segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Qual a receita para garantir lucro durante a crise?

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por Leonardo Sakamoto


O corte de postos de trabalho nos Estados Unidos melhorou a taxa de lucro das companhias. Ou seja, economizou-se em empregos, investimentos, pesquisas para garantir o retorno dos empreendimentos. OK, estamos falando da sociedade norte-americana, portanto, era de se esperar que ações para a segurança do capital sejam mais importantes que bem-estar do trabalhador. Mas não deixa de ser triste que o índice Índice Dow Jones tenha aumentado 53%, desde março (quando atingiu o fundo do poço), enquanto o número de pobres continue crescendo (estima-se em 42 milhões de pessoas). Essas informações sobre as demissões turbinando os lucros estão em matéria de Fernando Canzian, deste domingo na Folha de S. Paulo.

Segundo o texto, as receitas empresarias continuam baixas ou deprimidas, mas os lucros crescem, em muito por conta do corte da mão-de-obra. Conta básica: economia do custo trabalho tende a gerar aumento de lucro. Mas também sobrecarga de serviço para quem fica, depreciação da qualidade de vida da classe trabalhadora, e por aí vai.

O Citibank, por exemplo, demitiu 52 mil pessoas neste ano e teve lucro de US$ 101 milhões no trimestre passado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, as empresas dos EUA cortaram 45% mais empregos que as empresas européias e 63% mais que as asiáticas.

No Brasil, vale lembrar o que ocorreu com a Vale: “Eu tenho conversado com o presidente Lula no sentido de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas. Seria algo temporário, para ajudar a ganhar tempo enquanto essa fase difícil não passa.” A frase é do presidente da Vale, Roger Agnelli, em dezembro de 2008. “Estamos conversando com os sindicatos também. O governo e os sindicatos precisam se convencer da necessidade de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas: suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário.”

Se ela lutasse para sobreviver, poderíamos até entender a fala de Agnelli. Mas para uma gigante que teve lucro líquido de R$ 21,279 bilhões em 2008, R$ 20,006 bilhões em 2007 e de R$ 13,431 bilhões em 2006, essa declaração foi um tapa na cara. Reduzir direitos a fim de garantir os lucros dos acionistas. Em janeiro, a empresa anunciou que iria adquirir a operação de minério de ferro da multinacional Rio Tinto, em Corumbá (MS), e outras posições dessa concorrente na Argentina, Canadá e Paraguai, por US$ 1,6 bilhão.

Tanto a Vale quanto muitas empresas norte-americanas nos deram uma aula de capitalismo. As empresas aproveitaram a crise para enxugar o custo trabalho, garantindo o lucro dos acionistas onde ele estava mais em risco. Algumas também aproveitaram a baixa dos preços internacionais causados pela crise para comprar posições no mercado – e se expandir.

“Na dúvida, afoguem o mais fraco!”, gritou alguém sem mostrar a cara. Afinal, para quê lei das selvas em uma selva sem lei?

Fonte: Blog do Sakamoto

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