quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A mídia em debate: Herzog e as palestras em Brasilia

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por Rodrigo Vianna


A semana começou agitada para este escrevinhador. Na segunda-feira, subi ao palco do TUCA (histórico teatro paulistano) para receber - ao lado de valorosa equipe do Jornal da Record - menção honrosa, no prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos.

A menção foi por duas reportagens especiais, sobre os "30 anos da Anistia" no Brasil.

Considero o Herzog o principal prêmio jornalístico do Brasil. Ao contrário de muitos outros, não oferece dinheiro, nem qualquer outra vantagem para os vencedores. Quem ganha leva pra casa a estatueta com o perfil de Vladimir Herzog (foto), desenhada por Elifas Andreato. Simplicidade e tradição.

Trata-se de um prêmio com peso político, porque lembra a história do jornalista, que foi assassinado pela ditadura brasileira. Muitos dos agraciados sobem ao palco e fazem aquele agradecimento compreesível à família, aos chefes, aos colegas... É natural. Todos se emocionam, e querem dividir a emoção com os amigos, com aqueles que ajudaram a chegar até ali.

Mas eu entendo (será que sou chato demais?) que o Herzog deve ter sempre um tom político, na melhor acepção da palavra. Foi por isso que, ao agradecer a menção honrosa, em nome da equipe do Jornal da Record, fiz questão de lembrar: "receber um prêmio como este, por uma materia que lembra os 30 anos da anistia, tem um sabor especial neste ano, em que um importante jornal de São Paulo chamou a ditadura de ditabranda".

A referência, pra quem não sabe, era ao jornal "Folha de S. Paulo". O diário teve a cara de pau de chamar a ditadura de "ditabranda", em editorial.

Fiquei duplamente feliz: pelo prêmio, e por ter soltado a voz contra aqueles que querem "revisar" a história de um período lamentável para o nosso país. Humildemente, dei o meu recado.

Fiquei mais feliz ainda com a belíssima homenagem prestada - durante a cerimônia - a um grande jornalista: Fernando Pacheco Jordão. Com sérios problemas de saúde, ele subiu de cadeira de rodas ao palco. Foi aplaudido de pé, durante 5 minutos. Fernando dá seu nome ao "Prêmio Jovem Jornalista" - que, paralelamente ao Herzog, premia as pautas de estudante de jornalismo. Os escolhidos ganham a chance de desenvover essas pautas, sob tutoria de um jornalista veterano. Ótima idéia!

Fernando Pacheco Jordão era grande amigo de Herzog, companheiro dele na TV Cultura, e um dos responsáveis por manter viva a memória do colega assassinado.

A semana, portanto, começou com fortes emoções. E prosseguiu com muito trabalho. Na terça-feira, gravei em São Paulo, depois peguei o avião para o Rio. Nesta quarta, tenho mais gravações pela Record, no Rio. E quinta, ufa, já estarei em Brasília, para participar de um debate sobre a chamada "blogosfera".

Trata-se, na verdade, de um ciclo de palestras. Na segunda, Paulo Henrique Amorim deu se recado. Na terça, foi a vez do Azenha. Nesta quarta, Nassif é o convidado. Tenho a honra de juntar-me a esse time seleto na quinta. E, na sexta, o Marco Aurelio Weisshemer, do blog RS Urgente, encerra a semana de debates.

O ciclo de palestras será gratuito e realizado no auditório principal do IESB, no Campus Edson Machado, na Asa Sul, em Brasília, das 19h às 21h30, e é uma iniciativa da própria instituição, em parceria com a Escola Livre de Jornalismo.

O objetivo é estimular estudantes de comunicação e jornalistas a debater os rumos da chamada grande imprensa e a conhecer o pensamento crítico de alguns blogueiros.

O tema ainda não ganhou as ruas. Na verdade, está muito longe disso. Mas, em 20 anos de profissão, nunca vi tanta gente interessada em debater o futuro (?) da mídia.

Estou razoavelmente otimista. Sem a internet, seria impossível ter respondido à infâmia da "Folha" e sua "ditabranda". Sem a internet, seria impossível mobilizar tanta gente pra debater a comunicação no Brasil.

Já é um avanço.

Fonte: O Escrevinhador

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