sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Werneck: Eleição de 2010 não muda hegemonia

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Eleição de 2010 não mudará hegemonia do agronegócio, bancos e indústria, diz Werneck Vianna


por Gilberto Costa*, na Agência Brasil
Enviado Especial



Caxambu (MG) - A um ano das eleições presidenciais de 2010, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), não vê grandes diferenças entre os projetos dos principais pré-candidatos que estão se apresentando para a disputa. Para ele, não há muitas razões para se esperar de mudanças profundas a partir de 2011.

Considerado um dos principais analistas políticos no meio acadêmico do Brasil, Werneck fez a abertura nesta semana da reunião anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que ocorre em Caxambu (MG). Ele concedeu uma entrevista exclusiva à Agência Brasil.

Agência Brasil: Qual será a agenda política da campanha eleitoral e dos próximos anos?
Luiz Werneck Vianna: O tema do desenvolvimento será uma questão forte. A mobilização do Estado como indutor desse desenvolvimento certamente será discutida por Dilma [Rousseff], [José] Serra e Ciro [Gomes], mas não deverá ser discutida na agenda de Marina [Silva]. Isso não é um tema de Marina. Ela é uma candidatura interessante, pode vir a crescer, provavelmente não terá condições de vitória, mas poderá interferir na agenda dos outros. A sua presença na disputa faz com que já pese mais a questão ambiental. Com ela, o tema da ética na política aparece com mais força e isso deve contaminar também a agenda dos candidatos. A candidatura de Marina, mesmo que não esteja destinada a cumprir uma trajetória brilhante, irá exercer uma certa influência sobre as demais. Quanto ao Ciro, é difícil falar. Sobretudo é difícil diferenciar o Ciro das candidaturas da Dilma e do Serra. Os três têm o perfil muito semelhante. Serra e Dilma ainda mais semelhante. São executivos, pessoas treinadas na administração, vocacionadas para esse tipo de mando. O território deles não é propriamente o da política e das eleições, como o de Lula é. O presidente é um animal político, assim como Fernando Henrique Cardoso também é. Mas esse não é o caso nem da Dilma nem do Serra, que construíram suas pré-candidaturas como bons administradores. A eleição vai ser uma obra de químicos especializados em campanhas.

ABr: Vai ser uma campanha sisuda e menos emocional?
Werneck Vianna: Acho que sim. A entrada da Marina e do Ciro atenua um pouco isso. Só com Serra e Dilma, seria uma coisa muito monocórdica, os mesmos temas, os mesmos discursos, sem mudar a inflexão.

ABr: É possível distingui-los ideologicamente com nitidez? O governador José Serra diz estar hoje à esquerda do PT.
Werneck Vianna: O Serra tem uma história na esquerda, sem dúvida: foi presidente da UNE [União Nacional dos Estudantes], foi da Ação Popular, mas depois ele foi estabelecendo aliança com os poderosos de São Paulo, da indústria e das finanças. Como a Dilma será candidata da situação e tem os poderosos também na coalizão governamental , inclusive em posição de mando político como ministros, as diferenças não vão se estabelecer por aí. O esforço todo do presidente Lula vai ser comunicar quem é sua candidata e tentar transferir o seu prestígio eleitoral. Essa não é uma operação fácil de fazer, mas é o que ele irá fazer e pode ter sucesso nisso. Não podemos esquecer que ainda tem uma questão embaraçosa no PSDB: se é Serra ou se é Aécio. Isso ainda não foi definido. Não dá para prever nada. Uma coisa é fazer o retrato, a outra será quando isso entrar em movimento. Quem sabe se o Ciro vai cometer mais um destempero verbal na televisão? Quem sabe se um acidente ambiental não possa tornar a candidatura de Marina mais popular e mais visível? Há tantos imponderáveis nessas lutas.

