"Nas próximas horas as duas partes firmarão um acordo", disse na noite desta quinta-feira (29) o advogado Rasel Tomé, representante do presidente de Honduras, Miguel Zelaya, no diálogo com o golpista Roberto Micheletti. A negociação, que parecia morta há oito dias, moveu-se. Micheletti agora aceita a proposta de Zelaya, de uma solução que passe pelo Parlamento. O que mudou? Os Estados Unidos resolveram se mexer.
EUA entram em campo em Honduras e Micheletti já aceita acordo
A diplomacia americana, após três meses de dubiedades, enviou a Tegucigalpa o seu subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon. Este desembarcou na capital hondurenha na quarta-feira, acompanhado por seu adjunto, Craig Kelly, e pelo assessor da Casa Blanca para a América Latina, Dan Restrepo. O secretário da OEA (Organização de Estados Americanos) para assintos políticos, Víctor Rico, também participou da missão.
Shannon: "O tempo está acabando"
O homem do Departamento de Estado reuniu-se pessoalmente, a portas fechadas, com Micheletti, e com Zelaya, este na embaixada brasileira onde este está abrigado desde que retornou ao seu país, em 21 de setembro. E desta vez, finalmente, a diplomacia de Washington tinha algo a dizer, a julgar pelas declarações do seu enviado.
O subsecretário disse que "o tempo está acabando". E agregou: "só temos um mês antes das eleições de 29 de novembro. Então, do ponto de vista dos Estados Unidos e da comunidade internacional, necessitamos de um acordo o mais rápido possível."
O emissário ianque asseverou que "não estamos aqui para impor nada". E agregou: "Estamos aqui para mostrar interesse e, do modo que pudermos, ajudar os negociadores e líderes políticos a chegar a um acordo, que é necessário não só para Honduras mas para a comunidade internacional".
No entanto, deixou claro que o tempo das tergiversações acabara. "A solução está na mesa. O acordo está feito. Não é questão de redação, não é questão de propostas, é questão de vontade política", declarou Shannon.
Micheletti e a voz do dono
Parece que o enviado do Departamento de Estado teve virtudes persuasórias que faltaram aos secretários-gerais da OEA e da ONU. Quem sabe foi o fato de 70% do comércio externo de Honduras ser com os EUA, ou a base militar que o Pentágono mantém no país, ou os insistentes rumores de participação estadunidense desde os preparativos do golpe de 28 de junho, ou simplesmente o atavismo que faz as oligarquias centro-americanas identificarem em Washington a voz do dono.
Sejam quais tenham sido os argumentos, o regime golpista recuou. Ainda nesta quinta-feira, anunciava que levaria o Brasil à Corte Internacional de Justiça, em Haia, por ter dado abrigo a Zelaya – como se Haia fosse aceitar uma representação de um a ditadura que não é reconhecida por nenhum país do mundo. Ao mesmo tempo, forças policiais e militares reprimiam com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo centenas de manifestantes da Resistência, deixando vários feridos.
Mas logo em seguida Micheletti cedeu. Sua representante nas negociações que pareciam mortas, Vilma Morales, anunciou que o governante golpista aceitava que a solução da crise fosse encaminhada através do Congresso Nacional, e não da Corte Suprema, como o ditador insistira desde o início do diálogo.
"Aceitamos ir ao Congresso. Aceitamos que esta pretensão é um direito de Zelaya", disse Vilma.
Prudência no campo zelayista
Shannon e sua missão resolveram adiar seu retorno aos EUA, de quinta para sexta-feira, "para apoiar o diálogo". O acordo, que deve ser assinado antes de sua partida, deve incluir o retorno de Zelaya à presidência, para conduzir as eleições e empossar seu sucessor.
A reação no campo zelayista foi de otimismo moderado e prudente. Tomé disse que caberá à OEA enviar ao Congresso o acordo a ser firmado. Lembrou, porém, que "em caso positivo terão que anular o decreto de 28 de junho que aceitou a destituição de Zelaya".
"Entendemos que se abre a possibilidade de alcançar uma solução", disse ainda Tomé. "Veremos se o regime golpista aceita chegar a uma solução democrática ou se dará uma nova bofetada no mundo", agregou.
Mais tarde, o próprio Zelaya avaliou que "estamos no ponto em que começamos, com 95% de avanço". Assinalou que, "pelo menos, aceitou-se que o Congresso Nacional é a instância correta para o fim deste processo". Mas recordou que "ainda não se conhece a vontade do senhor Micheletti Bain quanto a aprovar o que se está discutindo".
Micheletti permaneceu silencioso. No último dia 14, os seus negociadores e os de Zelaya chegaram a um consenso, mas ele disse não. A diferença é que agora Shannon está em Tegucigalpa, dizendo que "o tempo está acabando" e "o acordo está feito". É possível portanto que dessa vez não haja bofetada.
Da redação, com agências
Fonte: Portal Vermelho
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