sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Heloisa Villela, de Honduras: "Na bica para dar uma guinada"

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Surge a oportunidade de dividir melhor o bolo

por Heloisa Villela - no R7

A situação da população de Honduras muitas vezes surpreende até mesmo quem está acostumado a lidar com conflitos políticos e desigualdades sociais. Foi o que aconteceu com um diplomata cujo nome eu não posso mencionar. Mas ele está na capital, Tegucigalpa, procurando brechas para estabelecer algum tipo de ponte. De diálogo.

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Pois nesta estadia ele se sentou para jantar com um amigo americano. Conversa vai, conversa vem, ele aos poucos foi abrindo o jogo. Ficou sabendo que a Igreja Católica hondurenha, co-partícipe do golpe de estado, anda rezando, e implorando onde encontra ouvido disponível, para que a suspensão de vistos americanos para cidadãos hondurenhos seja revertida. E o quanto antes.

O que acontece? A classe dominante aqui – dizem os hondurenhos que são entre 10 e 12 famílias – tem muitos negócios nos Estados Unidos, passa fins de semana em Miami e gosta de esquiar em Áspen, no Colorado. “Aqui, os coitadinhos não têm neve!”, explicou o diplomata.

Infelizmente, o governo americano andou suspendendo os vistos. E os ricos estão desesperados. Mas a grande reviravolta nisso tudo é a conscientização dos miseráveis hondurenhos. Eles, claro, nunca tiveram e nunca vão conseguir visto para entrar nos Estados Unidos. Se já é difícil, muitas vezes, para a classe média brasileira, imaginem para os operários e camponeses hondurenhos…

Por isso mesmo, eles estão achando lindo, pela primeira vez, de certa forma, estarem em igualdades de condições com os ricos. E mais: a maior fonte de divisas do país são os dólares enviados, dos Estados Unidos, pelos imigrantes que entram no país a pé, cruzando a fronteira com o México, arriscando a vida no calor do deserto e na mira da polícia da fronteira. Pois esta é a realidade: o principal item da pauta de exportações deste país é a gente pobre, que precisa de emprego, e vai para os Estados Unidos juntar alguns dólares. E a vida deles, já sabemos como é: 7 a 10 em um apartamento pequeno. Todos trabalhando o dia inteiro a tempo de chegar em casa para jantar e dormir. E nada de sair à noite para se divertir porque é preciso juntar os dólares e enviar para as famílias, em Honduras.

Na conversa, no restaurante, o americano ainda estava incrédulo. Mas o diplomata se surpreendeu, e se emocionou, quando um garçom pediu desculpas, interrompeu a conversa e fez questão de apertar a mão do diplomata. Ele e vários outros funcionários do restaurante. Eles acabaram ouvindo a conversa. E sabem, ou ao menos esperam, que Honduras, este país da América Central ao qual o Brasil nunca deu muita importância, está na bica de dar uma guinada. Essa pode ser a hora de consolidar algumas mudanças que forcem uma distribuição um pouco menos injusta do bolo.

O diplomata, com os olhos mareados, está na torcida. Mas certeza?! Ah… isso seria pedir muito!

Fonte: R7

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