segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Plano B para salvar a civilização

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Plano B para salvar a civilização

Ricardo Voltolini*, da Revista Idéia Socioambiental


Acabo de viver a rica experiência de editar o Plano B 4.0– Mobilização para Salvar a Civilização, o importante livro de Lester Brown, um dos mais notáveis pensadores mundiais da sustentabilidade.

Fundador do Worldwatch Institute, em 1974, e presidente do Earth Policy Institute desde 2001, Brown ficou conhecido pela série de relatórios “O Estado do Mundo” e também por ser um militante de ideias claras para os grandes desafios ambientais da humanidade. Nesses tempos de aquecimento global, ele tem sido um porta-voz qualificado da transição para uma economia de baixo carbono e interlocutor frequente de líderes políticos em todo o mundo.

Seu Plano B para “salvar a civilização” baseia-se em quatro metas interdependentes: estabilizar o clima e a população, eliminar a pobreza e restaurar os suportes da natureza, como água, solo e ar. Convicto de que é possível mudar, Brown se apoia em um repertório de experiências mundiais bem-sucedidas que podem ser replicadas no esforço necessário e urgente, por exemplo, de reduzir o uso de água para irrigação, melhorar a produtividade do solo para segurança alimentar, planejar cidades mais centradas nos indivíduos, reflorestar áreas degradadas, controlar a natalidade ou incorporar o custo do carbono no preço de produtos.

Brown é um homem de ideias coerentes. Há pelo menos uma década, ele defende que persistir no “business as usual” levará a um aumento no número de estados em falência e a um esgotamento dos recursos naturais, colocando sob ameaça a existência humana na terra.

O modelo econômico baseado no consumo de combustíveis fósseis, no carro como senhor da mobilidade e em produtos descartáveis tem, portanto, os seus dias contados. A nova economia precisará ser erigida em torno de energias renováveis, de sistemas de transporte diversificados e da ideia de reuso e reciclagem de todos os materiais. Alterar a rota é, urgente e, principalmente, viável na medida em que a humanidade dispõe de tecnologia e capacidade política suficientes. Resta saber, no entanto, como sugere o autor no epílogo do livro, se está preparada para fazê-lo “em velocidade de tempos de guerra.”

Na provocativa análise de Brown, as grandes transformações sociais podem ser classificadas em três modelos. Um é o da catástrofe, segundo o qual apenas acontecimentos dolorosos mudam a forma de pensar e agir de uma sociedade. O outro sugere que uma sociedade só se transforma de fato após um longo período de mudanças graduais de pensamento e atitude. E o terceiro prega que a toda mudança importante advém de uma conjugação de grupos de pressão com o respaldo de lideranças políticas.

Muito apregoado pelos cientistas, o primeiro modelo -na visão do autor– apresenta uma clara fragilidade. Esperar por um evento ambiental catastrófico, desses que mobiliza o mundo todo, pode ser tarde demais para solucionar a questão climática. Em entrevista que fiz, há dois anos, Mohan Munasinghe, vice-presidente do IPCC das Nações Unidas, afirmou temer que as pessoas só aprendam a partir de tragédias.

O segundo parece ser, na visão de Brown, um pouco mais interessante. Sua vantagem é a consistência. Para ilustrá-lo, ele lembra o caso do declínio do tabagismo nos Estados Unidos.Três décadas de intenso movimento de oposição ao cigarro, baseado em contra-informação, restrições à publicidade, tributação adicional do produto e uma montanha de multas, amadureceram a sociedade para o tema.

Para o presidente do Earth Policy Institute, o terceiro modelo é o mais eficaz na medida em que permite promover mudanças de forma mais rápida. Em sua defesa, Brown destaca o casamento mais recente do ideário dos movimentos por uma economia de baixo carbono com a agenda do presidente Barack Obama, que culminou, por exemplo, na suspensão da construção de novas usinas movidas a carvão nos EUA.

Botar em ação o Plano B exige, sobretudo, vontade política e um novo modelo mental, não mais preso aos ditames da economia clássica, da visão antiquada de desenvolvimento que aparta a esfera econômica da ambiental e social. Recursos financeiros não são exatamente um obstáculo. Somados os valores das metas sociais e ambientais, consegue-se viabilizar o Plano proposto por Brown a um custo de US$ 187 bilhões por ano. Entre as medidas sociais, estimadas em US$ 77 bilhões, estão educação primária universal, erradicação do analfabetismo, merenda escolar para os 44 países mais pobres, saúde reprodutiva e planejamento familiar, saúde básica universal e disseminação do uso de preservativos. Entre as ambientais, avaliadas em US$ 110 bilhões, incluem-se o plantio de árvores para sequestro de carbono, contenção de enchentes e conservação do solo, proteção da biodiversidade e estabilização dos recursos hídricos. Para se ter uma idéia do que significa esse dinheiro, ele equivale a 13% dos gastos militares feitos por todos os países do mundo para “defender” a humanidade.

Pode haver melhor investimento para defesa da humanidade do que a saúde do planeta?


* Ricardo Voltolini é publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade.


http://www.topblog.com.br/sustentabilidade
http://ww.twitter.com/ricvoltolini
ricardo@ideiasustentavel.com.br

Fonte: Envolverde/Revista Idéia Socioambiental

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