::
por Leonardo Sakamoto
O governo federal agiu e conseguiu derrubar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), formada por deputados federais e senadores, que investigariam supostas irregularidades no repasse de recursos públicos ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Como 42 deputados retiraram suas assinaturas de apoio, ficaram faltando três para a instalação da CPMI. O MST havia denunciado que a iniciativa era uma represália às pressões do movimento pela revisão dos índices de produtividade.
Passaram raiva o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), propositores da CPMI, que ficaram a ver navios. Segundo o Blog do Noblat, Onyx reclamou dos “ruralistas melancia”, que assinam o requerimento de criação da comissão e, pressionados pelo governo, murcham. Bem, melhor estes do que os “ruralistas peroba”. Mas aí já é outra história.
Interessante a indignação dos nobres parlamentares, que não vieram a público nas centenas de vezes em que grandes empresas e fazendeiros, que receberam recursos públicos do BNDES, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, entre outros, estiveram envolvidos direta ou indiretamente com a morte de trabalhadores rurais, sindicalistas e missionários, com a contaminação e destruição do meio ambiente, o trabalho escravo e o infantil, a expulsão de comunidades tradicionais de suas terras, a grilagem de terras, a corrupção de políticos e de funcionários públicos. Será que é pelo fato de que, no Brasil, dois pesos e duas medidas, para ricos e pobres, é uma regra de ouro?
Por exemplo, há dados públicos que comprovam que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural e o Serviço de Aprendizagem do Cooperativismo, entidades patronais, receberam juntas mais de R$ 1,1 bi entre 2000 e 2006. O problema é que, entre os seus gastos, havia o pagamento do presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) – dinheiro que deveria ser gasto em aprendizagem de trabalhadores.
Qualquer mau uso de dinheiro público tem que ser apurado, seja quem for o autor. A sacanagem é usar o caso como chantagem ou justificativa para recomeçar uma caça às bruxas, semelhante ao que se tentou fazer na CPI da Terra anos atrás. Fazem parecer que os recursos repassados a entidades sociais no campo são usados para fazer orgias, ignorando o desenvolvimento em educação e tecnologia rurais obtidos em pequenas comunidades com esses investimentos nos últimos anos. E ignorando que sem a pressão dos movimentos sociais, o pouco de reforma agrária que ocorreu nem teria sido realizada.
Fonte: Blog do Sakamoto
::
Nenhum comentário:
Postar um comentário