domingo, 11 de outubro de 2009

Negroponte: Foi o Bush quem fez

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Negroponte: Foi o Bush quem fez

por Luiz Carlos Azenha


Num mundo sério, John Negroponte seria levado aos tribunais como "facilitador" de crimes na América Central. Mas, não estamos em um mundo justo.

Por isso, John Negroponte continua deitando falação. Agora, à Folha, para dizer que Honduras deve "esquecer o passado", eleger o sucessor de Micheletti sob Micheletti e estamos conversados. Como o New York Times denunciou, o governo de Micheletti pagou lobistas nos Estados Unidos para defender suas posições diante do governo Obama. Negroponte não foi citado nominalmente, mas ele foi um dos arquiteto da política de Ronald Reagan para a América Central, que em nome de combater o comunismo promoveu regimes que massacraram movimentos sociais em El Salvador, Honduras e Guatemala.

Na entrevista à Folha, Negroponte avança ponto-de-vista parecido com o do governo Micheletti. "Esquecer o passado" e realizar as eleições. Sem a restituição de Zelaya. Ou seja, Negroponte quer que a gente esqueça essa "bobagem" de golpe, essa "bobagem" de fechar jornais e emissoras de rádio, essa "bobagem" de reprimir os apoiadores de Zelaya.

Negroponte quer "esquecer o passado". Menos quando se trata de George W. Bush. Notem que Negroponte repete um cacoete muito comum no Brasil, quando os apoiadores de FHC dizem que tudo o que Lula fez "começou com FHC".

Fiquem com trechos:

FOLHA - O sr. está otimista quanto a Honduras?

NEGROPONTE - Nunca estou otimista quanto a nada. Quando as pessoas me perguntavam se estou otimista ou pessimista, digo: sou diplomata, não sou uma biruta. Não posso dizer como as coisas vão acabar. Dito isso, é importante que haja um esforço diplomático na crise hondurenha.

Enfatizo a importância de as eleições presidenciais acontecerem tal como o previsto, para que o país e todos nós possamos olhar para frente, não para trás, para ficar procurando quem culpar. Por coincidência, quando eu estava lá, em 1981, tivemos a primeira eleição livre em nove anos. Desde então, a cada quatro anos, há eleição. É importante que isso continue.

[...]

FOLHA - Nos últimos dias, tem havido um frenesi em relação ao Brasil e sua suposta chegada ao palco principal global. O sr. concorda?

NEGROPONTE - Tudo é resultado do processo de se integrar mais à economia global. Isso é bom. Os BRICs são as potências emergentes, com população grande, relativamente jovem, potencial de crescimento grande. Há grandes oportunidades para expansão.

Sou otimista quanto ao futuro do Brasil. E às relações com os EUA. Muitos dizem com razão que esse foi um dos acertos estratégicos de Bush [grifo do Viomundo], de aprofundar essa relação. O Brasil sempre foi grande, mas antes o país não procurava se inserir tanto no mundo. Isso está mudando, e o mundo está reagindo de maneira positiva.

[...]

FOLHA - O que o sr. acha que Obama deveria estar fazendo no Afeganistão e não está?

NEGROPONTE - O ponto é: nós estamos lá, invadimos em 2002, derrubamos o Taleban, era o certo a fazer, mas agora temos responsabilidade de continuar a ajudar o país. Devemos nos concentrar em treinar as forças de segurança afegãs. No Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, uma coisa que sempre começamos a fazer tarde demais é isso. Ficamos tão preocupados no front que não pensamos na estratégia de saída.

Se não podemos ficar para sempre, alguém terá de assumir o papel. Se for aprovado o pedido de mais tropas, é importante que a maioria seja de treinadores, para treinar mais forças afegãs, para que possamos sair. É um enfoque simplista, mas é o que a situação exige agora. Nós fizemos isso no Iraque, mas demorou muito.

FOLHA - Quanto ao Irã, o sr. concorda com a atual política, de diálogo mais sanções?

NEGROPONTE - Não é tão diferente de na época do Bush [novo grifo do Viomundo]. Quer dizer, tínhamos uma precondição: a suspensão do programa nuclear. O Irã é um problema e tem planos para desenvolver uma arma nuclear, escondeu programas nucleares no passado. O problema é que eles estão numa região particularmente volátil.

FOLHA - O sr. defende um ataque militar?

NEGROPONTE - O presidente Bush disse varias vezes [outro grifo do Viomundo] que não tiraria a opção militar da mesa. E o [colunista do "New York Times"] Tom Friedman escreveu uma coluna interessante recentemente sobre isso, dizendo que ele não tiraria também. Mas também dissemos que seria um erro para um país como Israel atacar o programa nuclear iraniano.

