diamond.

Ao investigar essa e outras histórias semelhantes de civilizações fracassadas, Diamond identifica alguns padrões de erro, como o crescimento populacional descontrolado e a exploração excessiva da caça, pesca e outros recursos naturais - todos problemas agravados por fatores como secas, invernos rigorosos, convulsões políticas ou guerras civis.

Ciclos de desmatamento excessivo deram lugar à erosão do solo e à fome decorrente do desaparecimento de animais e espécies vegetais usadas na alimentação, seguida da decadência de toda uma civilização.

Natureza e seres humanos, afirma Diamond, estão ligados para sempre por laços indissolúveis. O futuro de um dependerá sempre do outro.

A diferença agora é que nunca antes os problemas foram tão graves e em escala tão gigantesca. Enquanto as civilizações antigas enfrentaram problemas locais ou regionais, desta vez a humanidade inteira encontra-se diante do desafio de salvar o planeta. Não é mais apenas um povo ou uma nação ameaçada, mas todos os seres humanos.

“O paralelo entre o destino da Ilha de Páscoa e o mundo moderno é absurdamente óbvio”, afirma o autor.

“Graças à globalização, ao comércio internacional, aos aviões a jato e à Internet, todos os países do mundo hoje compartilham os mesmos recursos finitos.

A Ilha de Páscoa era um lugar isolado no Oceano Pacífico, tanto quanto a Terra é um planeta solitário na imensidão do universo. Quando os habitantes polinésios da ilha se viram em dificuldade, não havia para onde fugir, da mesma forma como nós, seres humanos atuais, não teremos para onde ir caso os problemas atuais continuem a se agravar até o limite do desastre”.

O autor fornece uma lista de doze desafios para a humanidade hoje:

1. Destruição dos habitats naturais
2. Pesca exagerada nos rios e oceanos
3. Redução na diversidade biológica
4. Empobrecimento do solo
5. Crise do petróleo e falta de recursos fósseis capazes de fornecer energia para uma população crescente
6. Dramática redução nos estoques de água potável
7. Redução da energia solar devido às mudanças climáticas
8. Contaminação do solo por resíduos tóxicos
9. Invasão dos antigos habitats naturais por pragas e espécies alienígenas
10. Atividade humana exagerada
11. Super-população do planeta
12. Aumento no impacto per-capita sobre os recursos naturais

Apesar do tom pessimista, Jared Diamond encerra seu livro com uma nota positiva: de todas as sociedades que, ao longo da História, contemplaram o colapso, apenas a nossa tem a oportunidade de aprender com o passado.

O problema é que, dependendo de como essas lições forem estudadas e aplicadas, talvez não haja mais ninguém para contar essa história no futuro - como fez Diamond.

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"Alfabetização ecológica - A educação das crianças para um mundo sustentável"

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A obra reúne vários artigos e ensaios sobre o interessante trabalho realizado pelo Centro do Eco-Alfabetização, em Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos

por Dante Grecco

É fato que o planeta passa por uma grave crise ambiental. E, de certa forma, não é errado dizer que esse caos foi causado por nós, seres humanos, principalmente nos últimos 100 anos. É isso que mostram os números do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). Sendo assim, é preciso pensar no futuro e fazer com que as novas gerações não repitam os erros das anteriores. Mas como atingir as novas gerações? Simples: revolucionar a educação.

De certa forma é isso que pretende fazer o Centro de Eco-Alfabetização, localizado em Berkeley, na Califórnia. Fortemente inspirado nas idéias de um de seus fundadores, o físico austríaco Fritjof Capra (autor de vários livros de sucesso, como o Tao da Física, o Ponto de Mutação e A Teia da Vida - Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos), o Centro vai além da educação ecológica como disciplina. Sua proposta é bem mais ampla. "Temos que visar uma transformação mais profunda no conteúdo, no processo e no alcance da educação em todos os níveis", descreve David W. Orr, professor de estudos ambientais, responsável pelo prólogo da obra.

O livro não oferece leitura fácil e está muito alicerçado em experiências realizadas nos Estados Unidos, que, como se sabe, guarda muitas diferenças em relação ao Brasil, principalmente na área de educação. Mas, mesmo assim, a obra pode ser de grande valia para educadores e ambientalistas em busca de boas idéias sobre como embasar novas formas de "alfabetização ecológica".

O livro reúne 26 artigos e ensaios de vários autores, principalmente ambientalistas, biólogos e pedagogos. O próprio Capra assina alguns dos textos. Segundo ele, "pode-se criar sociedades sustentáveis seguindo o modelo dos ecossistemas da natureza. E para entendermos os princípios organizacionais que os ecossistemas desenvolveram ao longo de milhões de anos, temos que conhecer os princípios básicos da ecologia - a linguagem da natureza". Para Capra, "a estrutura conceitual mais apropriada para se entender a ecologia hoje é a teoria dos sistemas vivos, que continua sendo desenvolvida e cujas raízes incluem a biologia organísmica, a psicologia gestalt, a teoria geral dos sistemas e a teoria da complexidade (ou dinâmica não linear)".

Além de muitas idéias e teorias como essa, o livro também brinda o leitor com várias experiências bem-sucedidas de parceiros do Centro de Eco-Alfabetização. Uma delas ganhou o nome de "Pátio Escolar Comestível". "Entender como o alimento parte da semente e chega até a mesa requer algum conhecimento dos processos naturais básicos, como circulação de energia, ciclos dos nutrientes, como a decomposição de um organismo torna-se alimento de outro. Também requer um entendimento da relação entre os sistemas educacionais, agrícolas, sócio-econômicos e políticos", descreve um dos autores. Em outra iniciativa alunos foram a campo tentar recuperar córregos em fazendas com a intenção de aprender sobre como as espécies em um ecossistema se interagem e, ao mesmo tempo, ajudar na preservação do camarão de água doce, ameaçado de extinção na Califórnia. Também é interessante a experiência em que vários alunos plantaram mudas de salgueiros e depois descobriram a importância dessas árvores para o ambiente local.

Talvez a iniciativa mais impactante para algumas crianças norte-americanas tenha sido o estudo de meio realizado em lavouras sustentáveis, quando puderam conhecer de perto as origens do alimento e as pessoas que o cultivam. "A maior parte de nossa sociedade não sabe mais o que é arrancar uma cenoura da terra ou comer uma melancia ainda quente com o calor do sol ou mastigar vagens tão secas que derretem na boca", escreve um dos autores do livro. O que não é verdade apenas nos Estados Unidos.

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E por hoje deu! Depois dou mais dicas!
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