terça-feira, 13 de outubro de 2009

"Vitória de Obama não muda o mundo", eu avisei!

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por Rodrigo Vianna


A direita republicana está com sangue nos olhos. Partiu pra cima de Obama.

A direita dos EUA chega a afirmar (não é piada, muitos acham isso mesmo) que Obama é um "comunista" infiltrado - porque quer criar um sistema universal de atendimento de saúde.

Contra Obama, a direita republicana usa a "Fox News", usa radialistas de corte fascista, usa todas as armas à disposição. A direita republicana ainda maneja partes importantes do aparato de Estado. Basta ver o que fizeram em Honduras...

A novidade é que lá o presidente reage. Não vou me estender nesse assunto. O Azenha já publicou, nos últimos dias, textos esclarecedores sobre isso. Um deles está aqui - http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/time-a-casa-branca-enfrenta-a-midia/.

Já houve um tempo em que a direita precisava usar capuz nos EUA; de cara limpa, volta às ruas contra Obama

Meu ponto é outro: a nova ofensiva da direita nos EUA não devia surpreender ninguém.

Uma das coisas mais chatas do mundo é bancar aquele tio sabichão e dizer "eu já tinha avisado"!

Mas o fato é que escrevi sobre isso no dia seguinte à vitória de Obama. Parecia-me evidente que a vitória de Obama era só uma vitória "liberal", na esteira da catastrófica presidência de Bush. Nada mais que isso.

O que me surpreendeu foi a euforia das pessoas (aqui no Brasil!) com a vitória de Obama. Não combinava com os números da eleição. Não foi uma vitória avassaladora. Foi uma vitória apertada no voto popular: 55% a 45%.

Ou seja, depois de Bush enterrar os EUA na crise, na guerra e na lama, os republicanos ainda tiveram quase metade dos votos.

Sei que nos EUA as eleições são sempre assim: democratas ou republicanos ganham sempre por pouco. Mas a última eleição foi diferente: os EUA estavam (e estão) quebrados, desmoralizados por Bush. Mesmo assim, a direita manteve-se forte.

Bem, escrevi sobre isso tudo aqui, em 5 de novembro de 2008 - http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/vitoria-de-obama-nao-muda-o-mundo.

Confiram um trecho:

"O conservadorismo republicano está mais vivo que nunca.
Vai se reagrupar.
A direita religiosa, os intervencionistas, os imperialistas, os racistas, a horda de bárbaros que levou Bush ao poder segue firme.
Despreza o que o mundo possa pensar, desconfia dos negros, dos latinos, e vai partir pra cima de Obama assim que se passarem os cem dias tradicionais de trégua no início de governo.

Mas, isso não é o mais grave. Isso é problema deles!

O que interessa a nós é que a máquina de guerra dos Estados Unidos não vai desaparecer.
O Imperialismo assumirá novas faces. Vem aí, de volta, o "soft power".
Clinton visitou o morro da Mangueira, vocês lembram? Obama também deve passar por lá nos próximos anos. Pode dar um pulo até o Haiti, um giro pela África, bater um papo com o Fidel...

Não acredito que a vitória de Obama abra uma nova fase na história mundial.

O Capitalismo não muda porque um negro chegou à presidência dos EUA.
O Capitalismo segue em crise. Os "red necks", que formam a base republicana na América profunda e que votaram de forma esmagadora em McCain, vão perder seus empregos com a crise que seguirá imensa. Mas, não botarão a culpa no legado de Bush. Vão pra cima de Obama, cobrando que ele "Salve a América".

Obama não poderá salvar os Estados Unidos de seus prórprios erros..."

Volto eu nesse outubro de 2009...

Quero deixar claro que não acho que Obama ou Bush são a mesma coisa. Não são. Mas achar que a vitória do primeiro presidente negro pudesse significar uma "virada" na história dos EUA era (como é) no mínimo ingenuidade.

Virada foi a Revolução Francesa, virada foi a Revolução de 1917 na Rússia.

Marcantes também (muito mais do que a vitória de Obama) foram a vitória do Exército Vermelho contra Hitler, ou a derrota dos EUA no Vietnã.

Até a "Revolução de 30" (guardadas as devidas proporções) significou mais para o Brasil do que a vitória de Obama para os EUA.

Obama é só um presidente liberal. Como Carter, pode acabar encurralado, e desmoralizado, pela direita dos EUA. E, aí, o que virá depois pode ser ainda mais tenebroso do que o governo pré-fascista de Bush.

Obama já percebeu que precisa resistir. Obama não vai tentar salvar o mandato fazendo aliança com um Sarney dos EUA. Lá não tem disso não. É pau a pau. Casa Branca contra Fox. Tomara que os fascistas não ganhem. Mas todos sabemos que nos momentos de crise é que o lado mais sombrio de cada sociedade aparece com força.

Foi o que se passou na Europa depois da crise de 29. O governo Obama pode ser apenas um outono liberal, antes do inverno fascista. Tomara que meu faro esteja errado. Tomara.

Fonte: O Escrevinhador

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