Surge a oportunidade de dividir melhor o bolo
por Heloisa Villela - no R7
A situação da população de Honduras muitas vezes surpreende até mesmo quem está acostumado a lidar com conflitos políticos e desigualdades sociais. Foi o que aconteceu com um diplomata cujo nome eu não posso mencionar. Mas ele está na capital, Tegucigalpa, procurando brechas para estabelecer algum tipo de ponte. De diálogo.
Pois nesta estadia ele se sentou para jantar com um amigo americano. Conversa vai, conversa vem, ele aos poucos foi abrindo o jogo. Ficou sabendo que a Igreja Católica hondurenha, co-partícipe do golpe de estado, anda rezando, e implorando onde encontra ouvido disponível, para que a suspensão de vistos americanos para cidadãos hondurenhos seja revertida. E o quanto antes.
O que acontece? A classe dominante aqui – dizem os hondurenhos que são entre 10 e 12 famílias – tem muitos negócios nos Estados Unidos, passa fins de semana em Miami e gosta de esquiar em Áspen, no Colorado. “Aqui, os coitadinhos não têm neve!”, explicou o diplomata.
Infelizmente, o governo americano andou suspendendo os vistos. E os ricos estão desesperados. Mas a grande reviravolta nisso tudo é a conscientização dos miseráveis hondurenhos. Eles, claro, nunca tiveram e nunca vão conseguir visto para entrar nos Estados Unidos. Se já é difícil, muitas vezes, para a classe média brasileira, imaginem para os operários e camponeses hondurenhos…
Por isso mesmo, eles estão achando lindo, pela primeira vez, de certa forma, estarem em igualdades de condições com os ricos. E mais: a maior fonte de divisas do país são os dólares enviados, dos Estados Unidos, pelos imigrantes que entram no país a pé, cruzando a fronteira com o México, arriscando a vida no calor do deserto e na mira da polícia da fronteira. Pois esta é a realidade: o principal item da pauta de exportações deste país é a gente pobre, que precisa de emprego, e vai para os Estados Unidos juntar alguns dólares. E a vida deles, já sabemos como é: 7 a 10 em um apartamento pequeno. Todos trabalhando o dia inteiro a tempo de chegar em casa para jantar e dormir. E nada de sair à noite para se divertir porque é preciso juntar os dólares e enviar para as famílias, em Honduras.
Na conversa, no restaurante, o americano ainda estava incrédulo. Mas o diplomata se surpreendeu, e se emocionou, quando um garçom pediu desculpas, interrompeu a conversa e fez questão de apertar a mão do diplomata. Ele e vários outros funcionários do restaurante. Eles acabaram ouvindo a conversa. E sabem, ou ao menos esperam, que Honduras, este país da América Central ao qual o Brasil nunca deu muita importância, está na bica de dar uma guinada. Essa pode ser a hora de consolidar algumas mudanças que forcem uma distribuição um pouco menos injusta do bolo.
O diplomata, com os olhos mareados, está na torcida. Mas certeza?! Ah… isso seria pedir muito!
Fonte: R7
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