terça-feira, 27 de outubro de 2009

JORNALISMO ECONÔMICO

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A euforia está de volta

Por Luciano Martins Costa

Os jornais de terça-feira (27/10) descarregam uma onda de otimismo sobre o leitor nas seções de economia e negócios e ao mesmo tempo lhe tiram as esperanças nas editorias de política e de problemas nacionais.

Títulos no alto das páginas anunciam que a confiança da indústria supera os melhores momentos do período anterior à crise financeira de 2008. Os investimentos produtivos voltaram, as encomendas do comércio se multiplicam e as vendas de grandes eletrodomésticos cresceram 35% entre maio e outubro, com o incentivo da redução de imposto.

O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores do Brasil, acumula alta de mais de 120% nos últimos 12 meses e, mesmo com a taxação de investimentos estrangeiros, não dá sinais de perder fôlego.

Esse Brasil de sonhos poderá chegar a 2016, ano das Olimpíadas no Rio de Janeiro, como o dono do 5º maior Produto Interno Bruto do mundo. Ao mesmo tempo, poderá estar amargando alguns dos piores indicadores de desenvolvimento social de todo o planeta.

Cenas de violência

Nas mesmas edições em que celebra as conquistas econômicas, a imprensa brasileira registra o fato de que 33% dos casos de trabalho degradante ou análogo à escravidão são flagrados na região Sudeste, a mais desenvolvida do país. Além disso, as autoridades e representantes dos agronegócios não se entendem quanto ao conceito de terra produtiva, que pode influenciar a eficácia das medidas de proteção ambiental.

Poucas páginas adiante, os jornais anotam que a Câmara dos Deputados conduz a votação da lei que trata do Fundo Nacional e outras normas da política brasileira para as mudanças climáticas sem levar em conta muitas advertências de especialistas.

Nos cadernos de questões metropolitanas, prossegue a repercussão das cenas de violência que têm atingido o Rio de Janeiro e discute-se a criação de penas mais rigorosas para grandes traficantes.

Patrimônio ambiental

Lido de uma forma transversal, esse noticiário é uma lição prática para quem procura entender o conceito de desenvolvimento sustentável. Porque o que os jornais trazem é o oposto, o retrato do crescimento econômico sem sustentabilidade.

Pressionados pelo mercado, que celebra a recuperação econômica, os protagonistas da cena pública tendem a deixar de lado as questões estruturais que mantêm o Brasil preso a indicadores sociais africanos e dificultam a criação de políticas inteligentes para conciliar crescimento com preservação do patrimônio ambiental.

E a imprensa parece estar embarcando alegremente na euforia geral.

Fonte: Observatório da Imprensa

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