ABr: Teremos, então, a agenda que já está aí.
Werneck Vianna: Sem dúvida. A expansão brasileira, a projeção da economia do país no mercado interno e no mercado externo é monopólio de um grupelho, dos poderosos do agronegócio, das finanças, da grande indústria. Esses é que estão com as cordas. Quando se falava da questão nacional das décadas de 1950 e 1960, se falava da questão do nacional-popular, havia tensão entre o nacional e o popular. Havia luta pela hegemonia na condução da questão nacional. Hoje, a questão nacional está posta sem que o tema da hegemonia seja debatido. A hegemonia é desses grandes potentados. É claro que tudo isso extraordinariamente manobrado de maneira inteligente, ardilosa e sutil pelo presidente Lula, que tem capacidade de empregar todos no mesmo governo, impondo condições. Por exemplo, impõe ao agronegócio a questão ambiental e o convívio com a agricultura familiar. O Lula tem demonstrado uma enorme capacidade de harmonizar contrários e de que a obra desses contrários seja vista como a serviço da nação na sua totalidade. Isso não se faz por muito tempo, nem se consegue criar a ilusão em todos de que aquilo que está sendo feito fundamentalmente para atender alguns esteja atendendo a todos.

ABr: O senhor diz que o PT declinou do papel de herói providencial e se adaptou às circunstâncias. Mas há mudanças, como a subida de 30 milhões de pessoas a um novo patamar de consumo, não?
Werneck Vianna: Sem dúvida, e é uma outra questão. De fato, esse governo foi muito dedicado ao enfrentamento da questão social, mas em determinados limites. Essa harmonização entre os contrários, realizada pelo Lula, é obra que não persistirá no tempo, inclusive porque o tempo do Lula acabou e a Dilma não é vocacionada para realizar isso. O meu ponto principal não é esse, mas de que o desenvolvimento e a questão nacional estão sendo pensados de forma tecnocrática, vertical, de modo assimétrico em relação à vontade da sociedade. A sociedade civil está desmobilizada, e os movimentos sociais foram cooptados. Esse é meu ponto. É político, não é uma questão técnica ou de economia. Os movimentos sociais foram todos trazidos para dentro do Estado.

ABr: O senhor fala da linha de continuidade entre o governo Lula e FHC e de um “abraço” de Lula em Getúlio Vargas. Com quem o governo atual guarda mais coincidências?

Werneck Vianna: Um pouco de cada coisa. Ele foi trazendo tudo para si. O que eu digo é que o repertório da história brasileira, da tradição da República brasileira, foi sendo selecionado e incorporado pelo governo acriticamente. A questão nacional é importante, mas isoladamente, sem a chave democrática e popular, ela pode ser uma questão perigosa. Ela fortalece um Estado isolado da sociedade, uma burguesia dominante e dominadora, a sociedade conhecendo apenas uma vontade. Esse é que é o ponto.

*O repórter viaja a convite da Anpocs

Edição: Enio Vieira

Fonte: Agência Brasil

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Um comentário:

Anônimo disse...

SANTA QUITÉRIA: ALUNO É RECEBIDO COM GROSSERIA POR CIRO GOMES(WWW.santaquiterianoticias.com)
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Os alunos do terceiro ano - técnico em informática de Santa Quitéria, que estão estagiando em diversas empresas da cidade de Santa Quitéria ainda não receberam nenhuma mensalidade prometida pelo governador Cid Gomes e pela secretaria de Educação Izolda Cela. O valor do estágio segundo informações, que foi prometido era de R$ 289,00, sendo R$250 de estágio e R$39 de vale-transporte. Já fazem mais de dois meses de estágio e não receberam ainda nenhuma mensalidade.
Segundo nossas informações, um aluno da escola ao abordar o deputado Ciro Gomes, que é irmão de Cid Gomes, candidato ao governo do Estado para a reeleição, sobre o não-pagamento do estágio, foi recebido com as seguintes palavras: Me poupe desta sua história, me poupe... sou professor de direito e vocês só vão receber quando terminar o ensino médio.
Algumas pessoas que presenciaram a cena se mostraram indignadas com a maneira áspera e grosseira, que Ciro Gomes tratou o estudante que só estava cobrando seu direito legítimo.
Além deste aluno, outras pessoas que procuraram conversar com ciro foram muito mal recebidas por Ciro, que se mostrava muito grosseiro.
Aqui pra nós:
- Será que Ciro esqueceu quantos votos tirou em Santa Quitéria na última eleição e por aqui nada fazer em 4 anos de mandatos e ainda por cima mudar seu título para São Paulo?
- Se o governo atrasa o pagamento (e será que vai pagar?) no meio de uma campanha, imaginem do que é capaz de fazer depois de eleito, que segundo as pesquisas a possibilidade é grande.