domingo, 4 de outubro de 2009

Os paulistas morrem de inveja do Rio

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por Luiz Carlos Azenha

Essa briga de São Paulo e Rio de Janeiro parecia morta. Parecia. Como é o caso envolvendo duas metrópoles do interior de São Paulo, Bauru e Marília, a disputa entre cariocas e paulistanos é tão latente quanto a que envolve Nova York e Los Angeles, Beira e Maputo, Jales e Votuporanga.

O mau humor paulistano com a escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016 se manifesta de diversas formas. Mas, especialmente com o argumento econômico. Trinta bilhões de reais investidos no Rio seriam, de alguma forma, "concentradores de renda", na medida em que o dinheiro recolhido em todo o Brasil seria destinado a apenas uma área urbana.

Trata-se de uma falácia, do mesmo naipe daquela sobre a qual já escrevi, de que há outras prioridades no Brasil, como a educação pública de qualidade. Ora, o Brasil é suficientemente grande e tem recursos para fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo.

Eu, particularmente, acredito ser essa uma grande oportunidade para o Rio de Janeiro se estabelecer como o grande destino turístico do mundo, o que trará benefícios indiretos a todo o Brasil.

Como vocês sabem, a indústria do turismo é uma das que mais crescem no mundo. E o potencial turístico do Brasil é com certeza um dos menos aproveitados, por falta de infraestrutura e pela associação ao risco. As Olimpíadas podem contribuir para mitigar esses dois problemas, especialmente dois anos depois do país sediar a Copa do Mundo.

Primeiro, pela injeção direta de recursos públicos no Rio de Janeiro e pelo dinamismo que isso dará à economia local. Segundo, porque ao preparar uma cidade para as Olimpíadas você faz obras que terão uma repercussão de longo prazo. Terceiro, porque a mídia gratuita que o Rio de Janeiro terá em todo o mundo de agora até 2016 vale ouro para a cidade e para o Brasil, por conta do turismo. Quarto, porque as Olimpíadas se encaixam perfeitamente na vocação do Rio de Janeiro como uma das grandes capitais turísticas do mundo.

Assim sendo, esses 30 bilhões de reais serão recuperados com lucro a longo prazo.

Acho que o exercício da crítica é obrigação de todos os cidadãos. Sem crítica ninguém se move, ninguém melhora. Mas acho que há exagero dos que querem transformar as Olimpíadas em uma "hecatombe". Não é porque nós, paulistanos da gema ou por adoção, somos obrigados a sofrer todos os dias no trânsito ou com os rios podres que cortam a cidade, temos de condenar o Rio de Janeiro à mesma sina.

As duas cidades sempre tiveram papéis complementares. São Paulo é a melhor cidade do mundo para a gastronomia. E é um centro espetacular de comércio e serviços. O Rio de Janeiro é uma das cidades mais bonitas do mundo, apesar dos problemas sociais gravíssimos que enfrenta (problemas que, em São Paulo, por causa da geografia, ficam distantes do centro).

A elite carioca, fiadora de um sistema de exclusão social, terá a maior oportunidade da história de colocar a cidade no rumo certo. Por tudo o que sei dela, acho que o risco de não dar certo é razoável. O risco de interesses particulares serem colocados à frente de interesses públicos é muito grande, considerando a falta de visão que a elite carioca sempre demonstrou. Nesse particular, as críticas ao projeto olímpico do Rio serão muito importantes, especialmente as que forem feitas de uma perspectiva externa.

Mas dizer que as Olimpíadas desde já serão um fracasso me parece um certo exagero. Tem uma música britânica que me lembra sempre de um certo traço da brasilidade. Ela diz "We hate it when our friends become successful". "Odiamos quando nossos amigos se tornam bem sucedidos". Em outras palavras, a inveja cega.

PS: A grande dificuldade de estrangeiros que vem visitar o Brasil a passeio é a de se deslocar para destinos secundários, como Salvador ou Natal. A construção de uma rede nacional de aeroportos (por conta da Copa do Mundo) e o barateamento do preço das passagens internas (por conta da competição) podem tornar o Brasil uma potência turística nos próximos vinte anos. Mas, como sempre, é preciso pensar a longo prazo e de forma estratégica.

Fonte: Vi o Mundo

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