Por duas razões: consequências inesperadas; e não é claro que um ataque possa ser efetivo. O programa é mais desenvolvido do que se pensa, não é só um reator num só lugar. É complicado. Então, acho que o jeito é diplomacia neles, e nisso tanto Obama como Bush concordam. Bush não teria problemas com o que Obama [grifo final do Viomundo] vem fazendo. Mas deixe as sanções ao alcance até que haja real progresso, não fique só blablablá...

Para a íntegra, aqui

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O repórter da Folha poderia ter perguntado ao Negroponte se ele acha que Bush cometeu algum "erro". Mas aí seria pedir demais à Folha, não acham?


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Fonte: Vi o Mundo

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John Negroponte merece um Nobel da Paz?

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, John Negroponte ressurge como personagem de uma tela negra de Goya, empenhado em legitimar a truculência, esconjurando a memória histórica por saber que é dela que se elaboram projetos de soberania na América Latina.

Qual a melhor maneira de superar um golpe? Fazer exatamente o que pretendem os seus autores. É dessa forma, na melhor tradição da realpolitik reaganiana, que John Negroponte, subsecretário de Estado no governo George W.Bush, vislumbra a saída para a crise hondurenha. Eleições presidenciais na data programada, sem restituição do presidente deposto Manuel Zelaya, seguindo à risca os planos do líder dos golpistas, Roberto Micheletti.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, edição de domingo, 11 de outubro, Negroponte ressurge como personagem de uma tela negra de Goya, empenhado em legitimar a truculência, esconjurando a memória histórica por saber que é dela que se elaboram projetos de soberania na América Latina. Ao dizer que ”durante o período em que eu estava lá, a democracia foi restaurada", falseia o passado para mascarar o presente.

O que tenta esconder o atual presidente do Americas Society/Council of the Americas, “cuja meta é defender livre comércio, democracia e mercados abertos no continente?" Qual foi o seu real papel na América Central? O exército hondurenho, segundo reconheciam os próprios norte-americanos nos anos 1980, foi treinado e aparelhado pelos Estados Unidos, a fim de ajudar a conter os movimentos de libertação nacional na região.

O projeto político das eleições que os EUA promoveram em El Salvador, em março de 1982, não resolveu a crítica situação da convulsionada nação centro-americana. Ao contrário, serviu para mostrar que crise alguma pode ser resolvida por solução eleitoreira que ignore estruturas injustas de uma sociedade capitalista periférica, que ainda tinha remanescentes feudais. A partir das eleições, a comunidade internacional observou um aumento das violações dos direitos humanos por parte dos aparatos militares e dos bandos paramilitares controlados pelo estado-maior das forças armadas e um incremento no número de refugiados nos países centro-americanos. Operações de extermínio foram levadas a cabo contra as zonas rurais e comunidades camponesas.

Após uma fraca resistência, o ditador da Guatemala, Rios Montt, foi deposto no dia 8 de agosto de 1983. Em seu lugar, subiu o general Oscar Mejia, responsável direto por massacres de populações indígenas no interior do país. A participação estadunidense no golpe foi cristalina. Mejia era criatura do Pentágono e, dias antes de tomar o poder, participou de uma reunião, em Honduras com o general Paulo Gorman, chefe do comando-sul norte-americano no Panamá. Negroponte foi o anfitrião do encontro. Não por acaso Honduras e El Salvador foram os primeiros países a reconhecer o novo governo gualtemateco.

Para a Nicarágua, os planos de Reagan eram de intervenção militar direta. O bloqueio naval ao regime sandinista funcionava a pleno vapor. Um cargueiro soviético, com 842 toneladas de medicamentos e máquinas destinadas à agricultura e à construção de estradas, foi interditado por navios norte-americanos sob a alegação de que carregava armas e helicópteros militares. De Honduras, como recorda Atílio Boron, Negroponte "monitorou pessoalmente as operações terroristas realizadas contra o governo sandinista e promoveu a criação do esquadrão da morte, mais conhecido como o Batalhão 316, que sequestrou, torturou e assassinou centenas de pessoas, enquanto nos seus relatórios para Washington negava que houvesse violações dos direitos humanos nesse país."

Ao diário paulista, John Negroponte é taxativo: "Obviamente, por conta da situação vizinha, nós aumentamos nossa ajuda, não só militar, mas humanitária. Penso que adotamos as políticas certas, que foi justificado o que fizemos, e eu certamente não me arrependo de nada."

A se dar crédito ao diplomata norte-americano, estudaremos a história como se visita um museu de cera. Embevecidos com a fraude disfarçada de arte, mentiremos sobre o passado para continuar mentindo sobre o presente. Esse tem sido o papel da imprensa ao fabricar o que a direita lhe solicita: a nostalgia da barbárie como tempo de boas colheitas.

É para esse imaginário que boa parte da oposição brasileira daria, se pudesse, um Nobel da Paz. Seria uma primeira página perfeita.


*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil



Fonte: Carta Maior

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