sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mudança climática empurra altiplano boliviano para a pobreza

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Mudança climática empurra altiplano boliviano para a pobreza

Por Franz Chávez, da IPS


O rápido desaparecimento de geleiras e o consequente esgotamento das fontes de água empurram para a pobreza os povos andinos e obrigam a criar consciência sobre a mudança climática, afirmaram especialistas bolivianos à IPS. Um aumento da temperatura determina perda de neve e gelo na cordilheira dos Andes, disse a responsável pela área de mudança climática da filial boliviana da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), Carmen Capriles. Ela conversou com a IPS durante uma visita à Chacaltaya, montanha a 30 quilômetros de La Paz cujo pico superior fica a 5.530 metros acima do nível do mar.

Chacaltaya é uma amostra de “geleira morta”. Até 10 anos atrás, tinha uma massa de gelo e neve que transformavam essa montanha na pista de esqui mais alta do mundo e que era sua grande atração, segundo os incentivadores do capítulo boliviano do movimento internacional Ação Climática 350. Esta organização reclama medidas urgentes para deter as emissões de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa.

Durante todo o ano a montanha exibe apenas sua imagem cônica de rocha. Mas, no último final de semana uma tempestade de neve acompanhada de baixas temperaturas e fortes ventos saudaram a visita de uma centena de surpresos ativistas. “É um milagre do céu”, exclamou o presidente do Círculo de Jornalistas de Turismo da Bolívia, Jorge Amonzabel, defensor do meio ambiente a praticante de esqui.

Cerca de 20 organizações somaram-se à Ação Climática 350, que reclama limite para a concentração de dióxido de carbono na atmosfera em 350 partes por milhão, que será discutido em dezembro na Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15) que acontecerá em Copenhague no mês de dezembro. A alegria pela neve que cobriu rapidamente o telhado do único abrigo e pelos flocos passando livres e velozes sobre os rostos e as roupas misturou-se com certa tristeza, porque essa imagem não será habitual durante o resto do ano.

Uma tempestade de neve na primavera boliviana é incomum e pode ser atribuída à desordem climática, disse Amonzabel, que observava preocupado o que em outros tempos foi uma natural pista de esqui agora convertida em uma inclinação de rocha e terra. A Bolívia é um país altamente vulnerável às mudanças climáticas, sociais e econômicas globais, disse Capriles.

A segurança alimentar dos povos do altiplano boliviano está seriamente ameaçada porque a seca reduz a colheita de tubérculos, grão e pasto para o gado, enquanto a falta de períodos de baixa temperatura impede o processo de desidratação e conservação da batata, produto básico para temporadas de escassez, afirmou. Capriles recordou que, tradicionalmente, as famílias que vivem da agricultura de subsistência em zonas rurais vendiam seu excedente de alimentos e, com dinheiro obtido, tinham acesso a bens e serviços necessários. Mas agora são obrigados a vender o pouco que colhem e ficam sem comida.

A psicóloga Daniela Leytón, coordenadora de gênero da Ação Climática 350 para a América Latina, considerou que os bolivianos, mais do que se limitarem a ser espectadores do aquecimento, podem “ser ativos em um país vulnerável por seus altos índices de pobreza e onde são observados efeitos físicos como o derretimento das neves da montanha Chacaltaya. Temos a oportunidade de nos mobilizarmos e canalizarmos nossas demandas de maneira efetiva”. Leytón afirmou que as mulheres suportam os efeitos da mudança climática por seus papeis e pelas condições de discriminação e pobreza que as afetam de maneira desproporcional. Por isso – disse – participa de um movimento que, além de defender os direitos femininos, reclama do mundo uma ação para a conservação da natureza.

As mulheres das zonas baixas da Bolívia sabem com antecedência que entre os meses de janeiro e fevereiro são obrigadas, por causa das inundações, a abandonar suas casas e assentar-se em espaços não necessariamente adequados para sobreviver. A psicóloga destacou a criatividade das chefes de família, que combatem a desnutrição buscando alimentos ricos em proteínas produzidos em tendas solares e empregando método de cozimento também solar, de modo que também evitam o consumo de combustíveis contaminantes.

Carmen Capriles disse que Chacaltaya não sofreu apenas o aumento da temperatura, mas também o impacto da extração de gelo para seu uso em frigoríficos e geladeiras da vizinha cidade de El Alto. O aumento da temperatura também contribuiu para o uso de tetos de zinco, que refletem e multiplicam os raios do sol, explicou a ativista. O engenheiro Luis Tórrez, especialista em mudança climática e desenvolvimento humano, considerou que o uso de combustíveis fósseis continuará no mundo por muitos anos, e diante deste cenário recomendou redesenhar as casas para adaptá-las a eventos como tempestades e deslizamentos.

Publicado por IPS/Envolverde.



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